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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Qual a relação entre valores humanos e sucesso profissional?

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O conteúdo ilustra que "o conflito aparece quando o sujeito confronta o que deseja ser e fazer com aquilo que ele, por razões muitas vezes ignoradas, efetivamente escolheu realizar como opção profissional."

Waleska Farias, 28 de outubro de 2013
No intuito de entender mais sobre o conceito de "valor humano" e seu impacto nas relações de trabalho resgatei um depoimento feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2010), considerando a importância da medição do IVH (Índice de Valores Humanos) como indicador de um "problema da sociedade moderna".

O conteúdo ilustra que "o conflito aparece quando o sujeito confronta o que deseja ser e fazer com aquilo que ele, por razões muitas vezes ignoradas, efetivamente escolheu realizar como opção profissional."  O profissional intui o que deseja fazer, mas por razões diversas ignora e opta por direções com as quais não se identifica. A frustração ocorre no momento em que compara a posição que exerce com o que ele, de fato, idealizou realizar.

O caminho profissional tem um papel fundamental no senso de identidade, autoestima e bem estar psicológico das pessoas. Portanto, os critérios de trabalho para viabilidade dos resultados não podem permitir que o indivíduo na sua função perca-se dos seus valores e fique à margem de si mesmo. É necessário acolher os valores como condição prioritária de produtividade e realização plena do ser humano.

Valores, assim como princípios, são o alicerce ético do espírito humano e respondem pela motivação do indivíduo para levantar todos os dias e ir trabalhar. Configuram o norte que indica o caminho e conduz à missão de vida, imprimindo relevância aos acontecimentos do dia a dia. Quando os valores do colaborador e da empresa divergem as visões de futuro tornam-se incompatíveis e a trajetória inconsistente.

A cada dia as pessoas se qualificam mais, trabalham muito e se realizam menos. Quanto mais me envolvo nos processos de coaching, mais percebo a necessidade do compromisso com o resgate dos valores do profissional para que a construção da sua carreira seja estruturada de forma mais humana e seu direito à realização profissional seja legitimado.
É preciso validar o sentido das escolhas e alinhá-los aos princípios e valores na consideração de ser autêntico. Não faz sentido deixar os valores e sonhos na porta das empresas como passe de entrada se somente aqueles que conseguem ser fiel aos próprios valores conquista o sucesso na trajetória profissional.

Valores formam a consciência humana e transcendem às convenções sociais, permitindo a concepção do que é certo e errado na busca do ideal. Na decisão de buscar um caminho que dê sentido à sua carreira nutra a crença de que é imperativo vincular a fidelidade aos valores à vida como profissão na condição de ser feliz.

sábado, 26 de outubro de 2013

A riqueza natural da biodiversidade na Amazônia

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  • Relatório lista mais de 400 novas espécies descobertas nos últimos anos na região, que incluem macaco que ronrona e piranha vegetariana
Cesar Baima (Email)
Publicado: 24/10/13 - 6h00
  Tometes camunani: piranha vegetariana passou por adaptação evolutiva para se alimentar de capim aquático abundante nas áreas em que habita  Foto: Tommaso Giarrizzo/WWF
Tometes camunani: piranha vegetariana passou por adaptação evolutiva para se alimentar de capim aquático abundante nas áreas em que habita.
Tommaso Giarrizzo/WWF

RIO - Um macaco que ronrona como um gato e até mesmo uma piranha vegetariana estão entre as mais de 400 novas espécies de animais e plantas identificadas na Amazônia nos últimos anos. Elas fazem parte das principais descobertas na região entre 2010 e 2013 compiladas pela organização ambiental WWF como alerta para a importância de preservar este bioma e sua biodiversidade. Ao todo, são 258 espécies de plantas, 84 de peixes, 58 de anfíbios, 22 de répteis, 18 de aves e uma de mamífero, numa média de duas descobertas por semana que se somam às mais de 1,2 mil novas espécies de animais e plantas identificadas no período de 1999 a 2009 na região e listadas pela própria WWF em relatório anterior, divulgado em 2010.

— A Amazônia é o bioma número um em biodiversidade no mundo, não há região que concorra com ela nisso — destaca Cláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva da WWF, responsável pela compilação da lista com base em estudos publicados em periódicos científicos reconhecidos nos últimos anos. — A lista mostra que mesmo com poucos recursos estamos descobrindo novas espécies na Amazônia a um ritmo de uma a cada três a quatro dias e que ainda temos muito a investigar sobre a região, um verdadeiro caldeirão de biodiversidade.

Serviços ecossitêmicos
Segundo Maretti, a divulgação da lista ultrapassa a simples verificação sobre a grande biodiversidade ainda desconhecida da Amazônia. Para ele, além de conhecer é preciso reconhecer que a região presta importantes serviços ecossistêmicos para o planeta — os quais todas as espécies de plantas de animais lá presentes ajudam a construir. — A lista serve não só para conhecermos mais sobre nossa natureza como também sobre o bem comum que ela nos proporciona — diz.

— A Amazônia funciona como um "ar condicionado" do planeta. Ela estoca carbono e a circulação de ar e umidade nela promove o resfriamento e estabiliza o regime de chuvas não só na região como fora da Amazônia.

Estes são alguns tipos dos serviços ecossistêmicos que são produto desta complexidade de seres vivos que vivem lá. São estas espécies múltiplas de biodiversidade que prestam serviços que toda a sociedade usa.

A estratégia da WWF com a compilação também é orientar os governos dos nove países que abarcam o bioma da Amazônia — Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa — sobre as melhores maneiras de preservar a região e ao mesmo tempo aproveitar suas riquezas naturais, conta Maretti. Na opinião dele, o Brasil tem feito isso bem com a criação de unidades de conservação e a demarcação de terras indígenas, mas a situação ainda pode e precisa melhorar muito para assegurar a sobrevivência de uma parcela significativa desta biodiversidade.

— Como a Amazônia é a área natural mais importante do mundo, ela teria que ter os parques nacionais mais bem geridos do mundo — defende. — Claro que não podemos pedir para os nove governos deixarem a Amazônia intocada, mas podemos exigir a preservação de uma boa representação da sua biodiversidade e a manutenção dos seus serviços ecossistêmicos.

Além do poder de nos maravilhar, a lista serve para orientar. Precisamos investir mais em ciência para investigar e saber onde está esta maior variabilidade biológica para saber também onde é melhor preservar.

Segundo Maretti, as principais ameaças ao futuro da Amazônia continuam sendo o desmatamento para ampliação das fronteiras agropecuárias e a fragmentação de seus ambientes aquáticos, como a interrupção e desvio dos cursos dos rios para a construção de barragens. Nas contas de Maretti, com 30% do território da Amazônia protegidos por unidades de conservação, o restante poderia ser alvo de políticas de desenvolvimento sustentável que levem em conta as características próprias da região.

— A Amazônia tem que servir para o bem da Humanidade, mas isso não pode ser feito seguindo a lógica do desmatamento para levar até lá modelos que não são dela, como grandes plantações de soja — avalia. — Temos que aproveitar o que a Amazônia já tem de bom e pode oferecer naturalmente, fazendo o bioma produzir para nós.
 
Muitos dos novos animais e plantas identificados na região, no entanto, são altamente especializados e adaptados às áreas que habitam, o que pode dificultar políticas para sua preservação. É o caso, por exemplo, da piranha vegetariana. Batizada Tometes camunani, ela foi encontrada na bacia do Rio Trombetas, no Pará, e ocorre exclusivamente nas zonas encachoeiradas dos rios, locais frágeis e ameaçados pela ação humana.

— Ela é um exemplo da maravilha da biologia — conta. — Na linha evolutiva que levou à espécie, ela mudou o comportamento do ramo que a gerou para aproveitar melhor os alimentos disponíveis, no caso, capins aquáticos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Saneamento básico no Brasil: “Um cenário alarmante” – Entrevista com Édison Carlos

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Posted By juliana On outubro 24, 2013 @ 9:13 am In Saúde | No Comments
saneamento Saneamento básico no Brasil: Um cenário alarmante   Entrevista com Édison Carlos [1]
Foto: Divulgação/Internet

"O governo federal pretende universalizar o saneamento básico no Brasil em 20 anos (2014 a 2033) e para isso estima a necessidade de 302 bilhões de reais somente para obras de água e esgotos. Teríamos de investir em média 15 a 16 bilhões/ano, mas ainda não passamos dos 9 bilhões de reais por ano", adverte o presidente executivo do Instituto Trata Brasil.

A situação do saneamento básico no Brasil é "alarmante" e compromete "a meta do governo federal de universalizar o saneamento em 20 anos", diz Édison Carlos, ao comentar os dados do Ranking do Saneamento realizado pelo Instituto Trata Brasil, o qual avalia a situação do saneamento e da água nas 100 maiores cidades brasileiras. Segundo ele, em 2011, as 100 maiores cidades do país "geraram mais de 5,1 bilhões de m³ de esgoto. Desses, mais de 3,2 bilhões de m³ não receberam tratamento. Significa que as 100 maiores cidades jogaram cerca de 3.500 piscinas olímpicas de esgoto por dia na natureza".

Apesar do cenário preocupante, o presidente Executivo do Instituto Trata Brasil assegura que houve avanços na última década, principalmente no acesso à água potável. Nas 100 cidades monitoradas, 92,2% da população tem acesso à água tratada, "bem acima da média nacional — que é de 82,4%". Em relação à coleta de esgotos, os dados são mais precários. "Chega a 61,40% da população nas 100 maiores cidades e a 48,1% no país. Significa que mais de 100 milhões de brasileiros ainda não possuem esse serviço mais básico", assinala em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail.

De acordo com ele, os investimentos do PAC destinados para melhorias do saneamento básico ainda não foram utilizados na sua totalidade. "O Trata Brasil monitora 138 obras de esgotos do PAC, e constatamos que somente 14% delas estão prontas após cinco anos. A maioria, 65% das obras, está atrasada, paralisada ou sequer começou", lamenta.

Édison Carlos é químico industrial graduado pelas Faculdades Oswaldo Cruz e pós-graduado em Comunicação Estratégica. Atuou por quase 20 anos em várias posições no Grupo Solvay, sendo que, nos últimos anos, foi responsável pela área de Comunicação e Assuntos Corporativos da Solvay Indupa. Em 2012, Édison Carlos recebeu o prêmio "Faz Diferença – Personalidade do Ano", do Jornal O Globo – categoria "Revista Amanhã", que premia quem mais se destacou na área da Sustentabilidade em todo o país.

Confira a entrevista:   
IHU On-Line – Como foi elaborado o Ranking do Saneamento realizado pelo Instituto Trata Brasil? Quais as principais constatações em relação ao saneamento básico nas 100 maiores cidades brasileiras?
Édison Carlos - O Ranking do Saneamento [2] do Instituto Trata Brasil é elaborado a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, do Ministério das Cidades, que fornece anualmente os números de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, perdas de água, investimentos e outros; todos estes providos das próprias empresas ou municípios operantes. Vale ressaltar que o Ministério das Cidades divulga números com dois anos de defasagem, ou seja, os dados fornecidos este ano — e consequentemente usados para o Ranking do Instituto Trata Brasil — são de 2011. Com os números do SNIS, a GO Associados, parceira do Trata Brasil, se encarrega de elaborar o método que definirá a posição de cada município.

As principais constatações são preocupantes, e a lenta evolução dos indicadores nas grandes cidades compromete a meta do governo federal de universalizar o saneamento em 20 anos. Nós temos um cenário alarmante no Brasil, mesmo em grandes capitais, como Macapá, Belém, São Luís, Teresina, Natal, entre outras, onde os serviços de coleta e tratamento de esgoto ainda são muito precários.

Em 2011, as 100 maiores cidades geraram mais de 5,1 bilhões de metros cúbicos (m³) de esgoto. Desses, mais de 3,2 bilhões de m³ não receberam tratamento. Significa que as 100 maiores cidades jogaram cerca de 3.500 piscinas olímpicas de esgoto por dia na natureza.

IHU On-Line – Em que estados se concentram as cidades em que há melhor e pior condições de saneamento?
Édison Carlos - São Paulo, Minas Gerais e Paraná são os estados que têm números expressivos de municípios, mais especificamente 18 entre as 20 melhores cidades no ranking. Em contrapartida, as regiões Norte e Nordeste, no geral, têm os piores índices, principalmente o estado do Pará, que contém seus três grandes municípios (Belém, Santarém e Ananindeua) nas cinco últimas posições, além de Amapá, Pernambuco e Maranhão. Apesar de estar no Sudeste, o estado do Rio de Janeiro também possui algumas cidades da Baixada Fluminense entre as piores do país.

IHU On-Line – Que percentual da população brasileira é atendida com água tratada e coleta de esgoto?
Édison Carlos - Nas 100 maiores cidades monitoradas pelo Instituto Trata Brasil, são 92,2% da população que têm atendimento em água tratada, bem acima da média nacional — que é de 82,4%. Já a coleta de esgotos chega a 61,40% da população nas 100 maiores cidades e a 48,1% no país. Significa que mais de 100 milhões de brasileiros ainda não possuem esse serviço mais básico.

IHU On-Line – Qual o destino dado ao esgoto gerado pelas 100 maiores cidades brasileiras?
Édison Carlos - Estas 100 maiores cidades, em 2011, geraram mais de 5,1 bilhões de m³ de esgoto; mais de 3,2 bilhões de m³ não receberam tratamento, isto é, as 100 maiores cidades jogaram cerca de 3.500 piscinas olímpicas de esgoto por dia na natureza. São lançamentos de esgotos em córregos, rios e lagos, a céu aberto ou em fossas rústicas que, se não cuidadas, geram contaminação nos lençóis freáticos.

IHU On-Line – Que avanços foram possíveis constatar no setor de saneamento desde 2003?
Édison Carlos - Houve avanços, principalmente no acesso à água potável, mas muito pouco em coleta e tratamento dos esgotos. Quase nada se avançou também na redução das perdas de água.

Os investimentos do setor federal, através do Programa de Aceleração e Crescimento – PAC, por exemplo, ainda não conseguiram ser usados em sua totalidade. O Trata Brasil monitora 138 obras de esgotos do PAC, e constatamos que somente 14% delas estão prontas após cinco anos. A maioria, 65% das obras, está atrasada, paralisada ou sequer começou.

IHU On-Line – Quais são as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB para 2030? A partir da pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil, quais as expectativas na tentativa de alcançar a meta do PLANSAB?
Édison Carlos - O governo federal pretende universalizar o saneamento básico no Brasil em 20 anos (2014 a 2033) e, para isso, estima a necessidade de 302 bilhões de reais somente para obras de água e esgotos. Teríamos de investir em média 15 a 16 bilhões/ano, mas ainda não passamos dos 9 bilhões de reais por ano. Precisamos, portanto, investir o dobro para atingir a universalização que o governo federal propõe. O PLANSAB exige que os municípios entreguem um plano de saneamento até dezembro deste ano, porém sabemos que muitos prefeitos não irão cumprir com o pedido, dessa forma, estas cidades poderão não mais receber recurso federal para novas obras. Quem perde com isso é o cidadão.

IHU On-Line – Quais são as principais dificuldades para alcançar a meta de universalizar o saneamento básico em 20 anos no Brasil?
Édison Carlos – Primeiramente, saneamento básico tem que ser prioridade número 1 dos entes públicos e da população. Devido aos 20 anos que o país passou sem recursos para esgotamento sanitário, criou-se um grande déficit nestes serviços. Hoje o setor enfrenta dificuldade por conta da gestão dos municípios e da atuação das empresas de saneamento na elaboração de projetos, no uso dos recursos, ao mesmo tempo em que há uma grande burocracia para a chegada dos recursos federais às obras, dificuldade e lentidão nas licenças ambientais e despreparo das prefeituras para com essas obras.

IHU On-Line – Quais são hoje as principais políticas públicas federais para garantir melhorias no tratamento da água e melhores condições de saneamento básico?
Édison Carlos - O governo federal, em 2007, sancionou a lei de Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico (nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007). Esta lei preconiza que todos os municípios precisam elaborar seus Planos Municipais de Saneamento Básico e promover a Regulação dos Serviços de Saneamento. Estes são instrumentos de planejamento fundamentais para que as cidades organizem seu futuro no campo sanitário. Infelizmente, a implementação dessas diretrizes está muito lenta no país.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Édison Carlos – Em 2014 temos eleições, e é momento de o brasileiro manifestar sua vontade de que esta realidade mude. Temos que cobrar soluções de nossos candidatos a deputado, senador, governador e presidente. Somente através da mobilização conseguiremos mostrar que saneamento é importante.
* Publicado originalmente no site IHU On-Line [4].

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Capitalismo e política alimentar: o mundo não pode ser um grande supermercado

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Posted By juliana On outubro 22, 2013 @ 11:11 am In Economia
fomecapa1 300x150 Capitalismo e política alimentar: o mundo não pode ser um grande supermercado [1]

Chegamos a sete bilhões de seres humanos habitando nosso planeta. Mais da metade deles vive amontoados em grandes cidades. Distantes dos seus locais de origem. E pela primeira vez na história alcançamos a triste estatística de um bilhão de pessoas passando fome, todos os dias. Ou seja, 14% dos seres humanos não têm direito a sobreviver. E entre eles milhares de crianças e suas mães morrem a cada dia.

Entre a população que consegue se alimentar, nos foi imposto uma padronização dos alimentos. Há quatrocentos anos, antes do advento do capitalismo, os humanos se alimentavam com mais de 500 espécies diferentes de vegetais. Há cem anos, com a hegemonia da revolução industrial, reduziu-se para 100 espécies diferentes de alimentos, que depois da lavoura passavam por processos industriais. E há trinta anos, depois da hegemonia do capitalismo financeiro em todo o mundo, hoje, a base de toda alimentação da humanidade está representada em 80% na soja, milho, arroz, feijão, cevada e mandioca. O mundo virou um grande supermercado, único. As pessoas, independentemente do lugar onde moram, se alimentam com a mesma ração básica, fornecida pelas mesmas empresas, como se fôssemos uma grande pocilga a esperar passivos e dominados a distribuição da mesma ração diária.
Uma tragédia, escondida todos os dias pela mídia a serviço da classe dominante, que se locupleta com o banquete de juros, lucros, contas bancárias, champagne, lagosta. Cada vez mais obesos e desumanizados. Empanturrados de injustiças e iniquidade. Por que chegamos a essa situação?

Porque o capitalismo, como modo de organizar a produção, a distribuição dos bens e a vida das pessoas baseada no lucro e na exploração, tomou conta de todo o planeta. E os alimentos foram reduzidos à mera condição de mercadoria. Quem tiver dinheiro pode comprar a energia para seguir vivendo. Quem não tiver dinheiro não pode continuar sobrevivendo. E para ter dinheiro é preciso vender sua força de trabalho, se tiver quem compre. Porque, ao redor de 100 empresas agroalimentárias transnacionais (como Cargill, Monsanto, Dreyfuss, ADM, Syngenta, Bungue, etc.) controlam a maior parte da produção mundial de fertilizantes, agroquímicos, agrotóxicos, as agroindústrias e o mercado de venda desses alimentos.

Porque agora, os alimentos são vendidos e especulados em bolsas de valores internacionais, como se fosse uma matéria-prima qualquer, como minério de ferro, petróleo, etc. e grandes investidores financeiros se transformam em proprietários de milhões de toneladas de alimentos, que especulam e aumentam os preços propositalmente para aumentar seus lucros. Milhões de toneladas de soja, milho, trigo, arroz, até as safras vindouras e ainda nem plantadas de 2018, ou seja 5 anos adiante, já foram vendidas. Esses milhões de toneladas de grãos, que não existem, já têm dono.

A fixação dos preços dos alimentos não segue mais as regras do custo de produção, somados os meios de produção e a força de trabalho. Agora são determinados pelo controle oligopólico que as empresas fazem do mercado, e impõem um mesmo preço para o produto, em todo mundo, e em dólar. E quem tiver um custo superior a isso, vai à falência, pois não consegue repor seus gastos.

Porque, nessa fase de controle do capital financeiro, fictício, sobre os bens, que circula no mundo em proporções 5 vezes maiores do que seu equivalente em produção (255 trilhões de dólares em moeda, para apenas 55 trilhões de dólares em bens anuais) transformou os bens da natureza, como a terra, água, energia, minérios, em meras mercadorias sob seu controle. Daí se produziu uma enorme concentração da propriedade da terra, dos bens da natureza e dos alimentos. E qual é a solução?

Em primeiro lugar precisamos repactuar em todo o planeta o princípio de que alimento não pode ser mercadoria. Alimento é a energia da natureza (sol mais terra, mais água, mais vento) que move os seres humanos, produzidos em harmonia e parceria com os outros seres vivos que formam a imensa biodiversidade do planeta. Todos dependemos de todos, nessa sinergia coletiva de sobrevivência e reprodução. Alimento é um direito de sobrevivência. E portanto, todo ser humano deve ter acesso a essa energia para se reproduzir como ser humano, de maneira igualitária e sem nenhuma condicionante.

Os governos têm adotado o conceito de segurança alimentar, para explicar esse direito, e assim dizer que os governos devem suprir de comida os seus cidadãos. É um pequeno avanço em relação à subordinação total ao mercado. Mas nós, dos movimentos sociais, dizemos que o conceito é insuficiente, porque não resolve o problema nem da produção dos alimentos, nem da distribuição e muito menos do direito. Porque não basta os governos comprarem comida, ou distribuírem dinheiro em "bolsas-famílias" para que as pessoas comprem os alimentos. Os alimentos seguem tratados como mercadorias e dando muito lucro às empresas que fornecem aos governos. E as pessoas seguem dependentes, subalternas, antes do mercado, agora dos governos.

Defendemos o conceito de SOBERANIA ALIMENTAR, que é a necessidade e o direito de que, em cada território, seja uma vila, um povoado, uma tribo, um assentamento, um município, um Estado e até um país, cada povo tem o direito e o dever de produzir seus próprios alimentos. Foi essa prática que garantiu a sobrevivência da humanidade, mesmo em condições mais difíceis. E está provado biologicamente que em todas as partes do nosso planeta é possível produzir a energia – alimentos – para reprodução humana, a partir das condições locais.

A questão fundamental é como garantir a soberania alimentar dos povos. E para isso devemos defender a necessidade de que em primeiro lugar todos os que cultivam a terra e produzem os alimentos, os agricultores, camponeses, tenham o direito à terra e à água. Como um direito de seres humanos. Daí a necessidade da política de repartição dos bens da natureza (terra, água, energia) entre todos, no que chamamos de reforma agrária.

• Precisamos garantir que haja soberania nacional e popular sobre os principais bens da natureza. Não podemos submetê-los às regras da propriedade privada e do lucro. Os bens da natureza não são frutos de trabalho humano. E por isso o Estado, em nome da sociedade, deve submetê-los a uma função social, coletiva, sob controle da sociedade.

• Precisamos de políticas públicas governamentais que estimulem a prática de técnicas agrícolas de produção de alimentos, que não sejam predadoras da natureza, que não usem venenos e que produzam em equilíbrio com a natureza e a biodiversidade, e em abundância para todos. Essas práticas adequadas é que chamamos de agroecologia.

• Precisamos garantir o direito de que as sementes, as diferentes raças de animais e seus melhoramentos genéticos feitos pela humanidade, ao longo da história, sejam acessíveis a todos os agricultores. Não pode haver propriedade privada sobre sementes e seres vivos, como a atual fase do capitalismo nos impõe, com suas leis de patentes, transgênicos e mutações genéticas. As sementes são um patrimônio da humanidade.

• Precisamos garantir que em cada local, região, se produzam os alimentos necessários que a biodiversidade local provê, e assim mantermos os hábitos alimentares e a cultura local, como uma questão inclusive de saúde pública. Pois os cientistas, médicos e biólogos nos ensinam que a alimentação dos seres vivos, para sua reprodução saudável, deve estar em convivência com o habitat e a energia do próprio local.

• Precisamos que os governos garantam a compra de todos os alimentos excedentes produzidos pelos camponeses e usem o poder do Estado para garantir-lhes uma renda adequada e ao mesmo tempo a distribuição dos alimentos a todos os cidadãos.

• Precisamos impedir que as empresas transnacionais continuem controlando qualquer parte do processo de produção dos insumos agrícolas, da produção e distribuição dos alimentos.

• Precisamos desenvolver o beneficiamento dos alimentos (no que se chama de agroindústria) na forma cooperativa sob controle dos camponeses e trabalhadores.

• Precisamos adotar práticas de comércio internacional de alimentos entre os povos baseadas na solidariedade, na complementariedade e na troca. E não mais no oligopólio das empresas, dominadas pelo dólar americano.

O Estado precisa desenvolver políticas públicas que garantam o princípio de que o alimento não é uma mercadoria, é um direito de todos os cidadãos. E as pessoas só viverão em sociedades democráticas, com seus direitos mínimos assegurados, se tiverem acesso ao alimento-energia necessário.

O alimento não é mercadoria, é um direito!
_______________________________________________________
Em parceria com a Agenda Latino-americana/Servicios Koinonia, através de duas entregas semanais, divulgaremos na página web, no Facebook e no Twitter da ADITAL todos os textos (em português e espanhol) publicados na edição da Agenda 2013 – A OUTRA ECONOMIA, que, nas palavras de Dom Pedro Casaldáliga, "em linguagem bíblico-teológica temos a palavra-chave para falar da Outra Economia, verdadeiramente outra: o Reino, a economia do Reino. Obsessão de Jesus de Nazaré, revolução total das estruturas pessoais e sociais, utopia necessária, obrigatória, porque é a proposta do próprio Deus da Vida, Pai-Mãe da Família Humana".
_______________________________________________________
* João Pedro Stédile é brasileiro, cidadão do mundo e membro da Vía Campesina e do MST, São Paulo, SP.
** Publicado originalmente no site Adital [2].

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sábado, 19 de outubro de 2013

10 valores essenciais para a administração de um negócio

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Caras e Caros,
O artigo abaixo reforça o que sempre procurei mostrar: que o sucesso profissional está no A do CHA. A ATITUDE não é como o conhecimento e a habilidade, que a empresa investe e aperfeiçoa. A ATITUDE é o reflexo de sua postura diante do mundo e das pessoas.
Você tem a liberdade de professar qualquer fé ou ideologia, tudo é permitido, mas sua relação com o OUTRO e o GRUPO é o que faz a diferença como líder, empreendedor, artista...
O Desenvolvimento do espírito e da mente não se faz através de livros técnicos ou auto-ajuda, mas com leitura de atualidades da ciência, literatura, poesia, filosofia, mente aberta a outras formas de ver o mundo, aceitar as diferenças de pontos de vista e conhecê-los melhor.

A universidade de Stanford perguntou e ex-alunos de sua Escola de Negócios responderam. Veja o que eles pensam sobre o assunto

Redação, administradores.com.br, 14 de outubro de 2013, às 18h02

Shutterstock
A universidade de Stanford, nos EUA, perguntou a vários ex-alunos de sua Escola de Negócios que conseguiram destaque no mercado quais os valores e princípios mais importantes para eles na carreira que estão trilhando. Abaixo você encontra uma compilação dessas máximas pessoais e profissionais, para se inspirar e relembrar aquilo que é fundamental, dentro da sua própria experiência em administração.
Veja os dez principais valores citados nas respostas:

1. Tratar os outros como queremos ser tratados

"Eu acredito muito nessa regra de ouro. Ela é o valor dominante nas minhas relações profissionais. Se você trata bem as pessoas, de modo geral elas também lhe tratarão bem. Esse princípio faz com que você durma bem à noite, com uma consciência tranquila, e lhe confere enorme respeito. De vez em quando alguém vai tirar vantagem de você por causa disso, mas é só decidir não trabalhar mais com essa pessoa"  (Andy Rachellf - CEO da Wealthfront)

2. Integridade

"Quer dizer se relacionar com as pessoas de forma autêntica e verdadeira. Na Pagatech nós mantemos as promessas que fazemos a parceiros e clientes, e buscamos fazer o nosso melhor para permanecermos transparentes na forma como conduzimos nossos negócios." (Jay Alabraba - Co-fundador da Pagatech)

"Eu tenho relacionamentos profissinais que já duram 30 anos e a maioria dos negócios que fechei com essas pessoas foi selada com um aperto de mão. Dependendo da pessoa, isso pode valer mais do que qualquer outro contrato." (Bob Moog - CEO da University Games)

3. Ser direto

"Comigo, o que você vê é o que eu sou. No mundo corporativo norte-americano isso não me favorecia. Como empreendedora, porém, eu gosto de selecionar meus clientes. Eu escolho trabalhar com pessoas que são diretas e que apreciam e valorizam essa minha característica". (Denise Brosseau - CEO da Thought Leadership Lab)

4. Confiança

"Um dos valores principais da Tiny Prints é o de tratar uns aos outros como família. Quando recrutamos novos funcionários procuramos pessoas que valorizem relacionamentos significativos. Nossa empresa busca criar conexões melhores e o ambiente de trabalho é bastante 'universitário'. Todos que trabalham aqui se tornaram bons amigos, padrinhos e madrinhas, colegas de apartamento. Eles têm lealdade uns para com os outros. Claro que toda família tem seus problemas, mas nós tentamos gerar confiança, para que cada funcionário se sinta à vontade para dar seu feedback, mesmo quando for difícil. Onde há confiança se sabe que as críticas estão vindo com boas intenções". (Laura Ching - Co-fundadora da Tiny Prints)

5. Comunicação aberta e honesta

"Problemas se espalham quando as equipes não são honestas, especialmente se tratando de times diversificados, onde há muitas opiniões diferentes. Enquanto líder, é preciso criar uma cultura que recompense e promova a honestidade, mesmo que isso gere desacordos. Também é importante ser ousado, especialmente se você é um empreendedor e quer impactar seu país e mudar o mundo. Isso requer coragem." (Steve Poizner - CEO da Empowered Carreers)

6. Gratidão/valorização

"Todos nós nos sentimos gratos pelos negócios que construímos juntos e pelas oportunidades que temos, por isso trabalhamos para transmitir esse sentimento para os nossos funcionários, clientes e parceiros." (Beth Cross - Fundadora e CEO da Ariat International)

7. Honestidade, simplicidade e fazer algo que você acredita ter um valor real

"Muitas empresas fazem pesquisas de mercado e tentam se antecipar em conhecer as necessidades do cliente. Eu prefiro simplesmente desenvolver grandes produtos e contar uma história honesta sobre eles. Todo o marketing excessivo no mundo comercial tem criado um desejo por autenticidade." (Rob Forbes - Fundador da Design Within Reach e da Public Bikes)

8. Paixão

"Eu só quero que as pessoas trabalhem na Stella & Dot se elas sentirem que isso se encaixa em sua missão de vida. A vida é muito curta para não amar o que você faz, o porquê do que você faz e com quem o faz. Quando você acordar precisa se perguntar 'O que eu estou fazendo é o meu melhor propósito? Eu amo o lugar onde moro, quem eu conheço, o meu trabalho?' Muitas vezes fazemos certas coisas porque precisamos pagar as contas ou porque a posição oferecida é uma 'oportunidade'. Eu respeito quem trabalha para pagar as contas, mas quem está nessa situação deve continuar na jornada para fazer isso enquanto trabalha em algo que ama." (Jessica Herrin - Fundadora da Stella & Dot)

9. Transparência e abertura

"Acredito que você deva compartilhar o que muitos consideram segredos sobre como a empresa realmente está se saindo, inclusive financeiramente, com todos os funcionários, absolutamente. Não deve haver contenção de informações. Também acredito que cada colaborador deva ser encorajado a fazer experimentos rápidos, que falharão com a mesma velocidade. Esses testes mostram as melhores ideias e estas devem prevalecer" James Gutierrez - (Fundador da Progreso Financiero)

10. Trabalhar para fazer diferença no mundo

"Você pode ver quem tem mais poder numa sociedade observando quem possui os maiores prédios. Há 200 anos eram as catedrais. Há 50 eram os prédios governamentais. Hoje, na maioria das áreas urbanas, o poder está nos negócios e seus arranha-céus. A administração e o empreendorismo são a influência mais forte e poderosa no mundo de hoje. 54 das 100 entidades mais poderosas do mundo atualmente são empresas, não países. Isso significa que é muito mais importante que os empreendimentos adotem uma perspectiva capitalista consciente para fazer a diferença. Eu acredito nisso em nível global. Empresas estão finalmente se perguntando 'qual  é a marca ecológica que deixaremos?' Elas também precisam olhar para a marca emocional que deixam em seus funcionários." (Chip Conley - Fundador da rede de hotéis Joie de Vivre)
Para ler as entrevistas na íntegra, acesse a matéria original, no Tumblr da Stanford Business.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Afinal, qual o valor da biodiversidade?

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Caras e Caros,

Mesmo com o debate abaixo, ainda insisto em dizer que a reserva de biodiversidade da Amazônia tem potencial de alavancar desenvolvimento econômico e social para a Amazônia E para o país maior do que o pré-sal.

Os fatos apresentados não se configuram regra, e infinitas possibilidades existem na biotecnologia x conhecimento.

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Fernando Reinach
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Afinal, qual o valor da biodiversidade?

05 de outubro de 2013 | 2h 03


Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Os cientistas que estudam a biodiversidade estão coçando a cabeça. Um composto químico, imaginado pela mente de um cientista alemão, sintetizado por um laboratório farmacêutico, e vendido como um potente analgésico desde 1970, foi agora encontrado em uma planta africana. É o primeiro caso desse tipo na história da indústria farmacêutica.

A indústria farmacêutica nasceu da exploração da biodiversidade. Centenas de compostos químicos como a aspirina (acido acetilsalicílico), a morfina e a penicilina já existiam nos seres vivos muito antes do homem surgir no planeta Terra. Nossos ancestrais começaram a usar plantas para tratar doenças e, durante muitos séculos, os extratos de plantas eram os únicos medicamentos disponíveis. Com o desenvolvimento da química, as moléculas responsáveis pelos efeitos curativos desses extratos foram isoladas e identificadas. Poucos anos depois, essas moléculas, em vez de serem extraídas diretamente das plantas, passaram a ser sintetizadas em laboratório, o que diminuiu muito seu custo.

Numa etapa seguinte, os cientistas passaram a imaginar e sintetizar novas moléculas com base no que a ciência descobria sobre o funcionamento do corpo humano, dos vírus, das bactérias e dos parasitas. Isso permitiu a criação de um grande número de remédios que não se baseiam em compostos presentes na biodiversidade, como grande parte das drogas usadas para combater o HIV e diversos tipos de câncer.

Apesar desse progresso, muitas empresas ainda tentam descobrir novas moléculas nas plantas usadas como remédio por tribos indígenas.

Esse esforço gerou alguns novos medicamentos, mas está sendo abandonado, pois, em muitos casos, o que se descobriu é que essas novas plantas produzem compostos que já eram conhecidos (por exemplo, novas plantas que produzem aspirina).
Atualmente se discute se o futuro da indústria farmacêutica ainda depende de compostos descobertos em seres vivos (nossa biodiversidade), ou vai ser baseado em nossos conhecimentos sobre o funcionamento dos seres vivos.

Agora esse debate vai pegar fogo.

Na República dos Camarões, o extrato da casca de uma planta da família do café, chamada Nauclea latifólia, é muito usado no tratamento da dor. Um grupo de cientistas de Camarões se associaram a cientistas franceses e suíços para isolar desses extratos a molécula capaz de combater a dor. Depois de alguns anos de trabalho, a molécula foi isolada e sua atividade analgésica comprovada. Imagino que eles ficaram felizes, haviam descoberto um novo analgésico. O composto purificado foi então analisado com o objetivo de se descobrir sua fórmula química. Aí veio a surpresa. A fórmula química do composto encontrado na casca da Nauclea latifólia era idêntica à formula química do Tramadol, um analgésico poderoso que é usado faz décadas em praticamente todo o mundo.

Se o Tramadol original tivesse sido descoberto a partir da biodiversidade, isso não seria novidade, afinal é bastante comum se descobrirem novas plantas que sintetizam um composto já isolado no passado em alguma outra planta. Mas o Tramadol nunca havia sido encontrado na natureza. Ele foi criado por um cientista que, por volta de 1964, imaginou que moléculas semelhantes à morfina poderiam ter efeitos analgésicos. Com um pedaço de papel, um lápis e muita imaginação, ele desenhou a fórmula química de diversos compostos com estruturas parecidas à morfina, mas muito mais simples. Cada um desses compostos foi sintetizado e testado em animais. Entre os compostos estava o Tramadol. Após muitos testes, o Tramadol foi aprovado para uso humano e, em 1970, chegou ao mercado. Hoje ele é vendido em todo o mundo.

Esse é o primeiro caso de um composto criado e sintetizado pelo homem que é posteriormente encontrado em uma planta em concentrações suficientemente para ter efeitos terapêuticos.

A pergunta que agora incomoda os especialistas em biodiversidade é a seguinte: será que estudando a biodiversidade vamos encontrar muitos casos em que produtos da mente humana vão estar presentes em plantas e animais? E se esse for o caso, qual a maneira mais eficiente de descobrir novos compostos? Explorando a criatividade humana, derivada de nossa cultura, ou investigando a biodiversidade, resultado do processo de seleção natural?

É interessante pensar que a mente de um sofisticado químico alemão produziu um composto idêntico a uma molécula presente na natureza que vem sendo utilizada faz séculos pelas populações nativas da República dos Camarões.