WCY
31/05/2012 08:54
Entre as economias mais competitivas do mundo, está Hong Kong, encabeçando a lista. Nosso país desceu dois degraus, para a 46.ª colocação no ranking formado por 59 países
São Paulo - O Brasil
caiu duas posições no Índice de Competitividade Mundial 2012, o World
Competitiveness Yearbook (WCY), divulgado nesta quinta-feira pelo
International Institute for Management Development (IMD). De acordo com o
levantamento, o país desceu dois degraus, para a 46.ª colocação no
ranking geral, formado por 59 países. A queda do Brasil não foi tão
expressiva quanto a do ano passado. Em 2010, o país ocupava o 38.º
lugar, mas foi para 44.º em 2011.
De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral e responsável pela
coleta e análise dos dados do ranking no Brasil, Carlos Arruda, a perda
de duas posições é ainda uma consequência da queda da colocação do país
no ano passado. "Não tem nenhum fato novo relevante que leve a essa
perda, a não ser as consequências do ano passado, quando o país perdeu
muito em produtividade", disse, explicando que desde 2011 o país está em
52.º lugar na análise de produtividade.
Nos grandes grupos de análise usados para avaliar os países, o
desempenho da economia passou do 30.º lugar para o 47.º, enquanto a
eficiência do governo se manteve em 55.º, a eficiência dos negócios
subiu do 29.º para 27.º e a infraestrutura passou da 51.ª posição para a
45.ª.
Em pesquisa de opinião com executivos - que deveriam apontar cinco
indicadores, em uma lista de 15, que percebem como fatores atrativos da
economia do país -, 90,9% responderam "dinamismo da economia". Na
sequência, veio a estabilidade política e previsibilidade, com 77,3%. Na
ponta contrária, o regime fiscal teve 0% de indicações, o nível de
escolaridade e a infraestrutura confiável tiveram, cada, 1,1%.
Além da baixa na produtividade, estão entre os motivos que têm levado à
queda do Brasil no ranking a alta carga tributária e a falta de um
planejamento de longo prazo, de acordo com dois colaboradores do WCY
ouvidos pela Agência Estado.
"No ano passado, observamos que o Brasil não estava gerando riqueza no
mesmo nível que gerava emprego. Foram gerados muitos empregos de baixo
valor agregado e poucos de mão de obra qualificada", afirmou Arruda.
Para ele, baixo crescimento econômico, somado ao foco intenso no consumo
e à baixa presença do Brasil no comércio internacional, cria um risco
grande de o país aos poucos caminhar para recessão e desemprego.
O português Nuno Fernandes, professor de finanças do IMD e colaborador
no relatório, cita a baixa exportação de produtos de alto valor agregado
como um dos fatores determinantes para empurrar o Brasil para o fim do
ranking. Além disso, Fernandes citou a inflação, a burocracia e os altos
impostos no país como atores negativos. "Há alguns problemas que geram a
descida no ranking, como a burocracia, o protecionismo e as tarifas
alfandegárias", disse Fernandes.
Sobre a carga tributária, criticada pelos dois professores, Carlos
Arruda afirmou que os altos impostos não são novidade no país e fez um
alerta sobre as recentes medidas adotadas pelo governo. "O governo fazer
uma reestruturação do sistema tributário é muito necessário, mas não
deve ser exclusivamente para curto prazo, para estimular o consumo.
Temos de estimular a capacidade do país de ter mais participação no
comércio internacional. Não podemos ser só um país para atender às
demandas da nova classe média", disse.
Perspectivas
Arruda acredita que as perspectivas para o país não são positivas. "As
más notícias vão ser recorrentes se nós não fizermos uma ação de país",
disse, analisando o que chama de "cultura do curto prazo". Ele afirma
que é necessário ter um projeto de país feito pelos setores público e
privado em conjunto para investir no aumento da produtividade e no
reposicionamento do Brasil. "Sem isso, não vai adiantar (investir em
infraestrutura). Já estamos no meio do ano e as agendas são todas de
curto prazo. O Brasil não está mal, mas não está se preparando para o
futuro", afirmou.
Na medição de infraestrutura, o país subiu do 51.º lugar, que ocupava
no ano passado, para o 45.º. O maior salto, contudo, foi na
infraestrutura básica, em que o país subiu cinco posições. Na
infraestrutura tecnológica e na científica, contudo, o país subiu dois
lugares e um lugar, respectivamente.
Nuno Fernandes concorda que só investimento em infraestrutura é
insuficiente. "Não basta pensar na infraestrutura. Para o Brasil voltar a
subir no ranking é preciso haver política de investimento em outro tipo
de infraestrutura: tecnológica e científica e em educação", disse.
Entre as economias mais competitivas do mundo, está Hong Kong,
encabeçando a lista, seguido por Estados Unidos e Suíça. No Brasil, a
pesquisa é coordenada pela Fundação Dom Cabral, classificada como a
oitava melhor escola de negócios do mundo no ranking de educação
executiva do jornal britânico "Financial Times". Na mesma lista, o IMD,
realizador do Índice de Competitividade Mundial, ficou em terceiro
lugar.
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