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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Afinal, qual o valor da biodiversidade?

Caras e Caros,

Mesmo com o debate abaixo, ainda insisto em dizer que a reserva de biodiversidade da Amazônia tem potencial de alavancar desenvolvimento econômico e social para a Amazônia E para o país maior do que o pré-sal.

Os fatos apresentados não se configuram regra, e infinitas possibilidades existem na biotecnologia x conhecimento.

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Fernando Reinach
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Afinal, qual o valor da biodiversidade?

05 de outubro de 2013 | 2h 03


Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Os cientistas que estudam a biodiversidade estão coçando a cabeça. Um composto químico, imaginado pela mente de um cientista alemão, sintetizado por um laboratório farmacêutico, e vendido como um potente analgésico desde 1970, foi agora encontrado em uma planta africana. É o primeiro caso desse tipo na história da indústria farmacêutica.

A indústria farmacêutica nasceu da exploração da biodiversidade. Centenas de compostos químicos como a aspirina (acido acetilsalicílico), a morfina e a penicilina já existiam nos seres vivos muito antes do homem surgir no planeta Terra. Nossos ancestrais começaram a usar plantas para tratar doenças e, durante muitos séculos, os extratos de plantas eram os únicos medicamentos disponíveis. Com o desenvolvimento da química, as moléculas responsáveis pelos efeitos curativos desses extratos foram isoladas e identificadas. Poucos anos depois, essas moléculas, em vez de serem extraídas diretamente das plantas, passaram a ser sintetizadas em laboratório, o que diminuiu muito seu custo.

Numa etapa seguinte, os cientistas passaram a imaginar e sintetizar novas moléculas com base no que a ciência descobria sobre o funcionamento do corpo humano, dos vírus, das bactérias e dos parasitas. Isso permitiu a criação de um grande número de remédios que não se baseiam em compostos presentes na biodiversidade, como grande parte das drogas usadas para combater o HIV e diversos tipos de câncer.

Apesar desse progresso, muitas empresas ainda tentam descobrir novas moléculas nas plantas usadas como remédio por tribos indígenas.

Esse esforço gerou alguns novos medicamentos, mas está sendo abandonado, pois, em muitos casos, o que se descobriu é que essas novas plantas produzem compostos que já eram conhecidos (por exemplo, novas plantas que produzem aspirina).
Atualmente se discute se o futuro da indústria farmacêutica ainda depende de compostos descobertos em seres vivos (nossa biodiversidade), ou vai ser baseado em nossos conhecimentos sobre o funcionamento dos seres vivos.

Agora esse debate vai pegar fogo.

Na República dos Camarões, o extrato da casca de uma planta da família do café, chamada Nauclea latifólia, é muito usado no tratamento da dor. Um grupo de cientistas de Camarões se associaram a cientistas franceses e suíços para isolar desses extratos a molécula capaz de combater a dor. Depois de alguns anos de trabalho, a molécula foi isolada e sua atividade analgésica comprovada. Imagino que eles ficaram felizes, haviam descoberto um novo analgésico. O composto purificado foi então analisado com o objetivo de se descobrir sua fórmula química. Aí veio a surpresa. A fórmula química do composto encontrado na casca da Nauclea latifólia era idêntica à formula química do Tramadol, um analgésico poderoso que é usado faz décadas em praticamente todo o mundo.

Se o Tramadol original tivesse sido descoberto a partir da biodiversidade, isso não seria novidade, afinal é bastante comum se descobrirem novas plantas que sintetizam um composto já isolado no passado em alguma outra planta. Mas o Tramadol nunca havia sido encontrado na natureza. Ele foi criado por um cientista que, por volta de 1964, imaginou que moléculas semelhantes à morfina poderiam ter efeitos analgésicos. Com um pedaço de papel, um lápis e muita imaginação, ele desenhou a fórmula química de diversos compostos com estruturas parecidas à morfina, mas muito mais simples. Cada um desses compostos foi sintetizado e testado em animais. Entre os compostos estava o Tramadol. Após muitos testes, o Tramadol foi aprovado para uso humano e, em 1970, chegou ao mercado. Hoje ele é vendido em todo o mundo.

Esse é o primeiro caso de um composto criado e sintetizado pelo homem que é posteriormente encontrado em uma planta em concentrações suficientemente para ter efeitos terapêuticos.

A pergunta que agora incomoda os especialistas em biodiversidade é a seguinte: será que estudando a biodiversidade vamos encontrar muitos casos em que produtos da mente humana vão estar presentes em plantas e animais? E se esse for o caso, qual a maneira mais eficiente de descobrir novos compostos? Explorando a criatividade humana, derivada de nossa cultura, ou investigando a biodiversidade, resultado do processo de seleção natural?

É interessante pensar que a mente de um sofisticado químico alemão produziu um composto idêntico a uma molécula presente na natureza que vem sendo utilizada faz séculos pelas populações nativas da República dos Camarões.

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