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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Gurus arrependidos fazem mais sucesso

Como sempre tenho afirmado, não existem gurus, ninguém a seguir, aprendam, compreendam, e tenham idéias próprias, pensem por si mesmos e duvidem de tudo e de todos.

A realidade pertence a cada um e cada um tem a sua.

O melhor caminho é sempre a independência.


10 de dezembro de 2012, às 14h40min

Estou falando de Tom Peters – autor do badalado "In Search of Excellence", traduzido no Brasil com o título de "Vencendo a Crise" – que numa edição recente da revista "Fast Company" resolveu, em tom de confissão, admitir que "embora seja uma bobagem o que vou dizer, mas tudo bem, admito que falseamos os dados que publicamos no livro" "In Search of Excellence"

As histórias de criminosos, corruptos, políticos, prostitutas, traficantes, especuladores... arrependidos e que se transformaram em pregadores do bem ou dogmáticos evangelizadores das formas para obter a salvação eterna já faziam parte do nosso cenário real. Mas o que parecia algo difícil finalmente aconteceu. Um guru da Administração, que "vomitou" verdades e receitas para leitores e assistentes de palestras para multidões, finalmente também teve a sua "crise de consciência" e resolveu admitir que mentiu ao longo de sua brilhante carreira de guru produzido e admirado por acadêmicos, executivos e estudantes do mundo empresarial.

Estou falando de Tom Peters – autor do badalado "In Search of Excellence", traduzido no Brasil com o título de "Vencendo a Crise" – que numa edição recente da revista "Fast Company" resolveu, em tom de confissão, admitir que "embora seja uma bobagem o que vou dizer, mas tudo bem, admito que falseamos os dados que publicamos no livro" "In Search of Excellence ".

Utilizando um relato confessional muito bem elaborado, que poderá inclusive recolocá-lo nos palcos do público sedento por ouvir "ao vivo" seus arrependimentos, Tom Peters retorna à cena. Quem sabe agora cobrando mais dólares para desvendar a hipocrisia e manipulação comercial que existe nos bastidores dos "best-sellers" editoriais do mundo da administração ou das palestras que arrebatam multidões de executivos engravatados em busca de receitas mágicas para suas inseguranças e solidão.
Tom Peters (Foto: divulgação)

Sua confissão merece ser analisada como uma forma de reflexão para que muitos seguidores de gurus – internacionais ou nacionais – sejam vistos e avaliados sob um olhar mais crítico, tentando diminuir sua influência barata e pouco consistente. Vale lembrar que só emergem "gurus" porque existem seguidores, fãs de carteirinha ou repetidores de frases feitas.

A primeira confissão de Tom Peters mostra que a idéia da pesquisa e publicação do livro nasceu de uma disputa de "egos" e escritórios de uma famosa consultoria – Mckinsey – onde as decisões estratégicas eram tomadas levando em consideração estrelismo e impacto que poderiam provocar. Eles estavam na categoria dos que foram considerados "tolos". E por esta razão decidiram reagir de qualquer forma. Mesmo utilizando dados inconsistentes.
A seguir Tom Peters refere-se ao fato que não possuía nenhuma teoria que quisesse provar. Desejava apenas reproduzir uma insatisfação que existia no ar com a forma que a administração vinha sendo exercida nos últimos anos. O que não retira o mérito do seu trabalho. Mas os oito "princípios" que estabeleceu como verdades para conseguir sucesso na nova realidade do mundo empresarial foram apenas elaboradas como conclusões pessoais, sem nenhuma consistência investigativa.

Referindo-se às 62 empresas que fizeram parte da lista inicial da pesquisa – que depois diminuiu para 43 – afirma que "os dados foram falseados para produzir o resultado que tínhamos em mente. "Era apenas bom senso."

Ele fala também que seu trabalho com o amigo e consultor Bob Waterman foi produto de uma "raiva muito grande que sentia". E este ódio dirigia-se à três figuras: Peter Drucker – reconhecido pensador da administração que na época continuava produzindo reflexões e questionamentos - , Robert McNamara – Secretário de Defesa dos Estados Unidos durante a guerra do Vietña - , e David Kearns – na época CEO da Xerox e considerada uma empresa de sucesso naquela fase -.

A lista de erros e confissões prossegue com o reconhecimento que as idéias eram boas, mas restringiam-se simplesmente à realidade americana. Diz ele que "nem ao menos chegamos à Tijuana ou Toronto". Omitimos as mulheres e negros em suas conquistas bem como a globalização e a importância que a tecnologia da informação poderia ter sobre o mundo empresarial.

Curiosa a sua observação sobre como seria o título de um livro que escreveria hoje: "Em busca do estranho, da curiosidade, da licença para explorar".
O gesto de Tom Peters, que com certeza tem muito de comercial e o coloca de volta na "media" dos gurus empresariais, tem alguns méritos na medida em que pode gerar massa crítica.

Olhando na perspectiva do mundo empresarial brasileiro – que tem se mostrado um mercado ingênuo no consumo dos modismos que provém de outras culturas – vale pensar e agir um pouco mais na análise de algumas das características importantes da nossa diversidade e seus impactos.

País cosmopolita com empresas que se originaram de imigrantes e que atravessa uma transição de empreendimentos construídos pelo trabalho, para o fortalecimento do capital, vale olhá-lo com mais atenção. Não podemos isolar-nos das experiências de outras culturas. Mas internacionalizar-se exige, antes de tudo, conhecer o seu próprio mundo. A globalização não é um processo que vem de fora. Começa em nossas mentes e casas.

Afinal, como já havia afirmado Alvin Toffler, "a globalização vai acirrar os 'tribalismos'."

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