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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O supermercado é político

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por Samantha Buglione
Jurista e professora /buglione@antigona.org.br
<professora/buglione@antigona.org.br>


Falar que o "supermercado é político" é dizer que o mais privado dos atos, o de buscar alimento e garantir necessidades primárias, não se encerra na hora de pagar a conta. A escolha do  produto até pode se dar por razões econômicas, busca de qualidade ou, ainda, ideologia. Contudo, ao escolher um produto também se escolhe, querendo ou não, uma forma de produção, um tipo de relação de trabalho, um determinado impacto ambiental. Em suma, comprar algo é trazer para casa, além do produto, a sua cadeia de fabricação e as conseqüências. Ignorar esses fatores é se proteger de dois elmentos do conhecimento: liberdade e responsabilidade.

Dados de recentes pesquisas demonstraram que produtos orgânicos possuem mais nutrientes que os alimentos da produção linear. Ou seja, não é apenas uma questão de quantidade, mas de qualidade. Pode até ser que a agricultura orgânica não produza tanto quanto a linear, mas alimenta mais. O artigo "Comparação da qualidade nutricional de frutas, hortaliças e grãos orgânicos e convencionais" , publicado no "Jornal de Medicina Alternativa" , relata que produtos orgânicos, em média, contêm 29,3% mais magnésio, 27% mais vitamina C, 21% mais ferro, 26% mais cálcio, 11% mais cobre, 42% mais manganês, 9% mais potássio e 15% menos nitratos. Indo mais além, conforme relatório do "Environmental Group", atualmente, ao completar um ano de vida uma criança já recebeu, por conta do consumo de alimentos convencionais, a dosagem máxima aceitável pela Organização Mundial de Saúde de oito pesticidas altamente carcinogênicos para uma vida inteira.

Além das questões nutricionais, alimentos orgânicos e de agricultura familiar contribuem para a empregabilidade no campo. O que evita o êxodo rural, e, por conseqüência, o aumento de favelas em centros urbanos.

Um outro dado importante é que quem produz alimento para o brasileiro não é a produção convencional ou linear ou o agronegócio, mas a agricultura familiar e orgânica. Mais da metade do feijão vem da produção familiar; no caso do arroz, mais de um terço; e, da mandioca, 90%. Essas são algumas informações que demonstram a importância do setor na economia brasileira, um setor responsável por uma média de 10% do produto interno bruto (PIB) nacional, conforme dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
 
E mais, o que realmente alimenta é a produção de grãos, vegetais e hortaliças. A carne de suínos, aves e bovinos não é o alimento mais completo em nutrientes ou que vai estar na mesa de todos os brasileiros. O Brasil é campeão de exportações. E Santa Catarina orgulha-se dos seus números. No entanto, ao exportar a carne produzida por aqui também se exporta a água potável, os milhões de hectares utilizados para alimentar os animais, as florestas queimadas. A única coisa que fica são os resíduos. A Epagri de SC revela que as fezes dos 5,6 milhões de suínos que existem no Estado produzem 9,7 toneladas de dióxido de carbono por dia. Para 1 kg produzido de carne de suíno ou bovino é gerado o equivalente a 8 kg de excremento. Imagine levar tudo isso para casa ao comprar um inocente pacotinho de presunto para o sanduíche? Não levamos. Desde 2005, no Brasil, há mais bois e vacas que homens e mulheres, 200 milhões de bovinos ocupam um espaço três vezes maior do que toda a área cultivada no País e consomem quatro vezes mais água.

Se for uma questão de aumento da riqueza nacional e de estratégia para matar a fome dos brasileiros, a nossa matemática não está bem certa. Afinal, o agronegócio nem emprega tanta gente assim e os custos ambientais com a poluição de rios, solo, mananciais e emissão de metano são revertidos ou para o preço final do produto ou para o Estado, que terá mais gastos com saúde e políticas para despoluição. Aí, quem paga a conta somos todos nós, querendo ou não, sabendo ou não.

Foi-se o tempo em que comprar mandioquinha, feijão ou ovos era só comprar mandioquinha, feijão ou ovos. Quando se leva ovo para casa, o da produção convencional, se está chancelando, incentivando e financiando um processo que trata animais como coisa; que ignora que sentem dor e que possuem uma forma própria de viver a vida. Além de fazê-los viver de forma confinada e sendo alimentados com uma ração que contêm tantos aditivos que os transformam mais em uma pasta química do que em um ser vivo. Nem o peitinho de frango se salva.
 
Ir ao supermercado é fazer política. É fazer escolhas. É dizer que tipo de produção de alimentos queremos e que tipo de empregos queremos financiar. O ato de escolher e comprar o que se vai consumir pode ser silencioso, mas é muito poderoso.

http://www.an. com.br/2007/ out/16/0opi.
jsp<http://www.an.com.br/2007/out/16/0opi.jsp>

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Belo Monte ou Belo Monstro?

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A edição número 7 da revista eletrônica Política Ambiental traz entrevista com o cientista Philip Fearnside, que respondeu a perguntas de sete jornalistas brasileiros a respeito dos impactos socioambientais da obra e de alternativas viáveis para garantir a segurança energética do Brasil sem a construção de Belo Monte

 

Brasília, 17 de janeiro de 2011 - Na iminência da concessão da licença ambiental pelo Ibama da usina de Belo Monte, a Conservação Internacional lança a publicação eletrônica Política Ambiental: A usina de Belo Monte em pauta, na qual jornalistas brasileiros experientes, que atuam em diferentes regiões, entrevistam Philip Fearnside, pesquisador-titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

 

O objetivo da publicação é elucidar os leitores, com base nas perguntas dos jornalistas que refletem os questionamentos de toda a sociedade brasileira, sobre o contexto, as implicações e as controvérsias em torno da construção da usina de Belo Monte, sob os aspectos  econômicos, sociais e ambientais.

 

Para entrevistar Fearnside, a Conservação Internacional convidou os jornalistas André Trigueiro, da Globo News; Bettina Barros, do jornal Valor Econômico; Herton Escobar, do Estado de S. Paulo; Verena Glass, da ONG Repórter Brasil; Manuel Dutra, professor de jornalismo da Universidade Federal do Pará e da Universidade da Amazônia; Ana Ligia Scachetti, diretora de comunicação da Fundação SOS Mata Atlântica; e Hebert Regis de Oliveira, coordenador de comunicação do Instituto de Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável do Oeste da Bahia (Bioeste).

 

'Mentira institucionalizada' - A argumentação científica sólida de Fearnside, um dos cinco pesquisadores brasileiros da área ambiental mais citados internacionalmente e integrante do painel de especialistas que analisou o EIA-Rima de Belo Monte, deixa claro que o projeto analisado pelo Ibama é economicamente inviável.

 

"O projeto oficial – no qual haverá a construção de apenas uma barragem – mostrou-se totalmente inviável economicamente pela análise detalhada feita pela ONG Conservação Estratégica (CSF, da sigla em inglês). Ou seja, a afirmação de que não serão construídas outras barragens a montante de Belo Monte é uma mentira institucionalizada. A lógica leva à construção de barragens rio acima, começando com a Babaquara/Altamira, que ocuparia 6.140 km2, sendo grande parte em terra indígena".

 

Assim como aponta Fearnside na entrevista, a Conservação Internacional (CI-Brasil) acredita que o EIA-Rima realizado pelo Ibama não reflete a realidade dos impactos biológicos e sociais que acontecerão com a construção da usina. A CI-Brasil acredita que o projeto apresentado à sociedade neste momento, além de omitir as barragens a montante que deverão ser necessárias para dar viabilidade econômica à obra, não prevê os impactos da redução dos níveis da água do rio Xingu e do rebaixamento do lençol freático, que podem causar extinção local de espécies, destruição da floresta aluvial e, principalmente, provocar a escassez de pesca, a principal fonte de alimentos para a população indígena da bacia do Xingu, ameaçando a sua sobrevivência.  

 

"A obra terá impactos em um raio de 3 mil km de distância da usina, colocando em risco a segurança alimentar das populações indígenas, o que pode provocar a perda da grande diversidade cultural existente na bacia do Xingu, onde vivem 20 mil índios de 28 etnias que serão direta ou indiretamente afetados", afirma  Paulo Gustavo Prado, diretor de Política Ambiental da CI-Brasil.Outros problemas apontados pela Conservação Internacional e por Fearnside são a pouca credibilidade do processo de consultas públicas e de licenciamento da usina, já que todo o corpo técnico do Ibama se posicionou contra a licença. Além disso, a usina alagará cerca de 50% da área urbana de Altamira e mais de mil imóveis rurais de três municípios, num total de 100 mil hectares, sendo que de 20 a 40 mil pessoas serão desalojadas pela obra.

 

Em Política Ambiental: A usina de Belo Monte em pauta, Fearnside cita uma série de alternativas que poderiam garantir a segurança energética do Brasil para os próximos anos sem a necessidade da construção de Belo Monte. Dentre elas, ele aponta os investimentos em eficiência energética e em fontes limpas de energia, como a solar e a eólica, além de pequenas usinas hidrelétricas como forma de evitar grandes impactos em áreas que, sob os aspectos sociais e ambientais, são inapropriadas para empreendimentos deste porte.

 

Acesse a íntegra da publicação no endereço: http://www.conservacao.org/publicacoes/

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mude o seu jeito de pensar

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10 de janeiro de 2011, às 10h39min

Cuidado com os seus pensamentos, pois eles irão determinar a sua atitude


Cogito, ergo sum é uma conclusão do filósofo e matemático francês René Descartes, que significa penso, logo existo.

Ele quis dizer que o fato de pensar assegura à mente o fato da própria existência psicológica. Em outras palavras, quando ela se dá conta de que está pensando, pode ter certeza de que existe.


Então lembre-se sempre das palavras de Gandhi, "Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas atitudes. Mantenha suas atitudes positivas porque suas atitudes tornam-se seus hábitos. Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores. Mantenha seus valores positivos porque seus valores tornam-se seus destinos".


Tenho observado que a maioria das pessoas se irrita quando algo não ocorre como planejavam ou gostariam. Às vezes isso acontece, mas a vida não precisa ser assim. Nem sempre as coisas correm como aquilo que pretendíamos, mas ficar mal humorado e tratar os outros como se eles fossem os culpados não é o correto!


Por isso se você ainda espera que algo ou alguém o salve de todos os problemas que criou em sua vida, esqueça, ninguém aparecerá para salvá-lo. O trabalho é seu, todo seu. Esse é o grande aprendizado desta era que se inicia.

Cada vez mais vejo as pessoas descarregarem nos outros aquilo que é somente culpa delas.

Isso acontece, pois nossos pensamentos têm papel fundamental na busca da qualidade de vida, diuturnamente, nosso cérebro é bombardeado por pensamentos, positivos e negativos, os quais achamos muitas vezes inofensivos. Até quando dormimos e o corpo está recuperando suas energias, continuamos pensando.


Mas o que fazer com os pensamentos negativos?Muitas pessoas não têm idéia do que fazer com eles, e assim eles permanecem na mente as assombrando. O segredo é substitui-los. Tente sempre substituir imediatamente pensamentos negativos por pensamentos positivos, como o pensamento é criativo, o que quer que acreditemos ser verdade na mente será manifestado ou criado na realidade. Lembre-se tudo começa com um simples pensamento.


Certa vez, Enrico Caruso, o grande tenor, foi assaltado pelo medo do palco. Contou que sua garganta ficou paralisada pelos espasmos causados pelo medo intenso, o qual lhe contraía os músculos da garganta. O suor começou a escorrer copiosamente pelo seu rosto. Estava envergonhado porque em poucos minutos teria de entrar em cena. No entanto, tremia de medo. E pensou: "Vão rir de mim. Não posso cantar". E, então, na presença das outras pessoas que se encontravam nos bastidores, Caruso gritou. "O Pequeno Eu quer estrangular o Grande Eu que há dentro de mim".E acrescentou para o Pequeno Eu: "Afaste-se, pois o Grande Eu quer cantar por meu intermédio", com isso afastou seu medo, estava tudo em sua mente.


Joseph Murphy em seu livro "O Poder do Subconsciente", encontrou uma maneira simples de exemplificar como funciona a mente, consciente e subconsciente. Considere-a como um jardim onde você é o jardineiro que fica plantando sementes (pensamentos) em seu subconsciente o dia inteiro. Na medida em que você semeia em seu subconsciente, terá colheitas em seu corpo, mente consciente e ambiente.


Quais são os seus pensamentos habituais? O que você está semeando em sua mente? Quem planta rosas colhe rosas, quem planta milho colhe milho, quem planta amor colhe amor, quem planta ódio colhe ódio, quem planta fracasso colhe fracasso, enfim seus pensamentos determinam sua atitude.

Aprenda a não se prender ao fatalismo, dizendo que tudo é o destino, que não adianta se esforçar. Isto é uma incompreensão das leis do pensamento. Você criou seu próprio destino pelos seus pensamentos e pelas suas ações.

O subconsciente não julga valores, mas procura a impressão que é deixada de agradável ou desagradável. Por exemplo, é mais provável repetirmos uma ação que o cérebro registrou como agradável do que repetir a que foi registrado como desagradável. É como se ficasse na nossa memória que fazer ou agir daquela forma traria um bom resultado, o que nem sempre é verdade, levando em consideração as circunstâncias.


Não estou fazendo apologia ao fato de que simplesmente o pensamento positivo irá resolver todos os seus problemas e lhe garantirá o sucesso, isso seria uma imensa irresponsabilidade. Senão bastaria deitar-se em uma rede e ter pensamentos positivos o dia inteiro que tudo se resolveria como em um passe de mágica. Isso somente acontece em filmes, na vida real, alem do pensamento temos que agir.Mexa-se. O pensamento é o ponto de partida não o de chegada.


Para você alcançar os seus objetivos é necessário ter consciência que o elemento principal é você mesmo, cultive cobranças interiores, elas são necessárias para se poder aprender mais na vida, mas não se torne refém delas. Aprenda a sentir e a valorizar as suas pequenas e grandes conquistas. Não se torne áspero somente porque as coisas não estão saindo como você deseja.Tudo tem seu tempo. Tempo de plantar, tempo de colher, cada semente tem seu tempo de maturação.


Voltaire, escritor e filósofo iluminista comparou a vida a um jogo de cartas. Os jogadores recebem um numero "x" de cartas. No entanto, uma vez com aquelas cartas em mão, somente eles é que escolhem como irão jogá-las. São eles que decidem que riscos correr e ações praticar.


Como são tantos os pensamentos que fluem em nossa mente, na maioria das vezes não nos damos conta do quanto somos invadidos por atitudes mentais destrutivas. Basta seguirmos um ínfimo pensamento negativo para desencadearmos uma série de dúvidas e frustrações! Nossos pequenos pensamentos negativos são como um vírus, que rapidamente se multiplica e cresce, contaminando assim nossas atitudes.


O pensamento é a causa e a atitude seu efeito direto. Suponha que você se proponha a fazer caminhada todos os dias nas primeiras horas da manhã.

Você, então, pode pensar como é aborrecido acordar cedo, sair da cama com sono e nas possíveis dores que a caminhada lhe proporcionará. Com este tipo de pensamento é muito provável que você nem levante da cama, enfim são auto-sabotadores. Agora, ajudaria muito pensar que durante a caminhada você poderia aproveitar para relaxar e descontrair a mente, que apesar de estar com um pouco de sono você possui muita energia física, que seus músculos vão responder bem aos treinos, que enfim terá uma oportunidade bem mais realista de chegar mais perto do seu objetivo.

Você concorda que esta maneira de pensar é bem mais eficaz do que a primeira?


Este é um exemplo do chamado pensamento positivo. A atitude mental positiva nada mais é do que enxergar o lado bom das coisas. É mudar o seu ponto de vista.


Você deve conhecer a historia do vendedor de calçados que foi enviado para a uma cidade distante e retornou justificando que não vendera nada, pois ninguém usava sapatos, já o segundo vendedor voltou eufórico com a oportunidade de vender sapatos para todo mundo naquela cidade, já que o mercado era totalmente inexplorado.


A atitude mental positiva é a maior arma que possuímos para vencer medos, cansaços, frustrações, descrenças, mentiras, etc. Ela gera atitudes positivas e atitudes positivas é tudo o que precisamos para alcançar nossas metas.


Pense nisso!

Roberto Recinella
www.rrecinella.com.br

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Eu me amo. Eu me adoro. Eu não consigo viver sem mim.

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Um fato psicológico simples é que um homem que não pode amar a si mesmo não pode amar a mais ninguém. Mas isso não é lógica senão uma verdade psicológica.

Se você não puder amar a si mesmo você não conhece sequer o sabor do que o amor significa.

Assim você pode fingir que ama seus filhos, que ama sua mulher, que ama seu marido, que ama seus pais – tudo fingimento.

Se tantas pessoas no mundo estivessem amando; de onde viria a guerra?

De onde vem tanta violência? De onde procede o ódio se todos são tão amorosos?

Você tem que amar seus filhos, tem que amar sua mulher, tem que amar seu marido, tem que amar seus pais, tem que amar seus sacerdotes,, os idosos, os vizinhos...

Há inclusive mestres como Jesus que dizem: Você também tem que amar até mesmo seus inimigos!

Apenas não ame a si mesmo.

Essa lógica estranha destruiu as próprias raizes do amor.

Eu digo a vocês: Primeiro e acima de tudo amem a si mesmos.
[Osho]

Eu me amo, eu me adoro. Eu não consigo viver sem mim.

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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Plantação de palma avança na Amazônia desmatada - 03/01/2011

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03/01/2011
Local: São Paulo - SP
Fonte: Envolverde


Mario Osava, da IPS
O Brasil pretende ser um grande produtor mundial de óleo de palma, expandindo uma nova monocultura estrangeira na Amazônia oriental, onde também se multiplicam as plantações de eucalipto em extensas áreas já desmatadas.  O Pará se consolida como a terra brasileira da palma africana (Elaeis guineensis), depois de se destacar como o Estado amazônico que mais florestas nativas perdeu por causa do avanço da agricultura, pecuária, indústria madeireira e extração de carvão vegetal para uso na siderurgia local.

Com dois projetos nesse Estado, a Petrobras Biocombustíveis tem como meta produzir 420 mil toneladas anuais de óleo de palma, o dobro da produção nacional atual.  Setenta por cento serão destinadas a Portugal, onde se converterá em biodiesel para abastecer a Europa, em uma associação com a empresa local Galp.  Já estão sendo plantadas palmeiras em seis mil hectares e preparadas outras áreas para totalizar 74 mil hectares.  "Nosso foco é o crescente mercado de biodiesel", apesar dos bons preços pagos pela indústria de alimentos e cosméticos, disse à IPS Janio Rosa, diretor de Fornecimento Agrícola da subsidiária da Petrobras especializada em biocombustíveis.

Por sua vez, a brasileira Vale, maior produtora e exportadora mundial de minério de ferro, privatizada em 1997, inaugurou em 2009 seu projeto de produzir 160 mil toneladas anuais de biodiesel a partir de 2014, para consumo em suas máquinas e locomotivas que extraem e transportam seus produtos.  Para isto, está plantando 60 mil hectares de palma em seis áreas do Pará, onde tem suas maiores reservas minerais, na Serra de Carajás.

Em maio, o governo lançou o Programa de Produção Sustentável de Palma, com incentivos por meio de créditos e apoio técnico.  Um zoneamento agroecológico identificou 31,8 milhões de hectares aptos para o cultivo no país, quase o equivalente à superfície da Amazônia, mas autorizou a plantação de apenas 4,3 milhões de hectares, a maior parte no Pará.  A grande produtividade de palma em terras equatoriais abre a possibilidade de diversificar matérias-primas do biodiesel brasileiro, até agora composto de soja, em cerca de 85%, e permitirá que o Brasil se transforme em grande exportador de óleo.

Atualmente, o país compra metade do óleo que consome, cerca de 450 mil toneladas ao ano.  A rentabilidade é assegurada por uma possível produtividade de seis toneladas anuais por hectare em um cultivo permanente, que dura de 25 a 28 anos, além do crescente mercado de biocombustíveis, afirmou Janio.  Isto justifica projetos de biodiesel, embora o óleo de palma tenha hoje melhores preços nas indústrias química e de alimentação.

Entretanto, a Agropalma, única grande produtora de óleo de palma no Brasil, deixou de fabricar biodiesel "temporariamente", desde agosto, porque seus preços não são competitivos nos leilões públicos de contratos de fornecimento, embora aproveitasse em sua produção resíduos do processo de refino de óleo, também usados na indústria do sabão.

Na Colômbia, maior produtor latino-americano de biodiesel, são necessários subsídios.  O governo compra o produto pagando o preço de mercado do óleo vegetal mais os custos de conversão, explicou Jens Mesa, presidente-executivo da Federação Nacional de Produtores de Palma (Fedepalma) desse país.  Com mais de 800 mil toneladas ao ano, a Colômbia também lidera a produção de óleo de palma na região, graças à persistência do setor privado que se organizou na Fedepalma desde 1962, disse Jens à IPS.

O apoio governamental foi "intermitente" até consolidar-se durante os dois mandatos do presidente Álvaro Uribe (2002-2010), culminando com a adoção da mistura de 10% de biodiesel ao combustível de origem fóssil a partir deste ano.  No Brasil, a mistura é de 5% desde janeiro, porcentagem que se previa alcançar em 2013.  A Colômbia dispõe de "três milhões de hectares com boas condições para o cultivo", além dos 365 mil hectares já plantados, segundo Jens.  A palma é "a única atividade rural para a qual se exige licença ambiental" neste país e beneficia seis mil pequenos agricultores, acrescentou, em resposta às críticas de ambientalistas.
As Américas do Sul e Central aparecem como novas fronteiras da palma africana diante do crescimento da demanda.  Contudo, busca-se evitar o desmatamento e os danos sociais registrados na Indonésia e na Malásia, que concentram 85% da produção mundial de óleo de palma.  A Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO), criada em 2002 por empresas produtoras e consumidoras, bem como por organizações ambientalistas, estabelece compromissos ambientais, sociais e legais que descartam o desmatamento, limitando a expansão a áreas já degradadas.

A Petrobras Biocombustíveis também prioriza a inclusão social, fixando como meta contratar 2.250 agricultores familiares para produzir metade da matéria-prima em um projeto e 20% em outro, destinado à exportação.  Adesão às leis, reflorestamento com frutas nativas, educação e pesquisa ambiental farão parte dos projetos, anunciou Janio.  "A diversidade constrói", afirmou, para ressaltar o compromisso de cooperar com pequenos e grandes agricultores e de restaurar as florestas onde foi desmatado mais do que o permitido.

A legislação brasileira exige para a Amazônia a preservação das florestas em 80% de cada área, na chamada reserva legal.  Tantos cuidados não impedem as críticas de ambientalistas e ativistas sociais.  "Estamos contra qualquer monocultura em grande escala, inclusive de árvores", em defesa da biodiversidade e um clima mais equilibrado, afirmou João Pedro Stédile, um dos coordenadores do Movimento dos Sem Terra e da internacional Via Camponesa.

As florestas nativas do Pará são vitais para o clima sul-americano, porque na Amazônia oriental ocorre a reciclagem da umidade dos ventos do Oceano Atlântico, assegurando boa parte das chuvas amazônicas, afirmam cientistas.  Além disso, a evaporação florestal amazônica, desviada ao sul pela Cordilheira dos Andes, irriga as áreas agrícolas mais produtivas de Brasil, Argentina e Paraguai.  Outro risco é fitossanitário.  Converter o Pará em "um mar de palma" tornará muito difícil controlar as pragas, alertou José Stanley de Oliveira, gerente de Fitossanidade da Agropalma, que com alguns assistentes conseguiu até agora conter os numerosos inimigos das palmeiras.

Dois insetos são os mais perigosos e mortais: o Eupalamides cyparissias, que perfura várias partes da planta, e o Rhynchophorus palmarum, que causa a doença do anel vermelho, "incurável".  O controle biológico se impõe por razões ambientais e porque "só há dois inseticidas" registrados para cultivo de palma no Brasil, afirmou José.  O Brasil vai demorar muitos anos para disputar mercados externos.  Hoje tem uma participação irrelevante de 0,5% na produção mundial de óleo de palma, que atingiu 46 milhões de toneladas no ano passado, e as palmeiras só frutificam aos três anos, alcançando sua plenitude aos oito, dependendo das condições de cultivo.

A demanda por óleos vegetais continuará crescendo mais do que a população e a economia mundiais, e para atendê-la seriam necessários, até 2050, 13 milhões de hectares adicionais de palma, segundo projeções de Timothy Killeen, pesquisador da organização Conservação Internacional.  A soja exigiria mais 93 milhões de hectares.  Sua grande produtividade oleícola e a vantagem de não conter ácidos graxos trans, rechaçados por questões de saúde, explicam o crescimento vertiginoso da produção de óleo de palma, que se multiplicou por nove desde 1980.  Ainda assim será difícil dispor de excedentes para o biodiesel.

Na era da globalização, o que deveríamos ler?

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Umberto Eco

"O Cânone Ocidental" de Harold Bloom define o cânone literário como "a escolha de livros em nossas instituições de ensino", e sugere que a verdadeira questão que ele suscita é: "o que o indivíduo que ainda deseja ler deveria tentar ler, a essa altura da História?" E ele observa que, na melhor das hipóteses, dentro do tempo de uma vida é possível ler somente uma pequena fração do grande número de escritores que viveram e trabalharam na Europa e nas Américas, sem contar aqueles de outras partes do mundo. Mesmo nos atendo somente à tradição ocidental, quais são os livros que as pessoas deveriam ler? Não há dúvidas de que a sociedade e a cultura ocidentais foram influenciadas por Shakespeare, pela "Divina Comédia" de Dante, e – voltando atrás no tempo – por Homero, Virgílio e Sófocles. Mas será que somos influenciados por eles porque os lemos de fato em primeira mão?

Isso lembra o argumento de Pierre Bayard, em "Como Falar Sobre Livros que Você Não Leu", de que não é essencial ler de fato um livro de capa a capa para entender sua importância. Por exemplo, é nítido que a Bíblia teve uma profunda influência tanto sobre a cultura judaica como sobre a cristã no Ocidente, e mesmo sobre a cultura de não-crentes – mas isso não significa que todos aqueles que foram influenciados por ela a tenham lido do começo ao fim. O mesmo pode se dizer sobre os escritos de Shakespeare ou James Joyce. É necessário ter lido o Livro dos Reis ou o Livro dos Números para ser uma pessoa culta ou um bom cristão? É necessário ter lido Eclesiastes, ou basta simplesmente saber em segunda mão que ele condena a "vaidade das vaidades"?

Sendo assim, a questão do cânone não é homóloga à do currículo escolar, que representa o conjunto de obras que um estudante deverá ter lido ao fim de seus estudos. Hoje o problema é mais complicado do que nunca e, durante uma recente conferência literária internacional em Mônaco, houve um debate sobre o lugar do cânone na era da globalização. Se roupas de marca "europeias" são produzidas na China, se usamos computadores e carros japoneses, se até em Nápoles comem hambúrgueres em vez de pizza –  resumindo, se o mundo encolheu a dimensões provincianas, com estudantes imigrantes em todo o mundo pedindo para aprender sobre suas próprias tradições – então como será o novo cânone?

Em certas universidades americanas, a resposta veio na forma de um movimento que, mais do que "politicamente correto", é politicamente estúpido. Como temos muitos estudantes negros, algumas pessoas sugeriram ensinar-lhes menos Shakespeare e mais literatura africana. Uma ótima piada à custa de todos aqueles jovens destinados a saírem pelo mundo sem entender referências literárias universais como o solilóquio do "ser ou não ser" de Hamlet – e, portanto, condenados a permanecerem à margem da cultura dominante. Se tanto, o cânone existente deveria ser expandido, e não substituído. Como foi sugerido recentemente na Itália, a respeito de aulas semanais de religião nas escolas, os estudantes deveriam aprender algo sobre o Corão e os ensinamentos do Budismo, bem como sobre os Evangelhos. Assim como não seria mau se, além de suas aulas sobre a civilização grega antiga, os estudantes aprendessem algo sobre as grandes tradições literárias árabe, indiana e japonesa.

Não faz muito tempo, fui a Paris para participar de uma conferência entre intelectuais europeus e chineses. Foi humilhante ver como nossos colegas chineses sabiam tudo sobre Immanuel Kant e Marcel Proust, sugerindo paralelos (que poderiam estar certos ou errados) entre Lao Tsé e Friedrich Nietzsche – enquanto a maioria dos europeus entre nós mal conseguia ir além de Confúcio, e muitas vezes com base somente em análises em segunda mão.

Hoje, no entanto, esse ideal ecumênico esbarra em certas dificuldades. Você pode ensinar a jovens ocidentais a "Ilíada" porque eles ouviram algo sobre Heitor e Agamêmon, e porque seus rudimentos de cultura incluem expressões como "o julgamento de Páris" e "calcanhar de Aquiles" (embora em um recente exame de admissão de uma universidade italiana um candidato tenha pensado que o termo "calcanhar de Aquiles" se referia a uma doença, como cotovelo de tenista).  Ainda assim, como conseguir fazer com que esses estudantes se interessem pelo poema épico sânscrito "O Mahabharata", ou pelos poemas dos "Rubaiyat de Omar Khayyam" de forma que essas obras permaneçam em suas memórias? Será que realmente podemos adaptar o sistema educacional a um mundo globalizado quando a vasta maioria dos ocidentais cultos ignora totalmente que, para os georgianos, um dos maiores poemas na história literária é "O Cavaleiro na Pele de Pantera" de Shota Rustaveli? Quando acadêmicos não conseguem nem concordar se, na versão georgiana original, o cavaleiro do poema está na verdade usando uma pele de pantera e não de tigre ou de leopardo? Chegaremos sequer a esse ponto, ou continuaremos simplesmente a perguntar: "Shota o quê?"
Tradução: Lana Lim

Umberto Eco

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. Entre seus principais livros estão "O Nome da Rosa" e o "Pêndulo de Foucault".

Pessoas distraídas são mais criativas

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Quem se deixa perturbar por estímulos externos tem maior capacidade de resolver problemas que os mais concentrados

Tendência a dispersão e a fazer associações inusitadas é comum a criativos e a pessoas com esquizofrenia
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Quem diria: se distrair pode ser a melhor maneira de resolver um problema difícil de forma criativa.

"Distração" costumava ter uma conotação negativa em estudos médicos; por exemplo, pesquisas que mostram o maior risco de causar um acidente de carro ao se distrair falando ao celular.

Mas trabalhos recentes têm demonstrado que a distração está vinculada à criatividade, especialmente na hora de resolver problemas complexos.

Só que até certo ponto: em excesso, distração combina com esquizofrenia -um distúrbio psíquico que pode incluir alucinações, delírios e fuga da realidade.

Como a distração ajuda a ser criativo e produzir soluções? Para muita gente, a prática de "dar um tempo", "fazer uma pausa no trabalho", costuma fazer a resposta para um problema surgir de repente, como mágica.

É só assistir ao seriado "House" (Universal) para entender como funciona.
O médico Gregory House e sua equipe são escalados para diagnosticar e tratar apenas os casos mais cabeludos.

O enredo tem uma fórmula básica. Eles passam três quartos do programa raciocinando logicamente sobre sintomas, tratamentos e causas de doenças.
Mas só no fim do episódio, quando House se distrai ou tem a atenção chamada para algo bizarro, que uma resposta "clica" no seu cérebro.

EVOLUÇÃO
Ignorar estímulos irrelevantes ao nosso redor é uma conquista da evolução biológica. Um animal que presta atenção a tudo e caminha pelos prados distraído acaba não percebendo o predador até que seja tarde demais.

Essa capacidade de abstrair o ruído inútil é chamada de inibição latente.
Esquizofrênicos têm inibição latente muito reduzida; prestam atenção a tudo, e por isso, paradoxalmente, fogem da realidade. Mas esse traço também caracteriza pessoas saudáveis e altamente criativas.

Um estudo feito pela equipe de Fredrik Ullén, do Instituto Karolinska, da Suécia, publicado na revista científica "PLoS One", apontou que os cérebros dos esquizofrênicos e o dos criativos têm um sistema semelhante do neurotransmissor dopamina.

Produzida em várias partes do cérebro, a dopamina tem funções na transmissão do impulso elétrico entre as células nervosas, notadamente na cognição, motivação e nos mecanismos de punição e recompensa.

"A teoria da dopamina e esquizofrenia vê o distúrbio como uma forma extrema de criatividade", diz Adam Galinsky, da Escola Kellogg de Administração da Universidade Northwestern, EUA.

O pesquisador explica que a dopamina tende a alterar processos cognitivos, de modo que as associações são mais soltas e as categorias conceituais são ampliadas.
"Isso pode facilitar a criatividade, mas também levar a padrões de pensamento desorganizados e anomalias de percepção."

Galinsky e colegas fizeram testes de associação com 94 voluntários que tinham que identificar uma quarta palavra vinculada a três outras.

Alguns passavam por distrações, outros não. Os distraídos identificaram sequências de letras como palavras válidas mais rápido.

O estudo foi publicado na revista "Psychological Science" e afirma que o processo de solução de problemas inclui tanto a distração quanto um período de pensamento consciente, sem o qual o problema não tem como ser racionalmente resolvido.

RADAR
Estudos feitos com universitários nos EUA e no Canadá pela equipe de Shelley H. Carson, do Departamento de Psicologia de Harvard, mostraram que aqueles que se distraem facilmente, com o "radar ligado" para tudo em torno, são mais criativos: os mais criativos tinham sete vezes menos inibição latente.

O estudo original, publicado em 2003, foi replicado depois. "Dois outros laboratórios testaram a baixa inibição latente e descobriam que está associada com criatividade. Nós também estamos continuando os testes", afirma Carson.
"Há um corpo substancial de pesquisa que indica que a esquizofrenia está associada com inibição latente baixa e também com deficits na memória de trabalho", continua o pesquisador.

Para Carson, comentando o estudo de Galinsky, a pessoa criativa é capaz de permitir, temporariamente, que o excesso de distrações seja canalizado em percepção consciente, para fazer conexões entre os estímulos.

"Mas a pessoa tem a capacidade de alternar entre estados do cérebro para exercitar maior controle cognitivo e realmente formular e acessar essas conexões", afirma o pesquisador.