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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Envolverde: Lei é lei em qualquer área, ou tem área onde lei é sugestão? / GRI a necessidade de bons relatórios de gestão para avaliar desempenhos empresariais


Caras e caros alunos,

Essa questão dos arrozeiros que sairam de Roraima, das terras dos índios, e estão querendo se estabelecer no Marajó, merece atenção pelas questões legais, sociais e ambientais. De forma alguma sou contra o desenvolviemnto econômico do Marajó, que ostenta hoje um dos piores IDH (índice de desenvolvimento humano) do Brasil, próximo aos piores do mundo, e necessita de soluções que possam trazer melhoria na qualidade de vida do marajoara, mas aproveitar essa sua situação de miséria e achar que essa exploração, independente dos malefícios que possa trazer e sem verificar a capilaridade e distribuição de riqueza que poderá proporcionar é temerário.

Sabemos que plantar arroz e outras culturas de larga extensão são altamente mecanizáveis e utilizam pouca mão de obra, além disso necessitam de grandes quantidades de agrotóxicos, sacrificam a qualidade do solo, atraem pragas que se multiplicam devido às extensões do alimento que proporcionam a esses animais e provocam grandes mudanças no bioma e na qualidade de vida da população e, quando nção mais der o rendimento que os empresários esperam, estes simplesmente se mudam para outras áreas e deixam para trás um ambiente deteriorado e a economia local desestruturada.

Procurem se informar, adquiram opinião própria sobre o assunto.

No artigo seguinte está sendo abordado a função e necessidade de se elaborar um relatório de atividades das empresas onde a sustentabilidade seja bem representada, além adas questões financeiras e operacionais e uma padronização que permita que se faça comparação (benchmarking) com outras organizações, especialmente as do mesmo ramo.

Fazer relatórios é atividade constante de administradores, portanto, conheçam o GRI - Global Report Iniciative (www.gri.com) uma organização internacional que trabalha para estabelecer padrões de relatórios organizacionais.



Lei é lei em qualquer área, ou tem área onde lei é sugestão?

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Desde que comecei a cobrir as áreas de meio ambiente e sustentabilidade tenho notado uma certa divergência entre a obrigatoriedade de se cumprir a lei em diversas áreas do cotidiano. Enquanto a maior parte da sociedade clama por mais rigor nas leis criminais, que deveriam aumentar a sensação de segurança dos cidadãos, em outras áreas o cumprimento da lei é visto por muitos como um entrave e não como uma garantia dos direitos desses mesmos cidadãos. Cumpre dizer desde já que não sou advogado e nem de longe um especialista em leis, apenas um jornalista que escreve sobre muitas coisas, em especial sobre sustentabilidade há pelo menos 15 anos. Antes disso escrevia mais sobre economia e finanças.

 Os debates sobre a necessidade de se cumprir leis na área ambiental são sempre acalorados e muitas vezes tratados de forma maniqueísta. São comuns opiniões que colocam as questões da legislação ambiental como sendo um entrave à produção, principalmente de alimentos ou de bioenergia. E vejam, não estou aqui tratando de militância, mas de leis debatidas e aprovadas pelos parlamentos em seus diversos níveis. Em um artigo recente procurei destacar que a produção de arroz nas áreas de alagados do arquipélago do Marajó precisa estar amparada na Constituição do Estado do Pará, que determina que aquela região é uma APA – Área de Preservação Ambiental e uma das mais importantes área de alagados do Brasil, responsável pela reprodução de inúmeras espécies de peixes e crustáceos.

 Não era um artigo nem a favor e nem contra a produção agrícola na região, mas sim um texto que levanta a inexistência de marcos legais que apoiem essa produção, principalmente por omissão do poder público. No entanto, como o texto foi escrito por um suposto ambientalista (eu recuso esse rótulo, sou apenas um jornalista), as reações foram inúmeras apontando genericamente "os ambientalistas" como entraves à produção de alimentos. O debate deveria ser focado no cumprimento de uma lei que prevê o estabelecimento da APA do Marajó e a regulamentação de atividades econômicas de impacto, pois sem isso há um risco de outros direitos da sociedade serem atropelados.

As leis ambientais brasileiras são apontadas internacionalmente como bastante avançadas em diversas áreas. Destaque seja feito para o capítulo de meio ambiente da Constituição de 1988, mas a legislação ambiental brasileira é muito anterior a isso. A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, por exemplo, foi promulgada em 1981, ainda durante o regime militar e, certamente, sem a influência de militantes ambientais. O País goza de uma excelente reputação nessa área, assim como na área de monitoramento do cumprimento dessas leis, assumindo, inclusive, posições de liderança em debates estruturantes, como as Conferências de Biodiversidade e de Clima organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). As duas mais importantes conferências sobre desenvolvimento sustentável do sistema ONU foram realizadas no Brasil, a Rio92 e a Rio+20, em uma demonstração do destaque que os temas têm no País.

No entanto, as leis ambientais são tratadas como leis de segunda categoria quando o suposto "interesse econômico" aflora. Não importa que normalmente leis ambientais sejam defesas de interesses de longo prazo da sociedade e da própria economia, e os "interesses econômicos" costumam ser de curtíssimo prazo e normalmente de grupos e não da sociedade em geral. Os números divulgados pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – mostram que o número de acidentes ambientais no Brasil vem crescendo em progressão geométrica na última década, saindo de 116 em 2006 para 751 em 2010, um dado que certamente reforça a necessidade de cumprimento da legislação ambiental em toda a sua amplitude no Brasil.

Nos últimos anos o Brasil avançou promulgando diversas leis que terão um forte impacto na estruturação da economia e dos direitos sociais nos próximos anos, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que trata da gestão de lixo em todo o País, o Plano Nacional de Saneamento Básico, com benefícios claros à saúde e ao meio ambiente, e a inovadora Política Nacional de Mudanças Climáticas, que serve como modelo não apenas para Estados e municípios, como está sendo estudada por diversos países. É importante que essas legislações e outras não citadas sejam estruturantes para as atividades econômicas e para a ação dos poderes públicos, pois delas surgirá uma economia mais adequada aos desafios oferecidos pelo futuro, onde cada vez mais pessoas dependerão dos recursos naturais e de sua capacidade de prestar serviços ambientais ao Brasil e ao planeta.

Há de se lembrar também que, normalmente, os prejuízos de acidentes ambientais são públicos, costumam impactar toda a sociedade, enquanto os lucros de atividades que desrespeitam as leis ambientais são privados.

* Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, revistas IstoÉ e Exame. Desde 1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.
(Agência Envolverde) 


GRI - entrevista com Gláucia Terreo da GRI Brasil

http://envolverde.com.br/portal/wp-content/uploads/2012/12/ec1.jpg?9d7bd4"Vai chegar o momento que talvez eu pegue o ônibus ou o metrô e tenha alguém lendo um relatório de sustentabilidade". Este é o sonho de Glaucia Terreo, representante da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil.

A prática de produzir relatórios de sustentabilidade vem ganhando espaço no Brasil e no mundo, com um crescimento expressivo na última década, e as grandes corporações estão entre as principais adeptas desta ferramenta de comunicação. Elas utilizam os relatórios para informar seus clientes, investidores e demais stakeholders sobre os desempenhos econômico, social e ambiental da empresa.

Para garantir que as informações sejam seguras e que sigam determinados critérios, foram criadas algumas metodologias. A principal delas foi desenvolvida pela Global Reporting Initiative (GRI) e é composta de indicadores e diretrizes que norteiam a elaboração do relatório e garantem transparência ao seu resultado final.

Neste entrevista concedida à repórter da Envolverde, Alice Marcondes, a representante da GRI no Brasil, Gláucia Terreo, fala do panorama atual e da evolução da prática de relatar.
Confira a íntegra da conversa.

Como surgiu dentro das empresas a prática de produzir relatórios de sustentabilidade? Eles são uma evolução dos relatórios de responsabilidade social?
Eu não costumo definir assim. O que aconteceu aqui no Brasil foi que, na Eco 92, foram apontados alguns princípios, inclusive a criação de ferramentas para que as empresas conseguissem incorporar a questão da sustentabilidade, ou pelo menos a perspectiva ambiental, na gestão. Isso incentivou as pessoas a discutirem maneiras de incluir a sustentabilidade nos negócios. Em 1997, Betinho criou a metodologia do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), que era bastante simples, mas também interessante. Era um sistema que tinha como base uma tabela, que abordava muitos pontos que hoje em dia são as bases do que nós chamamos de sustentabilidade. Com isso, aqui no Brasil, algumas empresas começaram a fazer relatórios a partir da metodologia do Ibase.

No contexto internacional, a discussão começou em Boston, quando alguns ativistas ambientais, que atuavam também na área de finanças, começaram a buscar caminhos para incorporar a questão da sustentabilidade em seus investimentos. Eles queriam conseguir analisar, além dos resultados econômicos, também as questões ambientais e sociais. Esse conflito começou quando houve acidentes com empresas petrolíferas. Eles não queriam compactuar com esses acidentes. As bases deles eram os relatórios financeiros, mas eles queriam mais do que isso. Assim surgiu a ideia de inserir as outras dimensões nesse relatório, para que a empresa pudesse então incorporar na sua gestão as questões de sustentabilidade. Algumas grandes corporações, principalmente as de maior impacto, começaram a desenvolver metodologias próprias de relatórios. Em paralelo, vinha nascendo a semente da GRI (Global Reporting Initiative), que surgiu em 1997 e em 2002 se estabeleceu em Amsterdam com sede própria.

No Brasil, a Natura foi a primeira a produzir relatório utilizando a metodologia GRI. Essa ainda era a versão G1 da metodologia. Desde então, foram empreendidas melhorias. Foi lançada a G2, e em 2006 surgiu a G3, que foi quando realmente houve um crescimento expressivo na utilização da metodologia no Brasil.

Qual a versão utilizada atualmente?
A gente está ainda na versão G3. A G4 está sendo elaborada e deve ser lançada em breve.
O que mudou na G3 para que houvesse esse crescimento?
A linguagem é mais amigável do que nas versões anteriores. É mais enxuta, mas com uma quantidade maior de explicações. Cada indicador vem com uma espécie de receita para trabalhar. Além disso, ela foi traduzida para o português. As anteriores foram lançadas somente em inglês.

Na sua opinião, o GRI, além de ser uma metodologia para relatar, é também um termômetro que mede onde a empresa está bem e em que setores precisa melhorar?
Eu acho que realmente isso acontece. Uma empresa ter um relatório de sustentabilidade não significa que ela é sustentável. Significa que ela está tentando fazer algo, algumas em um nível mais avançado, outras não. Porém, quando uma empresa faz o relatório, isso quer dizer, no mínimo, que existe um interesse da gestão em incorporar a questão da sustentabilidade.

É possível enxergar a evolução da empresa de um relatório para outro. Em alguns casos, o primeiro relatório só citava coisas boas, relatava praticamente só os projetos sociais. Os relatórios seguintes já começam a abordar temas relativos ao negócio da empresa, mais inerentes à gestão. Por exemplo, uma empresa do ramo da alimentação, que no primeiro relatório só contava sobre projetos sociais, hoje fala de transgênicos, do uso do solo, da valorização da cadeia produtiva, da cadeia de fornecedores. Isto demonstra uma evolução do conceito dentro da empresa.

Costumo dizer que o ótimo é inimigo do bom. Em minha opinião, o importante é começar, dar o primeiro passo. A evolução vem naturalmente.

Quais são os entraves existentes no Brasil para as empresas que querem produzir o relatório de sustentabilidade?
O principal, eu acho que é o desconhecimento da função do relatório. Muita gente, principalmente pessoas de decisão dentro das instituições, confunde com propaganda. Esta visão está evoluindo, mas ainda precisa chegar lá em cima, nas lideranças. Pensando nisso, a GRI certificou algumas organizações no Brasil para ensinar sobre relatório.

Qual o primeiro passo na construção de um relatório de sustentabilidade?
Existem perguntas que são básicas para a produção do relatório de sustentabilidade. Porém, são perguntas que nem sempre a empresa fica feliz em responder. A primeira é qual é o negócio da empresa e quais são as estratégias para os próximos anos. A segunda é quais são os impactos positivos que o negócio e as estratégias estão gerando. Quando a empresa responde esta segunda pergunta, ela já é obrigada a avaliar o modo como ela gerencia seus impactos negativos, como é possível minimizá-los. Uma empresa que trabalha em prol do desenvolvimento sustentável busca sempre crescer minimizando impactos negativos e potencializando os positivos. Se a empresa ainda não fez o exercício de medir esses impactos, o relatório vem para ajudar. A pessoa que fica responsável por fazer o relatório mergulha em todos os cantos da empresa, ela passa a conhecer todos os setores pelo menos um pouco.

Em sua opinião, os principais gestores, como os presidentes das empresas, deveriam ter uma participação mais ativa na construção dos relatórios de sustentabilidade?
O relatório tem muitas fases. O presidente precisa sempre estar observando lá de cima. Frequentemente as empresas cometem um erro grave, que é achar que o relatório é só de uma área, como sustentabilidade, ou recursos humanos, quando, na verdade, ele é da empresa como um todo, por isto a gestão tem que ser multidisciplinar. É preciso saber aonde a empresa quer chegar, quais os objetivos que ela quer atingir com o relatório. Ela pode querer prestar contas para clientes, atrair investidores, são muitos ideais possíveis.

Os relatórios de sustentabilidade ainda estão muito restritos no sentido de que se dirigem apenas aos stakeholders da empresa. Você acredita que eles podem se tornar uma ferramenta de comunicação com o público em geral?
Acredito que esse é um grande desafio aqui no Brasil. As pessoas não perguntam. Além disso, o brasileiro não gosta muito de ler. Eu acho importante, mas antes é preciso haver uma mudança cultural. Os relatórios precisam também ter uma linguagem mais amigável. Muitos deles são chatos. Conseguir atingir esse grande público seria um avanço enorme na discussão da sustentabilidade. Sou otimista, acredito que ainda vai chegar o momento que talvez eu pegue o ônibus ou o metrô e tenha alguém lendo um relatório de sustentabilidade.

(Agência Envolverde)

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