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domingo, 16 de outubro de 2011

Obras na Amazônia atraem 7 'trens-bala'

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Leiam a notícia no final.

Não se trata aqui de ser contra ou a favor do desenvolvimento e de todo esse investimento previsto, eu não sou xenófobo, "ecochato", ou "biodesagradável". É claro que sou a favor de investimento e desenvolvimento econômico da Amazônia, mas confesso que tenho muita preocupação sobre o que pode significar essa "invasão capitalista" na região Amazônica, ou seja: Qual a QUALIDADE deste desenvolvimento?

O quê, ou quanto, isso irá nos custar, Amazônidas, e a todo o planeta?

Estou me dirigindo apenas a formadores de opinião, gestores públicos e privados, educadores e alunos conhecidos, e por isso sinto-me à vontade para fazer algumas reflexões, e sei que que todos também se fazem as mesmas perguntas, mas não posso me furtar. Estou realmente incomodado com essas notícias.

Esses 24,4 milhões de Amazônidas estão preparados para absorver essa lógica econômica da qual estamos assistindo as consequências mesmo nos países do NORTE, que criaram essa lógica de desenvolvimento, acumulação e consumismo e a vem implantando há séculos e, hoje, assistimos suas consequências nos países periféricos europeus, movimentos planetários contra o capitalismo e coisas assim?

Vamos nos sujeitar a passar por todas as etapas que eles já passaram, ou podemos aprender com que estamos assistindo e desenvolver uma nova lógica para a Amazônia?

Ainda não conheço nenhum sistema melhor do que a democracia e o capitalismo, o que não me impede de considerá-los imperfeitos e que necessitam de reformulação e reflexão urgente, nas reuniões de trabalho e decisão de políticas públicas, de decisão de investimentos e planejamento empresariais, nos bancos das escolas onde formamos os gestores que irão gerir as consequências de nossas decisões de hoje. Que Amazônia vamos entregar nas mãos deles? Eles não tem o direito de participar dessa discussão e dizerem o que querem para seu futuro? Como estamos tratando disso em nossas salas de aula?

A Rio+20 está nas nossas portas e, considerando os reflexos, bons e ruins, da Rio 92, e que ainda ecoam e causam efeito até hoje nas mentes e decisões, precisamos aumentar essa discussão, afervecê-la, emocionar para mobilizar e racionalizar para traçar diretrizes, limites e parâmetros porque todo esse investimento tem um objetivo, claro, concreto, lógico e previsível, que todos querem tirar seu lucro daqui. Somos umas das últimas fronteiras de desenvolvimento do planeta, potencial econômico imensurável. Nada a contestar, mas o quê ficará?

A Floresta é muito mais que o Pré-sal, se considerarmos que o combustível fóssil perde posição de importância a cada dia, e está fadado ao obsoletismo a passos largos e que da tecnologia do petróleo restará apenas a petroquímica como geradora de valor, e esta está baseada apenas em um único elemento químico que é o carbono, enquanto a floresta, absolutamente desconhecida pela ciência ainda hoje, dispõe de toda a tabela periódica (e ainda pode ter outras que ainda não estão relacionadas), bactérias, microorganismos, elementos ativos, e mais, RENOVÁVEIS, portanto infinitos, se respeitarmos a capacidade de renovação da floresta.

O capitalismo avança para a economia do conhecimento, limpa, tecnológica. Países minúsculos em tamanho e população, sem recursos naturais, são ricos exportando conhecimento e tecnologia. Nós vamos continuar neste modelo de exportarmos matérias primas e ficarmos com nossa gente fazendo o trabalho braçal e agregar valor em nossos produtos lá fora, sustentar seus modos de vida de desperdício?

Não vou me estender mais porque sei que estou me dirigindo a pessoas que também estão conscientes dessas questões, minha preocupação é que precisamos unir esforços e mobilizar mais, usar mais inteligência, investir em pesquisa e garantir um futuro diferente do que estamos assistindo nos "paises desenvolvidos".

Obrigado e desculpem pelo desabafo.

um abraço a todos

 

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/991426-amazonia-vira-motor-de-desenvolvimento.shtml
 
Obras na Amazônia atraem 7 'trens-bala'

Investimentos somam, pelo menos, R$ 212 bilhões e criam novo ciclo de expansão econômica na região


Plano cria saída para o agronegócio exportador e uma nova estrutura para geração de energia e exploração mineral

JULIO WIZIACK
AGNALDO BRITO

DE SÃO PAULO

O governo federal e o setor privado inauguraram um novo ciclo de desenvolvimento e ocupação da Amazônia Legal, onde vivem 24,4 milhões de pessoas e que representa só 8% do PIB brasileiro.

O pacote de investimento para os nove Estados da região até 2020 já soma R$ 212 bilhões. Parte já foi realizada. O valor deverá subir quando a totalidade dos projetos tiver orçamentos definidos.

Esse volume de recursos equivale a sete projetos do TAV (Trem de Alta Velocidade), pouco mais de quatro vezes o total de capital estrangeiro atraído pelo Brasil em 2010 e duas vezes o investimento da Petrobras para o pré-sal até 2015. Excluindo o total do investimento do país no pré-sal, os recursos a serem aportados na Amazônia praticamente vão se equiparar aos do Sudeste, principal polo industrial do país.

É o que indica levantamento feito pela Folha com base no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e nos principais projetos privados em andamento.

Basicamente, são obras de infraestrutura (energia, transporte e mineração). Juntas, elas criarão condições para a instalação de indústrias e darão origem a um corredor de exportação pelo "arco Norte", que vai de Porto Velho (RO), passando por Amazonas, Pará, até o Maranhão.

Essa movimentação de cargas será feita por uma malha logística integrada por rodovias, ferrovias e hidrovias que reduzirão custos de exportação, principalmente para o agronegócio, que hoje basicamente utiliza os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).

ENERGIA AMAZÔNICA
O setor elétrico é a força motriz dessa onda de investimento. As principais hidrelétricas planejadas pelo governo serão instaladas na região e, com elas, também se viabilizarão as hidrovias.

Projetos como Belo Monte (PA), Jirau e Santo Antônio (RO), Teles Pires e o complexo do Tapajós (PA) fazem parte desse novo ciclo de ocupação, acelerando o processo que se iniciou ainda sob a batuta do governo militar. A Amazônia, que hoje participa com 10% da geração de energia no país, passará a 23%, até 2020. Em uma década, ela será responsável por 45% do aumento da oferta de energia no sistema elétrico brasileiro e se tornará um dos motores do crescimento.

CONTROVÉRSIAS
Para acelerar a implantação dos projetos, o governo federal estuda uma série de mudanças legais. Entre elas estão a concessão expressa de licenças ambientais, a criação de leis que permitam a exploração mineral em áreas indígenas e a alteração do regime de administração de áreas de preservação ambiental.

Há ainda no Congresso um projeto de lei que, caso seja aprovado, tornará obrigatória a construção de hidrelétricas juntamente com as eclusas, viabilizando o transporte hidroviário.

O atual modelo prevê a construção das usinas e somente a apresentação do projeto da eclusa, obra que deve ser feita pelo governo. O avanço sobre a Amazônia gera controvérsias entre ambientalistas, que acusam o governo de repetir um modelo de desenvolvimento não sustentável e que conduz a região ao colapso social. Para os ambientalistas, as obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Porto Velho (RO), e de Belo Monte, em Altamira (PA) são exemplos.

domingo, 9 de outubro de 2011

Como será o mundo corporativo em 2020?

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Da mesma forma que precisamos todos aprender como ser líderes melhores, também precisamos todos aprender como ser colaboradores melhores para melhorar nossa organização e garantir o seu futuro e desenvolvimento e, com isso, nossa vida profissional.
 
Os grifos são meus.
 
Recursos Humanos

As mudanças no ambiente de trabalho estão acontecendo rapidamente. Veja algumas dicas.

Caminhamos para um futuro em que não haverá mais espaço para o velho discurso: "A empresa não me reconhece. Não contribui com o desenvolvimento da minha carreira". Foi-se o tempo em que o lema era vida na empresa. A tendência é de que a responsabilidade pela carreira passe a ser do próprio indivíduo. Até 2020, com o mundo cada dia mais veloz e interligado, essa história de emprego como fonte de renda deve não existir mais. O lema será: trabalhe com amor, foque em resultados e cobre por isso. 

A realidade profissional no futuro

Trabalhar com prazer e liberdade para buscar a realização sem perder de vista os resultados esperados tomará conta da nossa realidade. Os 30 dias de férias por ano perderão lugar para a possibilidade de tirá-las em qualquer período do ano. Pensando desta forma, parece uma ilusão e você pode se perguntar: como vou pagar as contas no final do mês? Esse será o nosso desafio, aprender a lidar com a autonomia para saber dividir o trabalho com as outras áreas da vida e, ainda assim, aumentar a rentabilidade com qualidade de vida.

Não teremos mais de cumprir horários rígidos e o que vai nos governar é a nossa própria responsabilidadeEstabeleceremos nossos próprios horários, cientes dos prazos estabelecidos, ou seja, o que será levado em conta serão apenas os resultados. Dessa maneira, cada indivíduo será chefe de si próprio e, por isso, deverá saber se auto-disciplinar.

As hierarquias rígidas e autoritárias já estão perdendo espaço outras mais flexíveis. Será a era da prestação de serviços, projetos de trabalho com prazos determinados, em muitos casos como freelance, no esquema colaborativo. A pergunta que não me cala é: Você hoje está preparado para as tendências do futuro? 

Sistema de remuneração

Esqueça os valores fixos pagos mês a mês e aprenda a negociar uma remuneração por trabalhos realizados. Diga adeus ao holerite. Dados do governo dos Estados Unidos mostram que pelo menos um terço dos americanos se consideram trabalhadores independentes, uma categoria que inclui autônomos, pessoas que fazem serviço por empreitadas e profissionais temporários. Já no Brasil, o IBGE realizou uma pesquisa com os dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica e mostrou que, de 2000 a 2006, ele aumentou de 3,7 milhões de pessoas para 5,1 milhões de pessoas.

Eu tive apenas um registro na minha carteira de trabalho e desde cedo trabalho como empregador independente, ou seja, presto serviços com foco em resultados e cobro por isso. Confesso que não foi fácil aprender a administrar o tempo e a ter disciplina, mas hoje não fico limitado apenas a uma instituição e posso aprender com a realidade de diversas empresas, pulverizando a minha rentabilidade.

No começo vivi um momento de muita insegurança. É um exercício penoso de desapego para quem ainda se baseia no salário fixo. Vale à pena analisar os prós e contras e, até mesmo, criar uma estratégia para se adequar a essas tendências. A princípio pode parecer que existem mais contras do que prós, mas com o tempo asseguro que isso pode mudar e muito. A minha estratégia para ter essa tranqüilidade financeira foi encontrar clientes que estão se adequando a essa nova realidade e, em alguns casos, propor essa nova forma de trabalho como uma experiência. Como deu certo, fechei contratos de trabalho com um prazo e metas definidas. 

A tecnologia a favor

As tecnologias como smartphones, notebooks mais em conta e conexão wi-fi abundante acabarão com o velho hábito de trabalhar apenas da porta da empresa para dentro. Demorei em adquirir o meu smartphone, mas hoje vejo toda a praticidade que ele oferece. Isso porque não preciso estar no escritório para responder e-mails, ou seja, posso levar meu carro para lavar às 15h00 e, enquanto espero, posso adiantar minhas atividades por e-mail.

Obviamente que algumas profissões ainda não estão alinhadas com essa realidade, por serem muito manuais e operacionais. Reflita sobre a sua realidade hoje e faça as escolhas profissionais baseadas em seus valores, ou seja, com o que realmente importa para você. Afinal de contas, as novas tecnologias vão ampliar ainda mais as possibilidades de trabalhar ao redor do globo, em qualquer horário.

A combinação que você precisa

Os profissionais com mais tempo de experiência e condicionados com o velho modelo de trabalho estão tendo que aprender com a nova geração, que normalmente já tem a combinação tecnologia-velocidade-flexibilidade-cooperação.

Desenvolva a sua capacidade de cooperação e assuma uma posição pró-ativa, a fim de encontrar novas formas de trabalho. Atitudes com essa são fundamentais para que você alcance mais resultados e, consequentemente, sua auto-realização. 

 

Por Carlos Cruz (atua como Coach Executivo,Coach de Equipes e como Conferencista em Desenvolvimento Humano. E-mail imprensa@carloscruz.com.br)
HSM Online
10/08/2009

sábado, 8 de outubro de 2011

Voluntários que se dedicam ao próximo sem esperar nada em troca vivem mais, diz estudo

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07/10/2011 - 09h40

por Redação EcoD
151 300x183 Voluntários que se dedicam ao próximo sem esperar nada em troca vivem mais, diz estudo

Foto: Fairfax County Public Library

Uma pesquisa realizada pelo Programa Interdisciplinar de Empatia e Altruísmo da Universidade de Michigan (Estados Unidos) apontou que as pessoas que realizam trabalhos voluntários podem aumentar a expectativa de vida em cerca de quatro anos em relação àqueles que não praticam o voluntariado. Mas a regra não é válida para todos os voluntários – somente para aqueles que adotam a atividade com a intenção de fazer o bem ao próximo, e não a si mesmo.

De acordo com o estudo, publicado no periódico da American Psychological Association no início de setembro, aqueles que decidem aderir ao voluntariado por razões consideradas "egoístas" pelos pesquisadores, como melhorar o currículo ou desenvolver uma nova habilidade, tinham uma expectativa de vida semelhante à daqueles que não faziam nenhuma atividade voluntária.

Para chegar à conclusão, as pesquisadoras Sara Konrath e Andrea Fuhrel-Forbis, responsáveis pelo estudo, examinaram dados do Wisconsin Longitudinal Study, que conta com amostragem de mais de dez mil estudantes desde a sua formação no ensino médio, em 1957, até o presente. Em 2008, quando a análise foi feita, 51,6% da amostragem era composto por mulheres com idade média de 69 anos.

"Em nossa análise, controlamos estatisticamente todos os tipos de variáveis que podem influenciar a longevidade, como idade, gênero, estado civil, saúde mental e física, etc.", contaram em entrevista ao Portal do Voluntário. "Descobrimos que a motivação para o voluntariado importa, mesmo quando todos esses fatores são considerados. Em outras palavras, não basta dizer que esses voluntários são mais saudáveis ou conectados à sociedade – eles simplesmente têm razões voltadas para os outros na hora de decidir ajudar terceiros", disseram.

Pesquisa

Os entrevistados responderam a dez questões que abordavam os motivos para terem aderido ao voluntariado ou as razões que os levariam a ser voluntários, caso não fossem. Algumas das motivações eram voltadas para os outros, como "acho importante ajudar o próximo", ou "o voluntariado é uma atividade importante para as pessoas que conheço bem", e outras eram mais voltadas a si, como "voluntariar é uma boa forma de escapar de meus próprios problemas", ou "o voluntariado me faz sentir melhor sobre mim mesmo".

Os pesquisadores também consideraram saúde física, condição socioeconômica, estado civil e fatores de risco para a saúde (fumo, índice de massa corpórea e uso de álcool) dos participantes, assim como saúde mental e apoio social. Muitas dessas informações foram colhidas em 1992, 12 anos antes de os participantes serem questionados sobre as suas experiências no voluntariado. Assim, os pesquisadores puderam determinar quantos participantes continuavam vivos em 2008.

No geral, 4,3% dos 2.384 não voluntários morreram quatro anos depois da análise, ou seja, em 2011 – resultados proporcionalmente similares àqueles que declararam ser voluntários por motivos pessoais (4%). No entanto, apenas 1,6% daqueles que eram voluntários por razões focadas no próximo morreram no dado período.

Causas

De acordo com as pesquisadoras, as pessoas que ajudam outras por motivos verdadeiramente altruístas diminuem a reação cardiovascular e aumentam a produção de hormônios protetores, como a oxitocina.

"Chamamos este conjunto de reações fisiológicas de 'sistema de acolhimento', pois é similar ao do cuidado da mãe com crianças. A ativação constante desse sistema provavelmente enfraquece os efeitos negativos de longo prazo do estresse, que são ligados a todo tipo de doença grave, como males cardiovasculares e câncer", contam.

* Publicado originalmente no site EcoD.

(EcoD)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A era das grandes responsabilidades

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05/10/2011 - 10h58

por Ignacy Sachs*

Manter a qualidade de vida para mais de 9 bilhões de habitantes vai exigir da humanidade uma visão mais pragmática de suas responsabilidades diante do planeta.

129 A era das grandes responsabilidades

Ignacy Sachs.

Tudo indica que antes da Rio+20, programada para meados de 2012, a Comissão Estratigráfica Internacional vai oficialmente proclamar que desde o início da revolução industrial no século XVII, entramos numa nova era geológica – o antropoceno – caracterizada por um forte impacto das atividades humanas sobre o porvir da Nave Espacial Terra. Não que sejamos "mestres da natureza", como o pensava Descartes. O recente tsunami que assolou as costas do Japão, nos arredores de Fukushima, nos lembrou a nossa impotência frente eventos naturais deste porte: três enormes ondas de quase 40m de altura, avançando a 300Km/h e entrando 10Km no interior das terras, destruindo portos, aldeias, derrubando casas, carregando barcos e carros, danificando uma central nuclear, acabando com a safra de arroz desta importante província agrícola do Japão e com 80 mil empregos.

Necessitamos de uma postura pró-ativa, avaliando com realismo a nossa capacidade de atuar, valendo-se da qualidade única à espécie humana representada pela nossa capacidade de imaginar o futuro. Em outras palavras, devemos aprender a difícil profissão de "geonautas", neologismo proposto por Erik Orsenna. Assim, 2012 vai passar à história como uma censura duplamente importante na história imediata e na "longue durée", ou seja, na longa coevolução da nossa espécie com a Nave Espacial Terra. Provavelmente, historiadores futuros deixarão de lado a dicotomia "antes e depois de Cristo" e falarão da época anterior ao antropoceno, e o antropoceno, salientando que o reconhecimento tardio da nossa entrada do antropoceno foi precedido de uma forte aceleração da história imediata durante o breve século XX que, segundo Eric Hobsbawm, começou com a primeira guerra mundial em 1914 e terminou com a queda do muro de Berlim em 1989.

Os geonautas nunca devem perder de vista a absoluta necessidade de enfrentar simultaneamente as questões de sustentabilidade ambiental e de justiça social. Ao sacrificarmos no altar da sustentabilidade ambiental o postulado da justiça social, corremos o risco de aprofundar ainda mais as distância abissal que já separam as minorias abastadas ocupando os camarotes de luxo no convés da Nave Espacial Terra das massas que se disputam o triste privilégio de labuta nos seus sótãos. Por outro lado, a busca da justiça social não nos deve levar a comportamentos destrutivos do meio ambiente ao ponto de provocar mudanças climáticas deletérias, pondo em risco a própria sobrevivência a termo de nossa espécie.

Mais do que nunca, como geonautas, devemos elaborar e pôr em prática estratégias de desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente includente, dando-lhes a forma de planos plurianuais. No que diz respeito às mudanças climáticas, o nosso poder é limitado, por isso não devemos nos omitir de reduzir ao máximo as mudanças de origem antropogênica.
Por contraste, as nossas margens de liberdade para diminuir a dívida social acumulada são muito maiores, conquanto saibamos fazer bom uso dos conhecimentos já acumulados e dos progressos futuros da ciência, combinando-o com investimentos que ampliarão o aparelho produtivo e com uma organização social capaz de assegurar o trabalho decente para todos.

Para avançar na direção de um desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável, vamos precisar de paradigmas energéticos baseados em três princípios: sobriedade, eficiência e substituição das energias fósseis, responsáveis pela emissão de gazes de efeito estufa; por energias renováveis. No que diz respeito ao leque das energias renováveis, devemos explorar cuidadosamente o potencial da energia solar, eólica, maremotriz e, no caso do Brasil, das bioenergia de origem terrestre e aquática, esta última produzida a partir de algas. Isto nos leva a uma questão fundamental: até que ponto a utilização das bioenergias compete com a produção dos alimentos necessários, hoje para quase 7 bilhões e, em meados deste século, para 9 milhões de seres humanos, muitos dos quais por enquanto vão dormir de barriga vazia.

Sem perder de vista a prioridade que, por razões sociais, deve ser dada à produção de alimentos para todos aqueles que continuam passando fome ou são subalimentados, dispomos de conhecimentos e temos condições para que uma parcela importante de biocombustível se origine nos resíduos da produção alimentar, transformando dessa maneira os alimentos e os biocombustíveis em coproduto. Em todo caso, tanto a produção de alimentos como a produção de biocombustíveis estão intimamente ligadas as progressos da revolução verde e da revolução azul, sem esquecer o potencial econômico representado pelo adensamento em espécies arbóreas úteis ao homem das florestas mantidas em pé por razões ambientais.

A primeira revolução verde, associada com o nome de Norma Borlaug, privilegiou as produções de alimentos com sementes selecionadas, grandes quantidades de adubos e água abundante, condições essas não acessíveis a uma grande parte dos agricultores dos países emergentes. Um passo importante para a frente foi dado pela agrônoma indiana, M. S. Swaminathan, ao postular uma "revolução sempre verde" (evergreen revolution), voltada primordialmente às possibilidades e aos interesses dos pequenos agricultores.

Em paralelo, devemos avançar na conceitualização de uma revolução azul, abrangendo as águas litorâneas dos mares e as águas interiores (rios, lagos, lagoas, açudes, etc.), substituindo gradualmente a piscicultura à pesca (ou seja à  caça ao peixe), sem esquecer as algas o seu potencial energético. O objetivo presente a todas essas iniciativas é a geração do maior número passível de oportunidades de trabalho decente.

Um tema da maior importância é a implantação de unidades de produção intensiva horti-pisci-arbórea em e a redor de açudes, igarapés, lagos, ao longo dos rios e nas extensas áreas protegidas pelo recife no litoral marítimo. Uma unidade de meio hectare pode atender o consumo de 200 brasileiros. Obviamente, podemos trabalhar com unidades de produção maiores de um ou mais hectares. Não deveríamos ser limitados, pelo menos no Brasil, pela falta de espaço para implantação dessas unidades. Um uso tão intensivo dos solos se justifica pela necessidade de manter em pé por razões ambientais e sociais grandes extensões de floresta. Por outro lado, elas geram um potencial apreciável de oportunidades de trabalho decente (uma a duas famílias de dois adultos por unidade).

A título preliminar, generalizando os dados disponíveis e adequando-os a uma população mundial de 9 bilhões de habitantes, para assegurar o consumo de 50Kg por habitante/ano de peixe, necessitaríamos de 4,5 milhões de hectares de açudes. Supondo que o consumo anual de hortaliças requer 10m² por pessoa/ano, precisaríamos de 9 milhões de hectares de hortas. Ao crescimento ainda 9 milhões de pomares e plantações arbóreas, chegaríamos a um total de 22,5 milhões de hectares, ou seja, menos metade da superfície da França, isto pata atender uma parte significativa do consumo da população mundial!

À primeira vista pode parecer fácil. Sem ceder a esta visão otimista, nos limitaremos a dizer: Yes, we can (ou talvez Yes, we should), sim esta meta deveria estar ao nosso alcance, enquanto nos mobilizamos para tanto e saibamos organizar uma cooperação internacional eficiente. Esta deverá se pautar por uma nova geografia, ou seja privilegiar as relações entre países que enfrentam o mesmo desafio de aproveitar melhor os recursos renováveis dos diferentes biomas.

Nesta visão, o Brasil e os países amazônicos têm uma responsabilidade especial no que diz respeito à cooperação entre países detentores de grande superfície de floresta tropical úmida nos três continentes, América Latina, África e Ásia. Podemos repetir o mesmo raciocínio para os demais biomas  – o semiárido, as savanas, as regiões temperadas, etc. – sem esquecer o caso especial das zonas litorâneas dos mares e oceanos, tema no qual o Brasil aparece outra vez como um protagonista de primeiro plano.

Concluindo, ao finalizarmos a nova Cúpula da Terra podemos ainda esperar uma aterrissagem segura se soubermos respeitar o princípio da responsabilidade e organizar uma cooperação internacional efetiva, capaz de reequilibrar o balanço das forças em favor dos países emergentes. O Brasil e a Índia têm uma responsabilidade histórica como locomotivas potenciais deste bloco. Não há razão para que a entrada no antropoceno freie o desenvolvimento da nossa espécie, bem ao contrário, conquanto os geonautas se entendam com respeito ao rumo que a Nave Espacial Terra deve tomar.

* Ignacy Sachs é economista e professor da  École des Hautes Études en Sciences Sociales, da Paris.

(Agência Envolverde)

sábado, 1 de outubro de 2011

Administração no Brasil: como estamos?

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Militante. É assim mesmo que Kanitz costuma se definir. Para ele, a Administração, mais que uma profissão ou uma área de conhecimento, é uma causa

Por Simão Mairins, www.administradores.com.br

Reverenciado por um número imenso de brasileiros, Kanitz é um tanto atípico, para o que estamos acostumados a entender como administrador no Brasil. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, trouxe da experiência junto àquela que chama de "esquerda prática" dos Estados Unidos o pensamento que até hoje procura difundir aqui no hemisfério sul do continente: a Administração "socialmente responsável", onde o trabalhador tem mais espaço e o capitalista dono cede poder ao administrador profissional.
Em uma conversa franca e sem formalidades com a equipe da Revista Administradores, Kanitz falou tudo o que quis. Classificou como conservador o ensino em Administração no Brasil, revelou seu descontentamento com o ministério escolhido por Dilma e não poupou palavras contra os economistas, que, segundo ele, foram responsáveis pelo fim da sua coluna na revista Veja.
Administradores - Você disse uma vez, em um artigo, que os EUA são um país desenvolvido porque, diferentemente do Brasil, são geridos por administradores profissionais. Hoje, já temos inúmeras faculdades de Administração. Por outro lado, temos a consciência de que, apesar do alto número, muitos cursos deixam a desejar em qualidade. Será que nossa passagem para a era do administrador está seguindo o caminho certo?
Stephen Kanitz - Os EUA começaram essa fase em 1850. Então, nós estamos só 150 anos atrasados (risos)! Agora, lá e em todos os outros países, surgiu, na época, uma enorme antipatia dos intelectuais com relação às escolas de Administração. Nas escolas americanas, os intelectuais eram geralmente de esquerda e os administradores eram vistos como pessoas de direita. Até porque as primeiras escolas eram, realmente, para formar gerentes de empresas privadas familiares, que a gente conhece tão bem no Brasil. Em 1910, entretanto, surgiu nos EUA algo que não aconteceu em lugar nenhum do mundo. A esquerda mais prática - que é a de Harvard, onde eu estudei - percebeu que o administrador ia ser uma força política muito forte, e as empresas familiares iriam ser substituídas pelas de capital aberto e democrático, onde o administrador seria a peça chave, no lugar do capitalista dono. Então, Harvard muda esse negativismo, pensando assim: "vamos pegar esses administradores do nosso lado, e não do lado dos capitalistas. Vamos criar, então, o curso socialmente responsável". No Brasil, a animosidade dos intelectuais contra os administradores é visível até hoje. Você veja, a Universidade de São Paulo expulsou o MBA de lá. E isso é até assustador, porque 10% do ICMS do estado de São Paulo vai para as universidades públicas estaduais. Ou seja, nós temos os professores que, apesar de receberem 10% do imposto que é arrecadado pelas empresas, são contra o ensino de Administração.
No início do ano, fizemos uma enquete em nosso site onde perguntamos se "administrar é apenas para profissionais devidamente formados em Administração", e a maioria respondeu que "não, pois qualquer pessoa pode desenvolver as habilidades e competências necessárias para administrar, independente da área de formação". Você acha que isso reflete o descontentamento da classe com a qualidade dos cursos?
Nós não temos administradores (ensinando). Eu estudei lá na USP com engenheiros de produção, que tinham, claro, visão de engenheiros. É complicado. Nós não temos, ainda, o Peter Drucker do Brasil. Aliás, não temos uma coluna. O Drucker, há 60 anos, tinha uma coluna semanal nas grandes revistas. Aqui, eu tinha uma coluna mensal na Veja, mas acabou. Tem um que escreve para a Carta Capital e tem o Max Gehringer, mas ele fala sobre recursos humanos, como arranjar um emprego, essas coisas, não é sobre administração estratégica.
De que modo, então, podemos chegar a um patamar ideal?
Nós vamos precisar depurar algumas faculdades que estão fazendo caça-níquel. A própria palavra MBA já foi tomada. Tem escola de Economia fazendo curso de MBA. Tem faculdade oferecendo MBA em Direito. Aí complica mesmo, porque a população acha que qualquer um pode ser administrador. Isso o Conselho Federal de Administração tinha que processar. Você não poder roubar o nome de Mestrado em Administração de Negócios para usar em outros cursos.

kanitz

Como deve ser pensada a Administração do Brasil - tanto a pública quanto a das empresas – de modo que possamos gerir de forma eficiente esse futuro promissor que tanto se fala em nosso país?
Nós não criamos, ainda, no Brasil, as escolas de Administração socialmente responsáveis. Isso começou em 1910 na Harvard Business School e, em 1970, quando eu estudei lá, fiquei muito surpreso, porque tinha um sabor de esquerda que a gente não via no Brasil. As nossas escolas de Administração são muito de direita. Além do mais, nós não temos nas universidades públicas do Brasil, pasmem, faculdades de Administração. Normalmente, é um departamento dentro de uma escola de Economia, Administração e Contabilidade. Enfim, nós estamos muito atrasados. Inclusive, eu já desisti de achar que nós vamos ter em breve a era do administrador. Em 2010, eu até torci e lutei para que o Henrique Meirelles fosse candidato (a presidente) - e ele queria isso, eu sei, até o ajudei bastante - mas ele não foi. Inclusive, o último artigo que eu escrevi na Veja foi "O administrador de esquerda", no intuito de fazer a cabeça da nossa extrema esquerda de que o administrador não é só o de direita, existe também o de esquerda. Não de extrema esquerda, porque nós conseguimos implantar as nossas ideias sem sermos revolucionários. A gente vai implantando devergarzinho, pouco a pouco.
Você se considera, então, um administrador de esquerda?
É, eu nem sabia disso, mas Harvard me ensinou a ser preocupado com o trabalhador, o fornecedor, o cliente. Há 15 anos eu criei o primeiro site de voluntariado do Brasil, o primeiro site de filantropia e o Prêmio Bem Eficente, para dar visibilidade às entidades que tivessem boas práticas. E aí os jornalistas perguntavam por que eu estava fazendo aquilo. Eles diziam: "você é homem". E aí, quando eu perguntava o que tinha a ver, eles diziam que o social era coisa de mulher, porque no Brasil há esse costume de as primeiras damas cuidarem desse tipo de ação e os homens se preocuparem com a taxa de juros, a taxa de câmbio, essas coisas. Eu não me considero de esquerda no sentido de ser a favor da estatização, por exemplo, algo que, obviamente, é ineficiente. Eu também sou contra o fato de termos um economista mandando em dezenas de estatais como a gente vê no Brasil. Eu acredito na descentralização. Eu sou a favor da empresa socialmente democrática, onde o trabalhador pode comprar as ações da empresa onde ele trabalha. Aqui é negado isso. Quem trabalha nos Correios, por exemplo, não pode comprar ações de lá.
Você acha que há características que são necessárias de modo específico aos administradores brasileiros?
A minha grande bandeira é que você tem de criar um estilo de administração próprio do país onde você está. Eu vejo a HSM trazendo, ano após ano, gurus americanos, como se não existissem gurus de administração no Brasil. Nomes como Peter Drucker, (Gary) Hamel e outros já vieram ao Brasil e ficaram todos falando um monte de bobagens, sem entender nada do país, e a gente acreditando. Isso é assustador! Há 15 anos, no meu livro "Brasil que dá certo", eu deixei bem claro que o futuro seriam os produtos populares, mercados de baixa renda, coisa para pobre. E todos os livros de administração diziam que não, tem que fazer inovação, produtos com alta tecnologia. E eu falei que não. Como você quer inovar, quando 90% dos seus clientes nunca compraram o seu produto? A Wolkswagen é um exemplo disso. Foram 40 anos com o fusca, e nunca mudava.
Qual a diferença que você enxerga entre o administrador e os profissionais de outras áreas que ocupam cargos de gestão?
Olha, o administrador tem a função de ser sistêmico. A função primordial é não permitir que os problemas se acumulem. Nós estamos lá para encher a paciência de todo mundo e analisar os problemas corretamente. Qual o grande problema do Brasil? Nós deixamos os nossos problemas se acumularem. Tomar decisões é outro ponto. Muitas vezes, acha-se que é melhor tomar uma decisão errada do que demorar para tomar. Só que, se você tomar uma decisão errada, logo, logo você vai descobrir que errou. Eu fiquei muito triste por nenhum administrador ter sido escolhido para a equipe de Dilma. O Henrique Meirelles, que é um exímio administrador, fez uma coisa extraordinária pelo Brasil, que foi criar reservas. Mesmo assim, a esquerda mais radical vetou a continuação dele, considerando-o um administrador de direita, ligado a bancos. Lembre-se de que a esquerda soviética liquidou - matou, mesmo - todo o segundo escalão administrativo da Rússia. Destruíram os controles gerenciais e criaram a autogestão dos trabalhadores, como se eles pudessem autogerir-se, algo que é muito comum ainda entre a esquerda, mas que, na verdade, não é bem assim. Você tem que ter o administrador que pense sistemicamente, que se preocupe com tudo.
No Brasil, em vez de nos basearmos em Harvard, preferimos o lado soviético: a gente não gosta do administrador. Nós somos 2 milhões, mas quem manda nesse país são 30 mil economistas, que são muito influentes, têm colunas em todos os jornais, escrevem o tempo todo. Inclusive, me derrubaram da Veja, porque eu falava mal deles e elogiava o administrador de esquerda, que era Meirelles.
Vocês administradores têm que tomar uma rédea política e perceber que são importantes. Eu já estou velho. Mas vocês, que ainda são jovens, têm a missão de mostrar para a esquerda brasileira que nós não somos esse bicho de sete cabeças e seremos um excelente aliado.
Você acredita que os problemas brasileiros decorrem da forma como nós vemos o administrador e o empreendedor por aqui?
Nós temos uma tradição muito pequena de administradores. Em 94 tínhamos 300 escolas de Administração, mas nós não temos poder político, não temos o reconhecimento que deveríamos ter. A sociedade está dando um tiro no pé ao valorizar mais o economista do que o administrador. Outra coisa é que aqui estamos muito acostumados a dizer que precisamos incentivar os empreendedores. Mas nós precisamos entender que o empresário e o empreendedor estão preocupados em realizar seus próprios sonhos. Nós administradores temos a missão de realizar o sonho dos outros. Tá lá o Eike Batista, porque ele brilhante e tal, porque realiza todos os sonhos dele. E os sonhos da sociedade?
 A entrevista com Stephen Kanitz foi publicada na edição nº 1 da revista Administradores

A arte de desaprender

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28/9/2011 - 09h32

por Frei Betto*
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Apresentou-se à porta do convento um médico interessado em tornar-se frade. O prior encarregou o mestre de noviços de atendê-lo.
― Caro doutor – disse o mestre – o prior envia-lhe esta lista de perguntas. Pede que tenha a bondade de respondê-las de acordo com os seus doutos conhecimentos.
O jovem médico, acomodado no parlatório, tratou de preencher o questionário. Em menos de uma hora devolveu-o ao mestre. Este levou o papel ao prior e retornou quinze minutos depois.
― O prior reconhece que o senhor demonstra grande conhecimento e erudição. Suas respostas são brilhantes. Por isso pede que retorne ao convento dentro de um ano.
O médico estampou uma expressão de desapontamento.
― Ora, se respondi corretamente todas as questões – objetou – por que retornar dentro de um ano? E se eu tivesse dado respostas equivocadas, o que teria sucedido?
― O senhor teria sido aceito imediatamente e, na próxima semana, já estaria entre os noviços.
― Então, por que devo retornar em um ano?
― É o prazo que o prior considera adequado para que o senhor possa desaprender conhecimentos inúteis.
― Desaprender? – surpreendeu-se o médico.
― Sim, desaprender. Entrar na vida espiritual é como empreender uma viagem: quanto mais pesada a bagagem, mais lentamente se cobre o percurso. Na sua há demasiadas coisas substantivamente inúteis.
E o doutor partiu sob promessa de retornar dentro de um ano, o que de fato sucedeu.
Assim como há escolas e cursos para aprender, deveria também existir para ensinar a desaprender. Quantas importantes inutilidades valorizamos na vida! Quantos detalhes sugam nossas preciosas energias e consomem vorazmente o nosso tempo! Quantas horas e dias perdemos com ocupações que em nada acrescentam às nossas vidas; pelo contrário, causam-nos enfado e nos sobrecarregam de preocupações.
Precisamos desaprender a considerar os bens da natureza produtos de uso próprio, ainda que o nosso uso perdulário se traduza em falta para muitos. Desaprender a valorizar um modelo de progresso que necessariamente não traz felicidade coletiva e uma economia cuja especulação supera a produção. Desaprender a olhar o mundo a partir do próprio umbigo, como se o diferente merecesse ser encarado com suspeita e preconceito.
O desaprendizado é uma arte para quem se propõe a mudar de vida. Nessa viagem, quanto menos bagagem e mais leveza, sobretudo de espírito, melhor e mais rápido se alcança o destino. Vida afora, carregamos demasiadas cobranças, mágoas, invejas e até ódios, como se toda essa tralha fizesse algum mal a outras pessoas que não a nós mesmos.
O que nos encanta nas crianças com menos de cinco anos é a interrogação incessante, o interesse pela novidade, o espírito despojado. Era isso que sinalizava Jesus quando alertou Nicodemos sobre ser preciso nascer de novo, sem retornar ao ventre materno, e tornar-se criança para ingressar no Reino de Deus.
O médico candidato a noviço comprovou ser bem informado, mas ignorava a distinção entre cultura e sabedoria. Soube elencar as mais célebres telas da pintura universal, sem, no entanto, ter noção do que significam e por que o artista fez isto e não aquilo. Conhecia todas as doenças de sua especialidade, sem a devida clareza de como se relacionar com o doente.
A humanidade não terá futuro promissor se não desaprender a promover guerras e a considerar a pobreza mero resultado da incapacidade individual. Urge desaprender a valorizar o supérfluo como necessário e a ostentação como sinal de êxito. Desaprender a perder tempo com o que não tem a menor importância e com se dedicar mais nos cuidados do corpo que do espírito.
A vida espiritual é um contínuo desaprender de apegos e ambições, vaidades e presunções. A felicidade só conhece uma morada: o coração humano. Eis aí milhões de viciados em drogas a gritar a plenos pulmões terem plena consciência de que a felicidade resulta de uma experiência interior, de um novo estado de consciência. Como não aprenderam a abraçar a via do absoluto, enveredaram pela do absurdo.
E convém aprender: no amor mais se desaprende do que se aprende.
* Frei Betto é escritor e autor, em parceria com Domenico de Mais, de Diálogos Criativos (Sextante), entre outros livros.
** Publicado originalmente no site Adital