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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Brasil cai duas posições em ranking de competitividade

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WCY
31/05/2012 08:54

Entre as economias mais competitivas do mundo, está Hong Kong, encabeçando a lista. Nosso país desceu dois degraus, para a 46.ª colocação no ranking formado por 59 países

Beatriz Bulla, da
São Paulo - O Brasil caiu duas posições no Índice de Competitividade Mundial 2012, o World Competitiveness Yearbook (WCY), divulgado nesta quinta-feira pelo International Institute for Management Development (IMD). De acordo com o levantamento, o país desceu dois degraus, para a 46.ª colocação no ranking geral, formado por 59 países. A queda do Brasil não foi tão expressiva quanto a do ano passado. Em 2010, o país ocupava o 38.º lugar, mas foi para 44.º em 2011.

De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral e responsável pela coleta e análise dos dados do ranking no Brasil, Carlos Arruda, a perda de duas posições é ainda uma consequência da queda da colocação do país no ano passado. "Não tem nenhum fato novo relevante que leve a essa perda, a não ser as consequências do ano passado, quando o país perdeu muito em produtividade", disse, explicando que desde 2011 o país está em 52.º lugar na análise de produtividade.

Nos grandes grupos de análise usados para avaliar os países, o desempenho da economia passou do 30.º lugar para o 47.º, enquanto a eficiência do governo se manteve em 55.º, a eficiência dos negócios subiu do 29.º para 27.º e a infraestrutura passou da 51.ª posição para a 45.ª.

Em pesquisa de opinião com executivos - que deveriam apontar cinco indicadores, em uma lista de 15, que percebem como fatores atrativos da economia do país -, 90,9% responderam "dinamismo da economia". Na sequência, veio a estabilidade política e previsibilidade, com 77,3%. Na ponta contrária, o regime fiscal teve 0% de indicações, o nível de escolaridade e a infraestrutura confiável tiveram, cada, 1,1%.

Além da baixa na produtividade, estão entre os motivos que têm levado à queda do Brasil no ranking a alta carga tributária e a falta de um planejamento de longo prazo, de acordo com dois colaboradores do WCY ouvidos pela Agência Estado.

"No ano passado, observamos que o Brasil não estava gerando riqueza no mesmo nível que gerava emprego. Foram gerados muitos empregos de baixo valor agregado e poucos de mão de obra qualificada", afirmou Arruda. Para ele, baixo crescimento econômico, somado ao foco intenso no consumo e à baixa presença do Brasil no comércio internacional, cria um risco grande de o país aos poucos caminhar para recessão e desemprego.

O português Nuno Fernandes, professor de finanças do IMD e colaborador no relatório, cita a baixa exportação de produtos de alto valor agregado como um dos fatores determinantes para empurrar o Brasil para o fim do ranking. Além disso, Fernandes citou a inflação, a burocracia e os altos impostos no país como atores negativos. "Há alguns problemas que geram a descida no ranking, como a burocracia, o protecionismo e as tarifas alfandegárias", disse Fernandes.

Sobre a carga tributária, criticada pelos dois professores, Carlos Arruda afirmou que os altos impostos não são novidade no país e fez um alerta sobre as recentes medidas adotadas pelo governo. "O governo fazer uma reestruturação do sistema tributário é muito necessário, mas não deve ser exclusivamente para curto prazo, para estimular o consumo. Temos de estimular a capacidade do país de ter mais participação no comércio internacional. Não podemos ser só um país para atender às demandas da nova classe média", disse.

Perspectivas
Arruda acredita que as perspectivas para o país não são positivas. "As más notícias vão ser recorrentes se nós não fizermos uma ação de país", disse, analisando o que chama de "cultura do curto prazo". Ele afirma que é necessário ter um projeto de país feito pelos setores público e privado em conjunto para investir no aumento da produtividade e no reposicionamento do Brasil. "Sem isso, não vai adiantar (investir em infraestrutura). Já estamos no meio do ano e as agendas são todas de curto prazo. O Brasil não está mal, mas não está se preparando para o futuro", afirmou.

Na medição de infraestrutura, o país subiu do 51.º lugar, que ocupava no ano passado, para o 45.º. O maior salto, contudo, foi na infraestrutura básica, em que o país subiu cinco posições. Na infraestrutura tecnológica e na científica, contudo, o país subiu dois lugares e um lugar, respectivamente.

Nuno Fernandes concorda que só investimento em infraestrutura é insuficiente. "Não basta pensar na infraestrutura. Para o Brasil voltar a subir no ranking é preciso haver política de investimento em outro tipo de infraestrutura: tecnológica e científica e em educação", disse.

Entre as economias mais competitivas do mundo, está Hong Kong, encabeçando a lista, seguido por Estados Unidos e Suíça. No Brasil, a pesquisa é coordenada pela Fundação Dom Cabral, classificada como a oitava melhor escola de negócios do mundo no ranking de educação executiva do jornal britânico "Financial Times". Na mesma lista, o IMD, realizador do Índice de Competitividade Mundial, ficou em terceiro lugar.

terça-feira, 29 de maio de 2012

5 visões nada animadoras sobre a crise mundial

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Do colapso da zona do euro à recessão global, não faltam previsões pessimistas sobre a economia mundial nos próximos meses; conheça algumas

  
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São Paulo – Em meio às incertezas que cercam a possível saída da Grécia da zona do euro, não faltam palpites sobre os rumos da economia mundial no futuro próximo.
Enquanto alguns analistas minimizam os potenciais efeitos da decisão, outros enxergam um cenário bastante sombrio – com ou sem “Grexit”.
Confira, a seguir, algumas visões pouco animadoras de economistas gabaritados sobre os rumos que a crise deve tomar nos próximos meses:
A economia americana vai piorar
Apesar dos sutis sinais de recuperação da economia americana no início do ano, como a melhoria nos índices de desemprego, para Lakshman Achuthan, CEO do Economic Cycle Research Institute, este não será um bom ano para os Estados Unidos. Analisando previsões para os indicadores de produção, emprego, renda e vendas, o instituto concluiu que o “crescimento econômico dos Estados Unidos está, na verdade, piorando e não se revitalizando”.
A zona do euro vai desmoronar
Para Albert Edwards, estrategista da Societe Generale (SocGen), não só a economia americana vai escorregar de novo para a recessão, como a bolha de crédito na China vai estourar e a zona do euro vai desmoronar.  “Se você acha que as coisas estão ruins agora, elas estão prestes a ficar piores”, disse ele, em entrevista ao The Globe and Mail
O câncer do crédito está em metástase
Para Bill Gross, o megainvestidor fundador da Pimco, o problema na Europa é apenas um tumor localizado, mas o “câncer no crédito pode estar em metástase”. Em sua coluna no Financial Times, ele disse que o sistema monetário global é “fatalmente falho”, com rendimentos cada vez menores e mais arriscados, produzidos por crises de dívida e as respostas políticas a ela.
O pior ainda está por vir
Para Peter Schiff, CEO da Euro Pacific Capital e autor do livro “The Real Crash: How To Save Yourself And Your Country” (“O verdadeiro crash: como salvar a você mesmo e a seu país”, sem versão em português), o pior da crise ainda está por vir. Ele defende que a economia americana não está melhorando, mas sim ficando mais “doente” e que verdadeira crise não está no passado e sim no futuro. Para o analista, ao tentar evitar a “dor” da cura, os Estados Unidos só adiaram o sofrimento, que será ainda maior.
100% de chance de recessão global
Para Marc Farber, investidor e autor da newsletter Gloom Boom & Doom Report, pode haver uma recessão global já no quarto trimestre deste ano ou no início do próximo. Para o investidor, há “100% de chance” que isso aconteça. Em entrevista à CNBC.com, ele destacou que, enquanto o mundo se preocupa apenas com a Grécia e com a Europa, há sinais preocupantes de que a atividade econômica na China e na Índia está diminuindo. 

KAIZEN: Um processo de melhoria contínua nas empresas

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quinta-feira, 24 de maio de 2012


Kaizen surgiu no início da década de 50, no Japão, por necessidade e não por opção. As empresas japonesas necessitavam crescer, porém não tinham dinheiro e tão pouco o governo japonês podia emprestar. Não podemos esquecer que o Japão tinha perdido a II Guerra mundial, seu país estava arruinado, as empresas japonesas tinham que ter produtos com boa qualidade e com preço competitivo e, o pior, não tinham máquinas sofisticadas ou automáticas, como tinham os Americanos. Os japoneses, para poderem ser competitivos, tinham que ser mais criativos do que os demais países na área da produção.

A teoria clássica de administração de Taylor ajudou os japoneses a criarem o KaizenEm julho de 1950, o governo japonês, em conjunto com a organização União Japonesa de Cientistas e Engenheiros, JUSE Japanese Union of Scientists and Engineers, convidou o Americano W. E. Deming para fazer várias palestras, em 8 dias, sobre Controle Estatístico da Qualidade. Para Willian Edwards Deming, (1900 a 1993), o objetivo do administrador é otimizar o sistema como um todo.  Deming sempre empregou a harmonia, importância da constante pesquisa em projeto, produção e vendas, para que a empresa possa atender as necessidades do mercado e do cliente com produtos de melhor qualidade. “Quando o dinheiro é um fator crítico, a inovação é cara. Kaizen, por outro lado, enfatiza os esforços humanos, moral, comunicação, treinamento, trabalho em equipe, envolvimento e autodisciplina – uma abordagem de baixo custo à melhoria”. Masaaki Imai (2007).

O método Kaizen é muito mais do que um processo de melhoria contínua, é uma crença na qual a criatividade das pessoas persegue as condições ideais de um processo, mesmo que este objetivo nunca seja alcançado. Temos 5 elementos fundamentais:        a) trabalhar em equipe; b) disciplina pessoal; c) constantes sugestões de melhorias; d) eliminação de desperdícios; e)Kaizen deve tornar o trabalho mais fácil para as pessoas.

Após muita disciplina e dedicação, as empresas japonesas, no início da década de 70, começam a mostrar sua evolução na produtividade, qualidade, eficiência, e vários estudiosos, empresários e jornalistas começam a acompanhar esta evolução. Conforme Masaaki Imai (2005): “Eles dedicaram muita atenção a algumas das práticas exclusivas de administração do Japão, entre elas o sistema de emprego vitalício, os salários baseados no tempo de serviço e os sindicatos nas empresas”.

Kaizen significa melhoria contínua, ou seja, cada vez que se repete uma tarefa, esta tarefa deverá ser feita com melhora de qualidade e com menor tempo do que a vez anterior, pois estamos apreendendo com a repetibilidade do processo. No Japão, a palavra Kaizen significa: Kai = mudar e zen = o melhor, e ela é empregada para várias situações, não somente na empresa, mas também na escola, na sociedade e na vida familiar.

A principal pessoa que divulgou a filosofia Kaizen no ocidente foi o Professor Masaaki Imai, fundador do Instituto Kaizen. Masaaki Imai nasceu no Japão, em Tókio, em 1930, e em 1955 se formou na Universidade de Tokyo. Além de ter escrito vários livros sobre o assunto, entre eles,Kaizen, the key to Japan’s Competitive Sucess (podemos traduzir ao português como: Kaizen, a chave do sucesso das companhias Japonesas), no início dos anos 50, Masaaki Imai trabalhou nos Estados Unidos, no Japan Productivity Center, na cidade de Washington, onde acompanhava delegações de japoneses que visitavam as principais empresas americanas para aprender o segredo da produtividade americana. Em 1986, fundou o Instituto Kaizen e, nesse mesmo ano, publicou o livro Kaizen, the key to Japan’s Competitive success. O sucesso dessa publicação foi tão grande que o livro foi traduzido para 14 idiomas.

Kaizen tem como objetivo a melhoria contínua do processo; melhorando constantemente o processo, a empresa terá menor custo e, como conseqüência, maior lucro. O desperdício,mudá em japones, em todas as formas, é muito combatido pela filosofia Kaizen.

Kaizen não é uma reengenharia, Kaizen significa melhorias contínuas, envolvendo todas as pessoas da empresa, desde o presidente até o operário. A filosofia Kaizen afirma que devemos fazer constantes melhorias, seja em nossa vida, no trabalho, na sociedade e em nosso próprio lar.

Ele é um processo de origem japonesa, com sistema incremental, ou seja, contínua e gradual. Tem como princípio que a vida merece uma constante melhoria  portanto, na vida em geral (pessoal, familiar, social e no trabalho). Podemos simplificar o pensamento Kaizen como: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje” (de autor desconhecido). Para Kaizen,é sempre possível fazer melhor. Como conceito dentro de uma empresa, deveríamos ter, no mínimo, uma melhoria implantada por dia. Os elementos-chaves para o sistema Kaizeneficientes são:

  • a) qualidade em tudo que se faz;
  • b) esforço e dedicação;
  • c) envolvimento de todos os funcionários da empresa, desde o presidente até o operador de máquinas;
  • d) vontade de mudar e de vencer;
  • e) comprometimento.

Sucesso do sistema Kaizen

É parte da estratégia do Kaizen que nenhum dia deve passar sem algum tipo de melhoria ter sido implantada dentro da empresa. O melhor sistema do mundo só trará resultado se as pessoas que estão envolvidas tiverem interesse em que o mesmo tenha êxito. O envolvimento total, desde a diretoria até o operador de máquina, é fundamental para o êxito do Kaizen. Além do envolvimento total de todos os níveis da empresa, é necessário o comprometimento de todos para com o processo, com as metas e com os resultados. Toda empresa busca aumento da lucratividade e aumento da participação em seu mercado, Marketing Share, e para isso ela deve ter missão, visão e objetivos, bem como prover aos funcionários um trabalho e uma convivência de forma equilibrada e prazerosa. Isso porque trabalhando e vivendo de forma equilibrada e satisfatória, é possível aumentar a produtividade e melhorar a qualidade.

Clima agradável de trabalhar é necessário que todos os funcionários tenham bom relacionamento e harmonia entre eles; não é admissível a diferença entre funcionários. De acordo com o artigo publicado em 15 de Agosto de 2006, pelo Dr. Koiti Egushi, denominado, “Os 5S da administração Japonesa”, comenta-se com grande propriedade sobre a filosofia japonesa da harmonia: “Desde a remota era dos primeiros samurais em torno dos anos 700, conforme relata Ferri de Barros, os japoneses, pela forte influência da cultura Chinesa e principalmente, Lao Tse e Confúcio, promovem o espírito, WA, a harmonia. Harmonia em tudo. Harmonia entre os desiguais, harmonia entre os contrários. Harmonia entre o bem e o mal. Harmonia entre o a alegria e a tristeza. Harmonia entre o bem-aventurado e o desgraçado. Sobretudo entre pessoas”.

Partindo do objetivo de que dentro da empresa devemos ter no mínimo uma melhoria implantada por dia, podemos afirmar que esta metodologia traz resultados qualitativamente e quantitativamente, com custo baixo e em prazo de tempo curto, tendo como consequência a melhoria da qualidade do serviço ou produto e o aumento da lucratividade da empresa. 

Por: Anselmo Buttner

domingo, 27 de maio de 2012

“Precisamos de uma agência de desenvolvimento sustentável”

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Otimista com a Rio+20, deputada que participou da elaboração da Agenda 21 acredita que as soluções para as grandes questões do meio ambiente estão nas cidades

  • Entrevista
  • 27/05/2012 18:02
Luís Bulcão, de

Rio de Janeiro - Engajada nas discussões sobre desenvolvimento sustentável desde a preparação da Agenda 21, na Rio 92, Aspásia Camargo se dedica no momento ao que considera ser um "trabalho de parto": a formação do documento final da Rio+20. Deputada estadual pelo PV no Rio, e pré-candidata à prefeitura da cidade, ela se divide entre o mandato e as reuniões na sede da ONU, onde esteve no dia 4 e para onde parte novamente na próxima terça-feira. 

Inimiga do que considera a absurda rivalidade Rio-São Paulo, Aspásia, que é representante da União Nacional dos Legisladores na Rio+20, vê nas cidades os problemas, mas também as soluções para grandes questões do meio ambiente. “Isso (a disputa) é coisa da República Velha. Estaremos conurbados em 2050. Vai ser uma coisa só”, prevê. Defensora da criação de uma agência de desenvolvimento sustentável, ela rejeita a tese de que a conferência de 20 anos atrás tenha fracassado. 

Mas não tem dúvida de que houve falhas graves na implementação do que foi acordado. Aspásia é também a memória vida do ambientalismo no Brasil, e vê com otimismo o clima para a realização da Rio+20. "Em 1992, nós tínhamos um legado. Não exercemos porque o Brasil estava na pior crise da história", compara, na seguinte entrevista ao site de VEJA:

Vinte anos após da conferência, o que se avançou em relação ao desenvolvimento sustentável?

A Rio+20 se sustenta em um conjunto de diagnósticos muito grave sobre clima, biodiversidade, desertificação, desaparecimento das florestas. Isso é a herança de 92. Os limites do planeta estão já devidamente inventariados. Isso gerou um impacto na área científica, de governo, empresarial. Por que nós sabemos tanta coisa e não conseguimos avançar? Os governos continuam se movendo dentro do velho paradigma produtivo, herdeiro da revolução industrial, que ainda não deu sinais de querer se extinguir por autodestruição. Ele está aí, envolve governantes e instituições. Quando o modelo produtivo se consolida, ele ocupa as instituições. Para você inverter a situação, é um verdadeiro trabalho de parto. A Rio+20 é um parto. Você começa com a contração de dez em dez minutos, elas aumentam por pressão dos atores e de interesses. Quando os chefes de estado se reunirem no dia 20 de junho, o bebê acaba nascendo. Seja o que for, bonito ou feio, vai nascer.

O que vai nascer? Na Rio 92, tivemos as convenções e as declarações. A Rio+20 está preparando uma declaração conjunta, apenas. O que vai sair dela?

Que bom que não teremos convenções. Se saísse alguma outra lei ou convenção para me distrair, eu acharia muito desagradável. Já fizeram 800 fóruns de discussão e não deu em nada.

As convenções não deram certo?

Deram. Mas elas não conseguem ser implementadas. O que nós precisamos é implementar. Mas os governos não estão preparados. No princípio era o verbo. É como tudo começa. A principal questão é criar um consenso mundial de que as coisas não podem continuar como estão. O caminho da humanidade tem que passar por um outro lugar, por outro sistema, outro modelo, outro paradigma. O germe já está aí. Mas isso não quer dizer que o que a conferência se dispôs a fazer está garantido. O documento diz: "estamos determinados a tomar medidas ousadas e decisivas". O que todos nós estamos nos perguntando é: Quais medidas decisivas e ousadas serão tomadas? Se eles estão dizendo isso e nada nesse sentido ocorrer ao final da conferência, vai ser uma grande frustração. Mas é como um iceberg. O que é negociado é o ponto visível, e dois terços estão submersos, invisíveis, na constituição e no consenso.

Teremos uma rodada extra de negociações. Segundo a avaliação da própria ONU e do governo brasileiro as negociações estão lentas. Teremos uma rodada extra de discussões por causa disso. Ainda não se atingiu o que se esperava?

Há uma lentidão muito grande. Isso é fruto do medo. Mas não é necessariamente a prova de que nada vai acontecer. Pode ser um tempo de maturação. No Brasil, estamos tendo uma série de críticas e cobranças em relação à política ambiental e isso está acontecendo em todos os lugares. O conteúdo da declaração que já temos, mesmo com toda a lentidão processual, já é um documento de grande importância internacional. Só é preciso haver uma capacidade mandatória. Que o documento exija um retorno e não seja apenas uma recomendação vaga, sugerindo iniciativas voluntárias. Deve haver um prazo até 2015 para definir o arcabouço dos indicadores e das metas para o desenvolvimento sustentável. A comunidade científica é que vai ter um peso muito grande na Rio+20. Isso vai ser a salvação da conferência. O grande pulo do gato é a criação de um IPCC do desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável é muito amplo. O que está sendo deixado de fora do documento?

Temos que ser práticos. É um documento muito importante para a consolidação de determinados valores. Isso não é irrelevante, você conseguir um consenso. É preciso para um planeta em globalização ter alguns valores comuns. Estamos construindo essa sociedade global com esses valores. O documento não vai ficar consolidado porque incluiu isso ou tirou aquilo, mas sim pelas âncoras que colocar em alguns temas centrais que vão poder inspirar uma ação de intervenção no processo governamental e no sistema produtivo.
 
Como você compara a conferência há 20 anos, quando a senhora teve forte atuação, com a de hoje?

Era muito diferente. A ideia de que o planeta precisava ser protegido era central, mas não havia o sentimento de urgência e nem de gravidade que tempos hoje. Era um momento de grande expansão econômica. O ambientalismo era a ovelha negra. O "ecochato" ficava vendo defeito em uma coisa que parecia tão boa e otimista. Esse clima de otimismo, no fundo, não ajudou. Foi isso que fez com que ninguém cumprisse meta alguma. Por que vamos reduzir as emissões se o mundo está tão bom, tão belo? Por isso, como socióloga do desenvolvimento, digo que a crise econômica atual não é ruim. Pode ser que os países estejam aflitos e não queiram se comprometer com mais restrições, com mais controle. 

Mas é boa para mostrar que o modelo antigo está em exaustão. O pessimismo geral que corre o mundo encontra um antídoto muito poderoso nessa saída. Nós podemos mudar a direção, pensar em economia verde e em outras soluções. Se você somar todos os investimentos em infraestrutura necessários, verá que é a chance de começar a aplicar um modelo novo em algo que é tradicional de modo em que inclua ações mais sustentáveis.

Como essa nova economia pode prevalecer?

Se as nossas empresas, que constroem, que geram energia, que geram transporte, souberem fazer direito, elas vão sair ganhando. Essa é uma grande lição do meio ambiente à economia. Quando as empresas começaram a praticar ecoeficiência e a diminuir desperdício por pressão ambiental, todos diziam que estavam atrapalhando o desenvolvimento. O que nós vimos foi o inverso. As empresas que aderiram aumentaram a produtividade. Quando você aplica os princípios do meio ambiente, você ganha em eficiência econômica.

Isso vai ser demonstrado na Rio+20?

A preocupação do documento em integrar os pilares (social, econômico e ambiental) é quase obsessiva. Além de integrar os pilares, a economia verde tem que preencher determinados requisitos. Isso gerou graves equívocos. O primeiro é a falta de uma definição para a economia verde no documento. O que está por trás disso é o medo de que economia verde fosse algo ruim. Mas isso não é verdade. A economia verde é uma proposta dos verdes. Em 1992, foi a primeira vez que os Global Greens se reuniram. O movimento verde já nasceu advogando a ideia de esverdear a economia. Já dizíamos que o PIB media coisas destrutivas que não deveriam ser consideradas como desenvolvimento nem crescimento. Aparecem pessoas dizendo que a economia verde é ruim, que é coisa do capitalismo, é coisa das corporações. Na verdade, foi uma coincidência. A economia verde é inovação. Você tem que aumentar a eficiência e modificar os padrões de produção e consumo. E é aí que a diplomacia brasileira está jogando toda a sua energia e os países desenvolvidos estão aderindo. É o capítulo mais difícil da Agenda 21 global: mudança de padrões de produção e consumo.

Isso envolve diminuir o consumo. Todos estão aderindo à ideia?

O que essa conferência traz de ameaçador, em um certo sentido, para os países desenvolvidos, mas de estimulante para os países em desenvolvimento — uma espécie de vingança simbólica — é a ideia de que você vai cortar o barato do consumismo. Se isso não for mudado, não será possível abrigar 9 bilhões de pessoas no planeta.

Como esses padrões de consumo podem ser modificados? Qual é a grande sacada?

Temos que diminuir drasticamente o descartável, que já pareceu uma coisa tão moderna. Mas na verdade você pode beber em um copo que você pode lavar e usar de novo. É melhor do que você pegar uma montanha de copos, jogar tudo fora e ter que comprar outro. Outro fator é o combate ao hedonismo da sociedade capitalista de abundância. As pessoas gastam demais por vaidade, por inconsequência. As pessoas costumavam se orgulhar de ter roupas que duram. A ideia de que você tem que descartar tudo para comprar na próxima estação precisa ser modificada. São padrões culturais que precisam ser conscientizados. É preciso neutralizar isso com práticas mais sóbrias. Nós brasileiros estamos vivendo em uma sociedade do consumismo. Todo o dinheiro que você tiver, o governo diz para gastar para movimentar a economia. Nós temos que movimentar as coisas de um outro jeito.

Ao mesmo tempo em que o Brasil está crescendo internamente e estimulando a cadeia produtiva e o consumo, o país busca uma modificação nos padrões internacionais dos países desenvolvidos. Isso não é contraditório?

É. Mas temos que explorar essa contradição em favor da evolução e não em favor do que está errado. É difícil pedir a solução de todos os problemas. Mas o Brasil tem o compromisso de ser vanguarda. O país ainda não tomou essa decisão. Mas tenho certeza que a presidente Dilma deve estar pensando muito nisso. Ela vai receber mais de cem chefes de governo e de estado. Acho que ela vai refletir sobre a importância de o Brasil deixar de ser uma espécie de maria-vai-com-as-outras do sistema mundial. O Brasil hoje é exportador de produtos primários. Isso nem sequer honra o nosso passado. O agronegócio é útil e importante, mas não podemos ficar só na mão dos agronegócio.

Como o Brasil pode exercer um papel central?

A primeira conquista da Rio+20 é integrar os pilares na ONU. Acho ótimo fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Mas precisamos de uma agência de desenvolvimento sustentável, um grande centro mundial. Esses dez meses, dediquei enorme energia para ter um legado dessa conferência para o Brasil. E esse legado, para a minha emoção, vai sair. Eu só quero que ele saia com a grandeza que esse país e essa cidade merecem. Em 1992, nós tínhamos um legado. Não exercemos porque o Brasil estava na pior crise da história. Eu criei esse centro na FGV (CIDS - Centro de Desenvolvimento Sustentável). Não tinha condição de operar globalmente com ele. O Brasil sequer conhecia o vocabulário da globalização. Não sabia nem conversar com qualquer coisa que estivesse fora das nossas fronteiras. Por motivos muito concretos. Não tinha sistema administrativo para isso.

O quanto já conseguimos avançar?

Agora o Itamaraty está consciente dessa importância. O prefeito vai tomar uma decisão estratégica nos próximos dias. Estou propondo a ele um grande centro mundial que tenha como um dos seus principais objetivos não só acompanhar e monitorar o desenvolvimento sustentável do planeta, com um sistema de informações e de acompanhamento com alta tecnologia. Temos que jogar todos os esforços nos temas que a conferência eleger como principais. Esse centro, por exemplo, precisa também de um centro de cidades sustentáveis. Nós conseguimos que as cidades sejam tratadas como grandes protagonistas. Na questão climática, você pode dizer que os Estados Unidos têm uma posição extremamente conservadora e impenetrável. Mas você não pode dizer isso de Los Angeles e de Nova York. Se as cidades são o problema onde se concentram 70% das emissões, elas também são a solução.

Quem está envolvido na criação desse centro? Seria uma agência da ONU?

Seria um misto da ONU, com promoção pelo Brasil. Algo como um centro global com os governos. Precisamos de um pacto federativo para atender os níveis de governo. Precisamos de um sistema de participação científica que atraia os talentos para as discussões e debates. Precisamos incluir as empresas brasileiras e internacionais que tenham esse empenham precisam estar conosco. Temos dois grandes apoiadores. O Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud) e a Universidade das Nações Unidas em Tóquio, que quer ter aqui um instituto de estudos avançados da sustentabilidade. O embaixador (André Corrêa do Lago, negociador chefe do Brasil para a Rio+20) deu a algumas pessoas a incumbência de consolidar uma proposta e estamos nos preparando para fazer isso acontecer. A questão é saber onde como e com quem. Queremos os atores estratégicos conosco. Um compromisso com comunidades sustentáveis para erradicar a pobreza. A economia verde tem que ter um papel social e distributivo, mas também não temos medo de dizer que economia é bom, que empresa é bom. Queremos ter esses atores conosco e os princípios da governança.

Queimei meu filme com o chefe, e agora?

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25/05/2012 06:00

A especialista em etiqueta empresarial Romaly de Carvalho conta o passo a passo de como sair de uma situação desconfortável com o chefe


São Paulo – Algumas situações pontuais (um ou outro atraso, um comentário muito pessoal ou uma piada fora de hora, por exemplo) podem gerar desconforto no ambiente de trabalho. O que fazer quando o clima fica pesado entre você e seu chefe?
Para responder essa questão, EXAME.com conversou com professora da Fundação Getúlio Vargas e especialista em etiqueta empresarial Romaly de Carvalho, que listou três passos essenciais a serem seguidos:
Espere a situação se acalmar
Segundo Romaly, a primeira coisa a ser feita é deixar todos os envolvidos respirarem e a situação esfriar. Para ela, não adianta tentar resolver confrontos de cabeça quente: “O jeito é dar uma de submarino, sabe? Sumir.”, brinca. Por um tempo, claro.
Chame o chefe para uma conversa
“A melhor maneira de resolver uma situação dessas é conversando abertamente sobre o que aconteceu”, explica Romaly. A especialista conta que a fórmula é simples: assumir o erro, pedir desculpas e prometer que aquilo não vai se repetir. “Não tente justificar seu erro, a pessoa se arma quando vê alguém se justificando. Apenas assuma o que fez”, reitera.

Durante a conversa, é essencial que você deixe seu chefe falar tudo que ele quiser sem interromper. “Interrupções já são uma quebra na etiqueta, nesta situação, então, elas só podem piorar as coisas”, diz a especialista.

“É importante pensar se você quer ganhar a briga ou resolver a questão”, explica Romaly. Ela lembra que às vezes é melhor ouvir o que o chefe tem a dizer e assumir a culpa do que tentar confrontá-lo ou mostrar o porquê você está certo. “Nós convivemos muito com nossos chefes, e vivemos em rede, todo mundo conhece todo mundo na profissão. Não dá para ter ego nessa hora”, conta a professora.
Reconheça as qualidades do seu chefe
Romaly explica que uma boa maneira de dispersar a tensão é reconhecer abertamente alguns traços positivos do chefe, ressaltar o trabalho dele, mas sem inventar. “Todo chefe tem um ego um pouco inflado e você pode, de forma apropriada, elogiar aquilo que ele faz bem”, afimra a professora. E ela completa: “Mas o elogio só tem valor com a correspondência verídica. Ninguém gosta de um puxa-saco”.
Melhore
O último passo é o mais simples de dizer, mas talvez o mais difícil de ser cumprido. Ele consiste em fazer tudo aquilo que você prometeu na conversa. “Depois do encontro com seu chefe, você precisa demonstrar que pode realizar seu trabalho e não repetir o erro que queimou seu filme”, conta Romaly.

Discussões e constrangimentos são comuns no ambiente de trabalho, mas também são absolutamente superáveis. O importante é não levar o que está no ambiente profissional para o lado pessoal e não cometer mesmos erros.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Execução de recursos do PDRS Xingu ainda é lenta

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Notícia do ISA 23/05/2012

Pouco mais de 30% dos recursos aprovados no Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS Xingu) foram executados até agora, de acordo com apresentação da Norte Energia, durante a última reunião do PDRS Xingu, realizada em abril. Na pauta também estiveram o programa Luz para Todos, do governo federal e o monitoramento das condicionantes para a construção da usina.


Até agora, pouco mais de 30% dos recursos aprovados pelo Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS Xingu) foram executados pela Norte Energia – empresa responsável pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA) e também executora dos projetos aprovados no PDRS. Dos 32 projetos aprovados, que tinham caráter de execução emergencial, oito ainda não tiveram nenhum repasse, sendo que quatro sequer saíram papel e um projeto está suspenso, aguardando regularização de documentação.

Os dados foram retirados da apresentação feita pela Norte Energia (veja aqui) durante a última reunião do Comitê Gestor do PDRS Xingu, em Altamira (PA), nos dias 26 e 27 de abril. Apesar de, na prática, pouco ter caminhado até agora, o diretor de Relações Institucionais da Norte Energia, João Pimentel, está satisfeito com o andamento do trabalho que vem sendo desenvolvido na região. Durante sua apresentação no encontro do Comitê Gestor, ele reforçou que os investimentos já aprovados beiram os R$ 28 milhões, mas esqueceu de dizer que nem R$ 9 milhões foram executados até o momento. Em 20 anos, o total investido na região deverá ser de R$ 500 milhões através do PDRS Xingu. Além disso, a Norte Energia deve investir cerca de R$ 3,7 bilhões para a execução dos Planos Básicos Ambientais (PBAs) e deve cumprir as condicionantes socioambientais que não estão contempladas no PBA – sem plano, nem orçamento divulgados.


Veja no mapa abaixo, a abrangência territorial do PDRS Xingu.




















Secretaria executiva
Na reunião de março, os membros do PDRS Xingu haviam discutido a necessidade da implantação de uma secretaria executiva ativa para apoiar o Comitê Gestor (leia aqui). Na ocasião, foi instituído um grupo de trabalho encarregado de formatar uma proposta que atendesse as demandas colocadas pela sociedade civil e que deveria ser deliberada durante a reunião de abril.

Ao contrário do acordado, na 10ª reunião do plano, a única proposta apresentada para a implantação da secretaria executiva foi enviada pelo Consórcio Belo Monte, que não é membro do Comitê Gestor (veja aqui). Diante disso, representantes da sociedade civil, unanimemente, solicitaram um tempo para avaliar a proposta e definir com maior clareza quais deveriam ser as atribuições e o melhor formato para a secretaria executiva do PDRS Xingu.

Estruturação de projetos
Outra deliberação adiada foi em relação aos procedimentos para apresentação de novos projetos em 2012. Diferentemente do ocorrido com a secretaria executiva, neste caso, o grupo de trabalho designado para formular uma proposta de edital com as diretrizes para apresentação e aprovação de novos projetos cumpriu seu papel. A proposta foi amplamente discutida, mas ao final da reunião, o texto ainda não tinha sido votado. A deliberação ficou então para a próxima reunião do Comitê Gestor, nos dias 24 e 25 de maio, que acontecerá em Uruará (PA).

Programa Luz para Todos
Aurelio Pavão de Farias, coordenador do Programa Luz para Todos, do Ministério de Minas e Energia, apresentou os avanços e desafios do programa na região de abrangência do PDRS Xingu. Entretanto, os planos de eletrificação rural mostrados para a região, não contempla as Reservas Extrativistas (Resex) da Terra do Meio, nem as Terras Indígenas. As áreas protegidas representam 70,3 % do território de abrangência do PDRS Xingu. Existem projetos em andamento apenas na Resex Verde para Sempre, que representa 5% das áreas protegidas. Para as outras, Farias disse que é necessário desenvolver projetos específicos. Para tanto, o programa Luz para Todos deve primeiro qualificar a demanda, depois definir projetos de referência e só então montar edital para contratação da empresa que fará o atendimento. O principal argumento apresentado para a não realização desse processo até o momento é que levar energia a essas populações é muito mais caro.

Monitoramento das condicionantes
Foi contratada uma consultoria para auxiliar os trabalhos da Câmara Técnica de Monitoramento (CTM) e elaboração de termo de referência para a contratação do monitoramento das condicionantes. A consultoria foi finalizada e o termo de referência está sendo analisado pelos membros da CTM e deve ser aprovado na próxima reunião ordinária do Comitê Gestor do PDRS Xingu. Espera-se que ainda esse ano seja contratada uma equipe permanente que deverá acompanhar em campo o cumprimento das condicionantes.

Entenda o PDRS Xingu
O Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRS Xingu) foi instituído pelo Decreto 7.340 de 2010 com a finalidade de promover políticas públicas que resultem na melhoria da qualidade de vida da população que habita sua área de abrangência – Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu, todos no Pará.

Em maio de 2011 foi constituído o Comitê Gestor do PDRS Xingu que deve orientar programas, projetos e ações federais que serão implantados na sua área de abrangência, bem como promover a harmonização daqueles já existentes segundo o decreto mencionado. Dele participam cinco representantes do governo federal, cinco representantes do governo do estado do Pará e cinco representantes dos municípios de abrangência do plano. Por parte da sociedade civil, 15 instituições de diversos setores da sociedade compõem o Comitê Gestor, além de seus membros titulares.

Também participam das reuniões um conjunto de convidados permanentes de instituições públicas e da sociedade civil. As reuniões são abertas e acontecem uma vez por mês na cidade de Altamira.

Tanto o PDRS como seu Comitê Gestor fazem parte da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), de que trata o Decreto nº 6.047, de 22 de fevereiro de 2007.

Para que são os recursos destinados a esse plano?
Para promover o desenvolvimento sustentável da região. Sua natureza é complementar aos recursos públicos e não os deve substituir. Inicialmente, o PDRS Xingu conta com recursos próprios equivalentes a R$ 500 milhões, que deverão ser aplicados durante 20 anos na região de abrangência. Os mencionados recursos são parte das obrigações da empresa Norte Energia S.A. previstas no contrato de concessão assinado com o governo federal para realização da obra. O mencionado valor em nada se confunde com os recursos de investimento que o poder público e a empresa devem aplicar na região.

Os recursos do PDRS não devem ser confundidos com compromissos assumidos pela Norte Energia e pelo governo perante a sociedade (saiba mais).
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O Valor Econômico - 27/04/12 
 
Verdes e ruralistas põem governo na berlinda

 
Depois de meses de negociação, o novo Código Florestal aprovado anteontem pelo Congresso desperta a revolta dos ambientalistas e o alívio dos ruralistas, que conseguiram prevalecer sua posição e mudar o teor da legislação cuja origem é de 1934. Para o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, o Código representa um retrocesso jamais visto, após muitas tentativas fracassadas. Ele afirma que, pela primeira vez, um governo cedeu, por omissão, e abriu a porteira para as demandas dos conservadores. Na opinião do número 2 do ministério quando a ex-senadora Marina Silva ocupava a Pasta, a culpa é da presidente Dilma Rousseff, que tem menos sensibilidade ambiental do que todos os seus antecessores na Presidência.

No entanto, para o economista André Meloni Nassar, diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), a versão do novo Código Florestal é "muito boa". Ele duvida que a presidente Dilma Rousseff vete qualquer passagem do texto e, em que pese a "vitória política" alcançada com o documento aprovado na Câmara, o setor do agronegócio perdeu a batalha junto à opinião pública. "Todos usam agora o termo 'desmatador' para se referir a nós", alega.

Nassar já prevê outra batalha a ser travada pelo setor: a abertura de novas áreas para a expansão da produção, especialmente no cerrado. "Uma coisa é a Amazônia, que você abre terra, em geral, para ocupar com pastagem. Outra é o cerrado, que você abre para ocupar com agricultura de alta produção. Está comprovado que em muitas regiões isso traz desenvolvimento econômico", defende. A seguir, leia os principais trechos das entrevistas concedidas por Capobianco e Nassar ao Valor:
Valor: Como o senhor qualifica o Código Florestal aprovado pelo Congresso?

João Paulo Capobianco: Ele vai na contramão completa da história. Não resolve os problemas que ele em tese se dispôs a resolver, principalmente a questão da insegurança jurídica no campo e da compatibilização entre produção e conservação.

Valor: Ainda há pontos que podem causar insegurança jurídica?

Capobianco: Com certeza. Se você analisa as emendas do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), ele agrava uma questão impressionante. Um exemplo claro disso é a recuperação de vegetação nativa nas margens de rios. O projeto cita exclusivamente a situação para os rios de até dez metros. A partir daí não há nenhuma definição. Você abre para uma interpretação subjetiva do que deve ser ou não recuperado. É um pequeno exemplo, mas ele se repete em vários momentos, como em relação à vegetação da área urbana. Há uma retirada da atribuição do poder público sem que se tenha colocado com clareza o que pode e o que não pode. O Código vai criar um vácuo.

Valor: É um retrocesso em relação ao código anterior?

Capobianco: É uma aberração. O relatório do deputado Paulo Piau começa retirando do Código Florestal o conceito definido em 1934, e mantido ao longo de todas essas décadas, de que o Código tem como fundamento central a proteção às florestas e as demais formas de vegetação nativa, em harmonia com a promoção do desenvolvimento econômico. Ele começa eliminando isso. Parece até uma brincadeira, mas não é. Já revela na primeira emenda a intenção do relator e não só dele, mas do Congresso, do resultado final. Temos o Ministério do Meio Ambiente com o menor perfil da história. Há uma omissão completa

Valor: O governo perdeu ou ele também pode ser responsabilizado pela aprovação?

Capobianco: Não, eu não acho que o governo perdeu. Quem perdeu foi a sociedade. O governo atuou o tempo todo na linha da flexibilização. O governo se omitiu. Dada a relevância e por ser um tema de grande abrangência e que diz respeito a interesses dos mais variados setores da sociedade, isso deveria ter sido uma iniciativa do Poder Executivo. Os deputados recuperaram um projeto, que já estava inclusive engavetado porque o autor original não tinha sido reeleito, e iniciaram a tramitação. Aí o governo, incluindo o Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente, não atuou ao longo do processo de formulação do projeto. O projeto correu absolutamente livre, solto. A própria constituição da comissão responsável pelo projeto teve um desbalanço incrível, o que é histórico. É muito raro encontrar uma comissão tão
desbalanceada para um lado dos deputados...

Valor: Ruralistas?

Capobianco: Esse termo ruralista é muito ruim, coloca sob a mesma etiqueta gente muito séria, com gente muito pouco séria. É genérico e não é correto.

Valor: Que termo seria melhor?

Capobianco: A banda conservadora do setor rural, que é a que está majoritariamente representada no Congresso.

Valor: Isso não justifica que ela tenha sido representada de acordo com seu tamanho na comissão? O resultado do Código não mostra que a correlação de forças na sociedade seria desigual?

Capobianco: Não, as pesquisas de opinião pública revelam o contrário. A própria composição do Congresso tem uma característica bastante conservadora já há muitas legislaturas.

Valor: Podemos dizer então que os interesses da banda ruralista conservadora são mais bem organizados que os dos ambientalistas?

Capobianco: Eu diria que o modelo eleitoral brasileiro leva a isso. As campanhas são cada vez mais caras. O modelo viabiliza aquele que é capaz de mobilizar mais recursos. E essa capacidade tem a ver com o setor privado e, portanto, há um círculo vicioso. Aquele que defende o interesse privado tem mais chance efetivamente de obter recursos para a sua campanha e, logo, muito mais chance de estar representado.

Valor: Por outro lado, não há oficialmente um partido dos ruralistas enquanto, mal ou bem, existe o Partido Verde, que não pende a balança para o lado dos ambientalistas.

Capobianco: É, mas a questão ambiental não cabe em partidos. É uma temática transversal. Não vejo aí uma contradição. O que vejo é uma presença marcante de parlamentares conservadores no Congresso Nacional, que não atuam apenas nessa agenda do Código, mas em várias agendas, na tributária, fiscal. Não é só a agenda ambiental que encontra resistência.

Valor: O momento eleitoral não é crucial para se arrancar compromissos? Marina Silva (ex-PV, hoje sem partido) não deveria ter negociado essa agenda no segundo turno da disputa presidencial, quando tinha capital político, em vez de optar pela neutralidade?

Capobianco: Olha, eu acho que não foi um erro. Se tivéssemos apoiado o PT, por exemplo, estaríamos respondendo solidariamente pelo retrocesso na agenda socioambiental verificado neste último ano. Estamos assistindo a um período de refluxo muito intenso. As iniciativas de refluxo são muito antigas. Elas foram várias, em vários governos. E sempre tivemos uma resposta do Poder Executivo muito firme. O próprio Código foi alvo de uma tentativa de revisão entre 2000 e 2002 que iria levar a um resultado similar a este. E foi a ação do Poder Executivo, à época o presidente Fernando Henrique Cardoso, que invibializou e retirou o projeto de pauta. No governo Lula, também surgiram várias tentativas e todas elas foram trabalhadas pela base de apoio para que não proliferassem. O que assistimos neste governo é uma omissão
completa.

Valor: Dilma presta menos atenção à questão ambiental do que seus antecessores?

Capobianco: Com certeza, ela tem uma sensibilidade para a questão ambiental muito menor que todos os antecessores. Temos o Ministério do Meio Ambiente com o menor perfil da história. Sempre tivemos operadores, ministros com alta capacidade de articulação com a sociedade e dentro do governo.

Valor: É culpa do desenvolvimentismo da presidente?

Capobianco: Eu diria que a presidente Dilma, entre o desenvolvimento acelerado e a conservação ambiental, ela não pensa na compatibilização. Suas ações recentes mostram claramente isso. Ela compartilha, inclusive, com o resultado da negociação do Código no Senado, que era um enorme retrocesso também.    

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Por que empresas podem ser chamadas de “organismo vivo”?

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Por em 15/05/2012 às 13:05

 

Da mesma forma que organismos vivos, as organizações precisam se organizar em subsistemas inter-relacionados, num estado de interação e inter-dependência. Assim, um organismo vivo, uma organização, um grupo social são sistemas completamente abertos, pois não tem como sobreviver sem as trocas com o meio em que estão inseridos. Muitos dos conceitos usados comumente nos organismos vivos foram adaptados para a organização como a diferenciação e integração. Com relação à esse aspecto, Lawrence e Lorsch  argumentam que as empresas, para fazer frente aos desafios externos, vão se segmentando em unidades, cada uma tratando de alguma parcela. No entanto ao se dividir em áreas a organização precisa fazer um esforço para manter a unidade, facilitar a tomada de decisões e a implementação de estratégias. Para eles os autores anteriores “deixaram de ver que o ato de segmentar a organização em departamentos influenciaria o comportamento dos membros da organização em vários aspectos” .

Os estudos de Joan Woodward, encontraram sobretudo uma grande diferenciação nos relacionamentos quando havia diferenças tecnológicas. Foram estudados os controles gerenciais do ponto de vista pessoal e impessoal e o grau de fragmentação do controle, chegando à conclusão de que a tecnologia é o principal fator para a organização da estrutura. Outra importante variável é a estratégia adotada. Estudo neste sentido foi conduzido por Alfred Chandler, que concluiu que “…a estrutura acompanha a estratégia e que o tipo mais complexo de estrutura é resultado da articulação de várias estratégias .

Aliás, a interação da organização com o ambiente têm se revelado uma rica fonte de pesquisa entre os estudiosos das organizações. Pata Hatch o estudo se divide em quatro teorias: teoria contingencial, teoria da dependência de recursos, ecologia populacional e teoria institucional. A teoria contingencial pressupõe que organizações são sistemas abertos que necessitam equilibrar necessidades internas enquanto se adaptam à circunstâncias ambientais.

A teoria contingencial é um guarda-chuva que não só concentra os trabalhos de Burns e Stalker, Chandler, Lawrence e Lorsch mas ainda Mintzbberg, Peters, Waterman e Kanter. A teoria da dependência de recursos desenvolvida por Jeffrey Pfeffer e Gerald Salanick argumenta que as relações de dependência com os atores externos é que definem os rumos da organização, que deve monitorar as variáveis pertinentes e adotar contra-medidas.

Quanto à ecologia populacional, a esfera de análise se expande para incluir outros agentes, como governo , sindicatos, parceiros, concorrentes e outros grupos de interesse. Outras teorias e conceitos contingenciais inovadores como a adhocracia, a estrutura matricial, saúde organizacional, desenvolvimento organizacional (DO) completam o conjunto da abordagem.

Considerações finais
A metáfora da empresa vista como um organismo que se relaciona com o ambiente e que deseja acima de tudo sobreviver, ampliou enormemente os estudos das organizações. Além disso, a inclusão de variáveis antes esquecidas, possibilita uma avaliação mais completa e uma determinação mais clara das ações, estratégias, estrutura, formas de gestão e grau de formalização necessário.

Um aspecto que não pode ser esquecido é o declarado potencial de conflitos internos, que podem acontecer entre a parte mecanicista e a orgânica, entre os níveis hierárquicos e funcionais e entre os pares da estrutura diferenciada. Sobre este tema, os autores ilustram casos de como algumas empresas conseguiram contornar os problemas através de uma interação e técnicas de gestão de conflitos.

A conclusão é que não existe a melhor forma de se organizar, pois isso depende do tipo de tarefa ou do ambiente dentro do qual a organização está inserida.

Fonte(s):
. CHANDLER, A. Introdução a Strategy and structure. In: McCRAW, Thomas K. (Coord.) Alfred Chandler: ensaios para uma teoria histórica da grande empresa. Rio de Janeiro: FGV, 1998. p. 123-140.
. HATCH, M. J. The environment of organizations. In: _______.Organization Theory: Modern, symbolic and Postmodern Perspectives. New York: Oxford University Press, 1997. p. 63-97.
HICKSON, D.J.; PUGH, D.S. Alfred Chandler. In: _______. Os Teóricos das Organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. p. 3-8.
. LAWRENCE, Paul R.; LORSCH, Jay W. Fundamento e abordagem do estudo. In:_______. As empresas e o ambiente: diferenciação e integração administrativas. Trad. de Francisco M. Guimarães. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 17-39.
. MERTON, Robert. K. Estrutura burocrática e personalidade. In: CAMPOS, Edmundo (Org., introd. e trad.). Sociologia da burocracia. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1966. p. 107-124.
. MORGAN, G. A Natureza entra em Cena: As organizações vistas como organismos. In: _______. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1. ed. 1996: 9ª tiragem. p. 43-52.
. MOTTA, Fernando C. P.; Pereira, Luiz C. B. A Organização burocrática. In: _______. Introdução à organização burocrática. São Paulo: Brasiliense, 1987. p.15-38.
. PUGH, D.S.; HICKSON, D.J.; HINNINGS, C. R. Joan Woodward. In: _______. Writers on organizations. [S.I.]: Penguim Books, 1983. p. 24-
. SCOTT, W.R. Weber’s theory of bureaucracy. In: _______. Organizations: Rational, Natural and Open Systems. New Jersey: Prentice Hall, 1998. p. 42-49.
15. WEBER, Max. Os fundamentos da organização burocrática: uma construção do tipo ideal. In: CAMPOS, Edmundo (Org., introd. e trad.). Sociologia da burocracia. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1966. p. 15-28.
Autor, desconhecido

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O impacto do plantio de arroz no Marajó

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Esses caras já foram expulsos de Roraima. A sua atividade emprega pouca mão-se-obra por ser altamente mecanizada, fora outros problemas. 
Apesar do Marajó estar necessitando urgentemente de desenvolvimento econômico e social, não acredito que esta seja uma solução.


Brasil

09/5/2012 - 09h18

O impacto do plantio de arroz no Marajó


por Alessio Saccardo, Ima Célia Guimarães Vieira e João Meirelles Filho*
arroz2 O impacto do plantio de arroz no Marajó
A proposta de plantio de 300 mil hectares de arroz no Marajó exige amplo debate público sobre o tema, em vista do grande impacto que esta intervenção enseja. A chegada dos arrozeiros nos campos do Marajó se constitui, provavelmente, na maior tragédia socioambiental desde a expulsão da Igreja Católica da ilha no século XVIII. Quem ama o Marajó está muito preocupado com seu futuro.
Vale lembrar que estes arrozeiros foram expulsos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, por decisão do Superior Tribunal Federal – STF, por plantarem ilegalmente em terras indígenas (terras públicas federais).

É urgente a realização de audiências publicas nos municípios impactados, a se iniciar por Cachoeira do Arari e Salvaterra, bem como audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Pará. Entre as principais temáticas a tratar estão:

Questões sociais e culturais
o Saúde humana – o uso de agrotóxicos em larga escala, especialmente aqueles lançados por aviões que passam sobre o núcleo urbano de Cachoeira do Arari, constitui-se em forte ameaça, especialmente aos mais frágeis – crianças e idosos;

o Agravamento de risco de doenças – a presença de grandes áreas inundadas, inclusive em períodos de seca, no entorno do núcleo urbano de Cachoeira do Arari, poderá resultar em aumento substancial de insetos transmissores de doenças tropicais (dengue e malária, principalmente), o que precisa ser monitorado;

o Exclusão da participação local – A comunidade local está totalmente excluída. Os moradores da sede de Cachoeira do Arari e entorno das fazendas de arrozeiros são afetados diretamente pelos empreendimentos e ninguém os ouviu!
o Acesso viário – uma comunidade como a de Cuieira ficou rodeada, até sem a passagem para ir ao núcleo urbano. A se aumentar a área de plantio este fato se sucederá para outras comunidades;

o Comunidades Quilombolas – qualquer empreendimento de grande porte precisa ouvir as comunidades quilombolas do entorno, como a de Gurupá, em Cachoeira do Arari;

o Patrimônio imaterial – reiteradas denúncias alertam para mudanças substantivas nas tradições locais, como o impedimento de tradições que passavam pelas fazendas hoje em posse de arrozeiros, especialmente da festividade do Glorioso São Sebastião. Empreendimentos de grande porte exigem inventário do patrimônio imaterial;

o Patrimônio arqueológico – por lei, qualquer intervenção de grande porte precisa ser precedida de estudo sobre a existência de patrimônio arqueológico. Ora, sabe-se muito bem, que esta região do Marajó é considerada como uma das que possui maior patrimônio de artefatos de cerâmica do Brasil.

Questões ambientais
o Espécies ameaçadas – inexistem estudos sobre o impacto do empreendimento sobre espécies de plantas e animais consideradas ameaçadas pela legislação estadual e federal. Preocupa, por exemplo, a existência de uma espécie endêmica de arroz silvestre, que poderá ser ameaçada pela expansão do plantio de arroz industrial;

o Inexistência de EIA-RIMA – intervenção de tamanha magnitude deveria contemplar Estudo de Impacto Ambiental & Relatório de Impacto Ambiental, inclusive com audiências públicas e exaustivos estudos socioambientais. Nada disto foi feito!

o Licenças ambientais insuficientes – a licença ambiental concedida pela Secretaria de Meio Ambiente de Estado em setembro de 2010, tratou apenas de um canal e não do empreendimento como um todo. Além disto, definia o monitoramento e a apresentação de relatórios sobre a qualidade da água, o que não foi realizado;

o Modificação da paisagem – ainda que o búfalo e o boi causem enorme impacto, a dimensão da intervenção do plantio de arroz altera, completamente, a paisagem, desviando rios, encharcando vastas, promovendo o desmatamento, com a comprovada derrubada de árvores frutíferas entre outros;

o Acesso à água – ao criar canais artificiais, bombear água do leito de rios em vultosos volumes (que não são medidos) e desviar cursos d’água, a dinâmica natural dos campos do Marajó se modifica, e o próprio acesso a água também. E isto não é devidamente avaliado e monitorado, por meio de testes físico-químicos, como a própria licença concedida pela SEMA exige;

o Poluição da água – a presença de agrotóxicos, o aumento do risco de vazamento de combustíveis e mesmo a modificação da quantidade de oxigênio e de matéria orgânica, da mesma maneira, exige monitoramento e avaliação, uma vez que pode afetar a água que pessoas e animais bebem, e apresentar impacto relacionado à segurança alimentar, principalmente para a pesca de subsistência.

o APA do Marajó – ainda que sem seu plano de manejo, a Área de Proteção Ambiental do Marajó, como determina o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, exige o licenciamento dos empreendimentos de grande porte;

Questão fundiária
o Cidade sitiada – o núcleo urbano de Cachoeira de Arari está cercado, o que impede a sua expansão natural. Cachoeira já estava encurralada, e hoje, praticamente, é uma cidade entre uma fazenda e o rio, é como o homem com as algemas, não pode se mexer.

o Terras públicas x privadas – numa região do Marajó em que a titularidade das terras não está definida, por se tratar de áreas inundáveis, é preciso primeiro definir a propriedade das terras, bem como realizar o zoneamento econômico-ecológico para determinar que áreas podem ser utilizadas e sob que condições.

Questões econômicas
o Geração de emprego e migração – o plantio de arroz gera poucos empregos. Atualmente, a maioria é ocupada por migrantes trazidos pelos empreendedores de fora. Com a expansão da rizicultura haverá forte migração para a região, como ocorre em outros grandes empreendimentos na Amazônia. De que maneira isto agravará a exclusão do marajoara do emprego formal oferecido?

o Distribuição de renda – o modelo de negócio apresentado pelos arrozeiros pouco contribui ao processo de inclusão dos mais pobres da região, ou seja, a maioria dos marajoaras;

o Impacto na infraestrutura viária – as precárias estradas entre Cachoeira do Arari e os portos em uso recebem um tráfego crescente de caminhões articulados de grande porte, afetando a qualidade das estradas, especialmente de suas pontes e passagens, bem como o uso das balsas e prejudicando ainda mais a população, que dispõe de um acesso precário;

o Geração de impostos locais – o produto sai in natura, para ser processado em outras localidades, o que significa baixa capacidade de geração de tributos para a localidade. Além disto, se os ônus relacionados aos arrozeiros estão claros, os benefícios tributários para a receita municipal não o estão;

o Promoção dos produtos locais – diferentemente de outros empreendimentos, os arrozeiros pouco adquirem ou gastam no mercado local, impossibilitando que a economia local se beneficie de sua presença;

O que nos preocupa, mais que tudo, é que os Maroajaras não estão sendo ouvidos, não participam das decisões sobre sua própria vida e território. Mais uma vez, são os outros que decidem sobre a vida do Marajoara. Até agora o que se vê são empreendedores de fora, a cercar tudo, numa postura arrogante, crendo que o dinheiro tudo compra, como se o Marajó fosse terra sem lei ou rei. Pior, não se preocupam em informar a população sobre o que se propõem a realizar, que benefícios acreditam serem capazes de propiciar. Simplesmente, estão desfrutando de um território favorável, desprotegido, e tirando todo o benefício sem que a população dele participe.

O Arroz do planeta inteiro não vale a saúde de uma pessoa. É neste sentido que reiteramos a urgência de promover debates públicos em Cachoeira do Arari e nos municípios vizinhos, bem como realizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, para discutir o impacto do plantio de arroz na vida dos Marajoaras.

* Alessio Saccardo, SJ, Bispo da Prelazia de Ponta de Pedras Assunção Novaes (Cacau), coordenador do Conselho de Desenvolvimento Territorial do Marajó – CODETEM. Ima Célia Guimarães Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi. João Meirelles Filho, Diretor, Instituto Peabiru, Programa Viva Marajó.
(O Autor)