domingo, 27 de fevereiro de 2011
O que são negócios sociais?
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Uma rede de satélites dará Internet por baixo custo a meia humanidade
Em Madri (Espanha)
A Internet está prestes a dar o grande salto para os países pobres. Uma rede de alta tecnologia avançada e de envergadura planetária oferecerá cobertura de banda-larga móvel a cerca de 3 bilhões de pessoas. Batizada de O3b (os Outros 3 bilhões, a metade da população), o projeto para conseguir uma internet global se baseia no lançamento de uma constelação de satélites na órbita do Equador que levarão o sinal da Nicarágua à Nova Zelândia, passando por Brasil, Nigéria, Síria, Etiópia e Índia.
Em 2010 calcula-se que cerca de 2 bilhões de pessoas tinham conexão à Internet. Mas uma grande parte da população internauta se concentra na América do Norte, Europa e Japão. O sul vive de costas para a rede. O sistema para reduzir a brecha digital consiste em levar aos países emergentes ou em desenvolvimento que ainda não entraram na sociedade da informação grandes dutos troncais de Internet através de satélites.
Os primeiros oito artefatos serão lançados em 2013. Uma sucessão de antenas ativas irá colhendo o sinal de um satélite para outro. Uma rede de teleportos instalados em diversos pontos do planeta permitirá baixar esses gigantescos dutos de Internet para diversas regiões. Um desses teleportos estará situado no sul da Espanha (previsivelmente na Andaluzia), de onde se canalizará a distribuição do sinal para boa parte do continente africano.
Outros teleportos serão instalados nas ilhas do Pacífico, Américas do Norte e do Sul, no Mediterrâneo oriental, no Oriente Médio e Austrália. Depois serão as operadoras de telecomunicações locais que distribuirão o sinal aos usuários, um processo que será realizado na maioria dos casos através de redes sem fio (Wimax ou 4G, por exemplo).
As cotas de cobertura de banda-larga através de cabo ou ADSL na África ou na América Latina são muito pouco frequentes. Abrir valas para estender cabos através da selva parece uma missão praticamente impossível. E a ineficiente infraestrutura de linhas de telefonia fixa (na Nigéria, cinco em cada cem lares não têm acesso a telefone) faz do satélite o método mais eficaz e barato para conectar a web com a mesma qualidade que oferece a fibra óptica.
Com um orçamento de US$ 1,2 bilhão, a O3b é promovida pela Sociedade Europeia de Satélites (SES), que contribui com 30% do investimento, a gigante americana da Internet Google, o banco SHBC e a Liberty Global. Como um parceiro tecnológico, a SES - companhia que explora o Astra - lançará ao espaço 20 satélites. Mas à diferença dos que são utilizados, por exemplo, para distribuir canais de televisão na Europa, não estarão situados em órbita geoestacionária (a 36 mil quilômetros da Terra), mas a 8.063, o que lhes permitirá ganhar em velocidade por estar quatro vezes mais perto do planeta.
Nos satélites tradicionais, o sinal demora para subir e descer cerca de 0,7 segundo. Com o sistema projetado pela O3b, que situa os satélites em uma órbita intermediária, a latência se reduz a 0,1 segundo. Essa nova geração de satélites permitirá conexões mais rápidas e flexíveis. Prestará serviço tanto às operadoras de telecomunicações como aos provedores de serviços de Internet.
A O3b é vista por seus promotores como uma fórmula para reduzir a lacuna digital entre um norte acostumado a conviver com iPhone, iPad e tabletes eletrônicos e um sul que vive à margem das TIC, as tecnologias da informação e comunicação.
"Não ter acesso à banda-larga tem consequências econômicas e sociais", diz José Luis Gárate, diretor de desenvolvimento e negócios da Astra. "A grande vantagem do satélite é a cobertura e a simultaneidade. Pode levar o sinal a milhares de milhões de pessoas. É a única infraestrutura que cobre o território de maneira homogênea e com a mesma qualidade de serviço", explica. Fundada por Greg Wyler, a O3b possibilitará que milhões de pessoas de mais de 150 países emergentes entrem no mundo digital e se conectem com o resto do mundo, por baixo custo e em alta velocidade. O sonho da Internet global.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
As secas devastam o "pulmão verde" da Amazônia
No Rio de Janeiro
domingo, 6 de fevereiro de 2011
ENSINAMENTOS: Oito Versos que Transformam a Mente
1. Com a determinação de alcançar
O bem supremo em benefício de todos os seres sencientes,
Mais preciosos do que uma jóia mágica que realiza desejos,
Vou aprender a prezá-los e estimá-los no mais alto grau.
2. Sempre que estiver na companhia de outras pessoas, vou aprender
A pensar em minha pessoa como a mais insignificante dentre elas,
E, com todo respeito, considerá-las supremas,
Do fundo do meu coração.
3. Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.
4. Vou prezar os seres que têm natureza perversa
E aqueles sobre os quais pesam fortes negatividades e sofrimentos,
Como se eu tivesse encontrado um tesouro precioso,
Muito difícil de achar.
5. Quando os outros, por inveja, maltratarem a minha pessoa,
Ou a insultarem e caluniarem,
Vou aprender a aceitar a derrota,
E a eles oferecer a vitória.
6. Quando alguém a quem ajudei com grande esperança
Magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo,
Vou aprender a ver essa outra pessoa
Como um excelente guia espiritual.
7. Em suma, vou aprender a oferecer a todos, sem exceção,
Toda a ajuda e felicidade, por meios diretos e indiretos,
E a tomar sobre mim, em sigilo,
Todos os males e sofrimentos daqueles que foram minhas mães.
8. Vou aprender a manter estas práticas
Isentas das máculas das oito preocupações mundanas,
E, ao compreender todos os fenômenos como ilusórios,
Serei libertado da escravidão do apego.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Amazônia Atlântica ou Atlântida?
João Meirelles Filho Fev 03, 2011
Casa de pescadores nas areias de Curuçá, na costa do Pará. Foto: Instituto Peabiru |
Guarde também este tema: 2ª Esquadra da Marinha, a base está em definição, não se sabe se São Luís, Belém, Chaves no Marajó ou mesmo Curuçá. Além de decorar o nome dos peixes que adornam os poços de petróleo do Sudeste Atlântico do Brasil, prepare-se para fisgar mais alguns que produzirão gás natural e petróleo nas águas já salgadas da Amazônia Atlântica. É que, com o estudo de impacto ambiental aprovado, consultas públicas feitas, os consórcios liderados por empresas como Petrobras (Costa do Amapá) e OGX (Bacia Pará-Maranhão), prometem resultados a curto prazo.
Mas nem tudo é calmaria. O Brasil sonha com batalhas navais, para a qual investe mais de R$ 25 bilhões em submarinos, corvetas e sistemas de vigilância. Ao mesmo tempo, este mesmo país-Brasil não consegue organizar a navegação no interior da Amazônia, onde há mais de 100 mil barcos irregulares, e sequer se preocupa com o transporte escolar de centenas de milhares de ribeirinhos. Talvez alguns destes ribeirinhos venham a manejar estes potentes e milionários equipamentos que o país quer lançar ao mar.
Brasil estima que pelo menos 100 mil embarcações navegam irregularmente pela Amazônia. Regulação do transporte básico fluvial na região deveria ter prioridade sobre mega portos. Foto: Instituto Peabiru |
Os portos da Amazônia brasileira
Na Amazônia Atlântica há três portos principais: São Luís, com terminais públicos e privados, como o da Vale, que exporta o ferro paraense de Carajás; Belém, público, e que é o mesmo porto capenga, projetado pelos ingleses em 1900, para atender às embarcações a vapor e vela do período da borracha; Vila do Conde (Barcarena), público e privado, próximo a Belém, com calado insuficiente para as necessidades paraenses (entre 11m e 14m); e Santana, no Amapá, público e privado, igualmente, de baixo calado.
Os últimos licenciamentos portuários, como o terminal da Cargill em Santarém ou o novo porto de Manaus, mostraram-se mais como comédias trágico-burlescas que como resultado de estudos bem elaborados, seguidos, naturalmente de diálogo com a sociedade. Este não é, como vimos recentemente, um privilégio da Amazônia. O licenciamento dos portos propostos pelo grupo do empresário brasileiro Eike Batista só avançou mesmo no PortoX, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, depois de desembarques frustrados em Santa Catarina e São Paulo (Peruíbe). Em outras regiões do Brasil, como em Ilhéus, Bahia, portos são também palco de fortes emoções. Enfim, um novo porto é assunto explosivo, sujeito a maremotos.
Por que Curuçá?
Ponta da Tijoca, na extremidade direita do estuário Tocantins/Amazonas. Em tupi, o nome significa barro, e indica o ponto onde as águas barrentas do rio se afogam no oceano. Foto: Instituto Peabiru |
O Espadarte deveria escoar o minério de ferro de Carajás, mantendo os dividendos deste serviço de amarração e desatracagem em solo paraense. Resulta que no planejamento da obra os militares e engenheiros optaram pela Ponta da Madeira, em São Luis, a 892 km de Carajás. A justificativa seria para evitar a custosa travessia de pelo menos 10 km de ferrovias sobre os manguezais de Curuçá. Tem gente que diz que foi uma vitória dos políticos de plantão no Maranhão em detrimento do Pará...
Sucede que, 30 anos depois, a Companhia Docas do Pará – CDP, uma empresa federal, não esqueceu o assunto e, mesmo que a conta gotas, realizou ou incentivou estudos por organizações privadas para viabilizar o Espadarte. Foi assim que surgiram o grupo holandês RDP, e a própria Anglo American. A empresa RDP afirma que adquiriu o direito de posse da viúva de um posseiro de algumas áreas da União (ilhas, praias, mangues, campos apicum etc.) e, a partir daí, construiu as estacas de seu projeto, ignorando inclusive a existência de uma unidade de conservação de uso sustentável (Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, como veremos adiante).
Os mangues de Curuçá estão entre os mais preservados do mundo e protegem a floresta amazônica. Foto: Instituto Peabiru |
Em ambos os casos, o que atrai é a capacidade do Canal do Espadarte, com mais de 5 km de extensão, fundo estável de areia, que permitiria receber embarcações com calado superior a 25 metros. Este canal estaria distante cerca de 5 km da Ponta da Tijoca.
Comparativamente, os outros portos amazônicos, como São Luís, Belém, Barcarena etc., dependem de dragagem, além de se sujeitarem ao galeio das marés, mudanças constantes de canais, estações secas etc. Se a Ponta da Madeira, em São Luís, é capaz de atender navios de 350 mil ton [3], Tijoca receberia navios que ainda nem saíram do papel, de 450 mil a 500 mil ton.
E por que a Tijoca? Porque manteria a competitividade brasileira de minérios como o ferro, e abriria possibilidade para outros produtos que estão planejados para o Pará – outros minérios e minero-metalúrgicos: Vale (ALPA (aço), Onça Puma (níquel) , Sossego (cobre)), Norsk Hydro (ALBRAS e ALUNORTE), Alcoa (Juruti e outros) e possivelmente outros players do mesmo tamanho, como a Rio Tinto); biocombustíveis (Vale, Petrobras Biocombustivel), madeira e celulose (Suzano Papel e Celulose, Vale Florestar etc.) e outros produtos que agradecem transporte em grande escala e a baixo custo (grãos, por exemplo). Se Carajás, na década de 1980, fora projetado para exportar volumes inferiores a 100 milhões de ton./ano de minério de ferro, hoje se fala, com a Serra Sul, e a duplicação atual da ferrovia, em volumes que poderão ultrapassar as 300 milhões ton./ano.
Os desafios
Cerca de 100 mil famílias vivem em unidades de conservação de uso sustentável no litoral nordeste do Pará e serão diretamente afetadas pelas instalações portuárias. Foto: Instituto Peabiru |
Alta Biodiversidade em Curuçá
Para as organizações científicas e ambientalistas, os manguezais do Pará e Amapá estão entre os mais bem preservados do planeta. Estariam, também, entre os mais biodiversos em termos da vida marinha, abrigando grande diversidade de moluscos, peixes, camarões, caranguejos, além de avifauna e mamíferos marinhos. Há cinco anos, o Instituto Peabiru e parceiros estudam e trabalham em Curuçá, resultando no projeto Casa da Virada, vencedor de Edital Público Petrobras Ambiental [5]. A este seguiu-se o Criança Esperança (da UNESCO e Rede Globo) para a continuidade da atividade de educação ambiental; e o projeto de ecoturismo de base comunitária, apoiado pelo Ministério do Turismo, desenvolvido pelo o Instituto Tapiaim, iniciativa de bravos jovens locais na estruturação de organização para a educação ambiental e a geração de renda a partir da biosociodiversidade.
Este trabalho da Casa da Virada envolveu mais de 54 técnicos e pesquisadores, tanto do Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG, como da Universidade Federal do Pará - UFPA (campus Bragança) e do Instituto Evandro Chagas, além da participação de centenas de representantes de 35 comunidades e de organizações da sociedade civil de Curuçá, e de órgãos públicos por meio da construção da Agenda 21 Local. Entre as conclusões do Instituto Peabiru e parceiros, e que precisam ser amplamente debatidas [6], destacam-se:
- Criação do Corredor Ecológico da Zona Costeira do Pará – é urgente tratar a região como um conjunto, afinal há 8 (oito) reservas extrativistas federais marinhas, e 2 (duas) Áreas de Proteção Ambiental (APA) estaduais de Algodoal (Marapanim) e Urumajó (Augusto Corrêa);
Mangue na praia. Foto: Instituto Peabiru |
- Demarcação e planos de manejo das unidades de conservação – a maior parte das unidades não possui planos de manejo e não há sinalização e demarcação;
- Proteção urgente para a Mata Amazônica Atlântica – pesquisadores do Museu Goeldi identificaram a necessidade de urgente proteção para o que seria uma nova classificação de fitopaisagem. Este ambiente, único e altamente vulnerável, encontra-se seus principais remanescentes justamente nas ilhas flúvio-marinhas (Ipomonga e outras) onde se projeta o acesso e o retroporto do Porto do Espadarte. Em verdade, o que precisa ser priorizando é: a) Delimitação da área de ocorrência da Mata Amazônica Atlântica; b) Criação de unidade de conservação de proteção integral para proteger seus remanescentes; e c) A criação de uma Estação de Pesquisas, como centro de referência sobre a Mata Amazônica Atlântica, e que proporcione base de apoio física às pesquisas científicas;
- Efetiva Conservação da biodiversidade - Garantir proteção adequada às espécies de flora e fauna vulneráveis e ameaçadas. Entre as quais há espécies de quelônios marinhos e dulcícolas, aves marinhas e costeiras. A região é ponto importante de apoio para aves migratórias que vem do Hemisfério Norte;
- Monitoramento de espécies exóticas – especialmente o camarão Gigante-da-Malásia, que escapou do cativeiro. É importante lembrar que portos representam ameaças de organismos trazidos de outras regiões (as águas de lastro e espécies encontradas em cascos de embarcações - algas, fungos, mariscos etc.);
- Incremento na fiscalização ambiental – é insuficiente a atenção à exploração do caranguejo e a ação predatória de barcos pesqueiros industriais mais afora dos estuários;
- Aprofundamento das pesquisas de arqueologia – a identificação de materiais arqueológico e indícios relevantes apontam o potencial arqueológico da área, especialmente em zonas associadas à Mata Amazônica Atlântica (especialmente na ilha de Ipomonga);
Raízes aéreas do manguezal em Curuçá. Foto: Instituto Peabiru |
- Garantir o fortalecimento do tecido social – a partir das organizações de base comunitária, para que estas sejam capazes de representar os anseios das diferentes comunidades. Respeitar e implementar as propostas da Agenda 21 local é um grande avanço.
Naturalmente, essas recomendações não esgotam as demandas locais, reprimidas por décadas.
O que a legislação fala sobre portos em unidades de conservação
Os raros Guarás podem ser vistos neste refúgio do litoral brasileiro. Foto: Instituto Peabiru |
Em 2010 a Anglo American apresentou o EIA-RIMA de sua estação de transbordo flutuante. Só que se esqueceu de pedir licença ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) – o órgão federal responsável pela gestão da Resex Mãe Grande de Curuçá. Também se esqueceu de considerar o impacto nos 600 km que seu comboio de barcaças percorreria. Bom, a lista de esquecimento é grande. O fato é que o Ministério Público Federal questionou na justiça tal EIA-RIMA e este se encontra embargado. A Anglo American nem poderia ter preparado um EIA-RIMA, o fez à revelia das autoridades.
Os rumores de que agora o Espadarte sai são crescentes. O Espadarte está em diversos discursos e documentos, tanto do poder público como da iniciativa privada. E se a 2ª Esquadra também se interessar por instalar suas bases nos manguezais do Pará? E se o petróleo e gás natural se confirmarem e dependerem de bases de apoio em portos de grande porte? Qual o futuro da Amazônia Atlântica? O que queremos, a Amazônia Atlântica ou a Amazônia Atlântida? O debate é urgente.
_____________________________
[1] Tijoca significa, em Tupi, barro, aqui, seria para designar o fim das águas barrentas do estuário dos rios Tocantins & Amazonas.
[2] O Espadarte é um dos peixes mais ameaçados da ictiofauna marinha amazônica.
[3] Hoje os navios que fazem a rota São Luis – Roterdã (Holanda), ou da Baía de São Marcos para a China teriam cerca de 350 mil ton.
[4] Mãe Grande porque o mangue é uma mãe e fornece fartura de alimentos.
[5] A Casa da Virada foi escolhida com outra trintena de projetos pelo Edital Petrobras 2007, concorrendo com mais de 900 projetos.
[6] Há recomendações de âmbito regional (para o Salgado e Zona Bragantina), para o município de Curuçá ou para determinadas ilhas ou comunidades.