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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As secas devastam o "pulmão verde" da Amazônia


Le Monde
Jean-Pierre Langellier
No Rio de Janeiro 


A floresta amazônica poderá, muito em breve, perder seu papel benéfico de maior "pulmão verde do planeta". É essa a alarmante previsão feita por uma equipe de climatólogos, dirigida pelo britânico Simon Lewis (Universidade de Leeds) e pelo brasileiro Paulo M. Brando (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, IPAM). As conclusões de seu estudo foram publicadas na sexta-feira (4), na revista americana "Science" ("The 2010 Amazon Drought"), por Simon Lewis, Paulo M. Brando, Oliver L. Phillips, Geertje M. F. van der Heijden, Daniel Nepstad).

Os autores baseiam seu prognóstico em uma constatação: as ondas de seca que atingem a Amazônia são cada vez mais intensas e mais frequentes. Elas destroem um número crescente de árvores que, ao se decomporem, liberam grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2). O processo de ressecamento também aumenta os incêndios florestais, grandes emissores de carbono.

Se esses episódios de seca persistirem no mesmo ritmo ou, o que é provável, se eles se acelerarem associados ao aquecimento planetário, a floresta amazônica emitirá mais carbono do que captará. Ela não será mais um "pulmão" precioso, onde a selva fixava de forma maciça o CO2 atmosférico graças à fotossíntese. Em vez de ser uma sequestradora de carbono, ela se tornará uma fonte de carbono.

O estudo publicado pela "Science", a partir de modelos construídos através de observações por satélite, compara as duas mais recentes secas, em 2005 e 2010. A primeira, por sua amplitude, foi batizada "seca do século" na Amazônia. Mas a segunda, somente cinco anos mais tarde, foi ainda mais forte.

A seca de 2005 afetou 1,9 milhão de quilômetros quadrados; a de 2010, 3 milhões de quilômetros quadrados. Os cálculos do déficit hídrico – que favorece ou causa a mortalidade das árvores – resultam nesse prognóstico de agravação do fenômeno. Em 2005, 37% da superfície total observada da Amazônia – 5,3 milhões de quilômetros quadrados – sofreu com falta de chuvas; em 2010, foram 57%.

Em 2005, o fenômeno comportava três epicentros: o sudoeste da Amazônia, o norte e o centro da Bolívia, e o Estado brasileiro do Mato Grosso. Em 2010, um único epicentro: o sudoeste da Amazônia. As duas secas ocorreram em um mesmo contexto climático regional: uma temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico superior à média.

Com base em correlações conhecidas entre seca e mortalidade das árvores, os autores do estudo preveem o impacto nocivo da seca de 2010: não só a floresta não poderá mais captar seu habitual 1,5 bilhão de toneladas de CO2, como também as árvores mortas, ao apodrecerem, soltarão 5 bilhões de toneladas de CO2 ao longo dos próximos anos. Em comparação, os Estados Unidos emitem anualmente 5,4 bilhões de toneladas de CO2 de origem fóssil.

Muitas incertezas persistem, especialmente sobre os volumes de árvores mortas pela seca ou sobre as reações do solo. Elas exigem medições e cálculos mais aprofundados. Mas, para os autores, a tendência não deixa dúvidas: ela é pesada e nefasta.

"Duas secas extremas a cada dez anos podem bastar para neutralizar a captação de carbono", explica ao "Le Monde" o professor Simon Lewis, coordenador dessa equipe. "Se esses fenômenos se revelarem ainda mais frequentes, a maior floresta primária do planeta se tornará uma grande fonte de gases de efeito estufa. Isso seria muito preocupante. Infelizmente, nossos modelos permitem prever um futuro sombrio para a Amazônia".

Os incêndios florestais são cada vez mais frequentes. Para o americano Daniel Nepstad, um dos coautores do estudo, metade da cobertura florestal da bacia amazônica está a ponto de não mais receber água o suficiente para enfrentar futuras temporadas muito secas.

Em 2010, o Amazonas, rio mais volumoso do mundo, atingiu seu nível mais baixo desde 1963. Essa queda dá continuidade a uma tendência constatada desde 1999. Uma evolução agravada pelo aquecimento climático global: "Na Amazônia", avisa Simon Lewis, "a temperatura poderá aumentar pelo menos 6 graus Celsius até o final do século 21".

Gases de efeito estufa, secas, destruição de árvores, incêndios, emissões crescentes de carbono intensificam o efeito estufa e o aquecimento climático: a Amazônia é o local de um círculo vicioso que pode aniquilar os inegáveis progressos conseguidos pelo Brasil em matéria de combate ao desmatamento, graças a medidas como um melhor monitoramento por satélite e uma maior repressão contra os madeireiros ilegais.

Tradução: Lana Lim

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