Caras e caros alunos,
Essa questão dos arrozeiros que sairam de Roraima, das terras dos índios, e estão querendo se estabelecer no Marajó, merece atenção pelas questões legais, sociais e ambientais. De forma alguma sou contra o desenvolviemnto econômico do Marajó, que ostenta hoje um dos piores IDH (índice de desenvolvimento humano) do Brasil, próximo aos piores do mundo, e necessita de soluções que possam trazer melhoria na qualidade de vida do marajoara, mas aproveitar essa sua situação de miséria e achar que essa exploração, independente dos malefícios que possa trazer e sem verificar a capilaridade e distribuição de riqueza que poderá proporcionar é temerário.
Sabemos que plantar arroz e outras culturas de larga extensão são altamente mecanizáveis e utilizam pouca mão de obra, além disso necessitam de grandes quantidades de agrotóxicos, sacrificam a qualidade do solo, atraem pragas que se multiplicam devido às extensões do alimento que proporcionam a esses animais e provocam grandes mudanças no bioma e na qualidade de vida da população e, quando nção mais der o rendimento que os empresários esperam, estes simplesmente se mudam para outras áreas e deixam para trás um ambiente deteriorado e a economia local desestruturada.
Procurem se informar, adquiram opinião própria sobre o assunto.
No artigo seguinte está sendo abordado a função e necessidade de se elaborar um relatório de atividades das empresas onde a sustentabilidade seja bem representada, além adas questões financeiras e operacionais e uma padronização que permita que se faça comparação (benchmarking) com outras organizações, especialmente as do mesmo ramo.
Fazer relatórios é atividade constante de administradores, portanto, conheçam o GRI - Global Report Iniciative (www.gri.com) uma organização internacional que trabalha para estabelecer padrões de relatórios organizacionais.
Lei é lei em qualquer área, ou tem área onde lei é sugestão?
Desde que
comecei a cobrir as áreas de meio ambiente e sustentabilidade tenho notado uma
certa divergência entre a obrigatoriedade de se cumprir a lei em diversas áreas
do cotidiano. Enquanto a maior parte da sociedade clama por mais rigor nas leis
criminais, que deveriam aumentar a sensação de segurança dos cidadãos, em
outras áreas o cumprimento da lei é visto por muitos como um entrave e não como
uma garantia dos direitos desses mesmos cidadãos. Cumpre dizer desde já que não
sou advogado e nem de longe um especialista em leis, apenas um jornalista que
escreve sobre muitas coisas, em especial sobre sustentabilidade há pelo menos
15 anos. Antes disso escrevia mais sobre economia e finanças.
Os
debates sobre a necessidade de se cumprir leis na área ambiental são sempre
acalorados e muitas vezes tratados de forma maniqueísta. São comuns opiniões
que colocam as questões da legislação ambiental como sendo um entrave à
produção, principalmente de alimentos ou de bioenergia. E vejam, não estou aqui
tratando de militância, mas de leis debatidas e aprovadas pelos parlamentos em
seus diversos níveis. Em um artigo recente procurei destacar que a produção de
arroz nas áreas de alagados do arquipélago do Marajó precisa estar amparada na
Constituição do Estado do Pará, que determina que aquela região é uma APA –
Área de Preservação Ambiental e uma das mais importantes área de alagados do
Brasil, responsável pela reprodução de inúmeras espécies de peixes e
crustáceos.
Não
era um artigo nem a favor e nem contra a produção agrícola na região, mas sim
um texto que levanta a inexistência de marcos legais que apoiem essa produção,
principalmente por omissão do poder público. No entanto, como o texto foi
escrito por um suposto ambientalista (eu recuso esse rótulo, sou apenas um
jornalista), as reações foram inúmeras apontando genericamente "os ambientalistas"
como entraves à produção de alimentos. O debate deveria ser focado no
cumprimento de uma lei que prevê o estabelecimento da APA do Marajó e a
regulamentação de atividades econômicas de impacto, pois sem isso há um risco
de outros direitos da sociedade serem atropelados.
As leis
ambientais brasileiras são apontadas internacionalmente como bastante avançadas
em diversas áreas. Destaque seja feito para o capítulo de meio ambiente da
Constituição de 1988, mas a legislação ambiental brasileira é muito anterior a
isso. A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, por exemplo, foi
promulgada em 1981, ainda durante o regime militar e, certamente, sem a
influência de militantes ambientais. O País goza de uma excelente reputação
nessa área, assim como na área de monitoramento do cumprimento dessas leis,
assumindo, inclusive, posições de liderança em debates estruturantes, como as
Conferências de Biodiversidade e de Clima organizadas pela Organização das
Nações Unidas (ONU). As duas mais importantes conferências sobre
desenvolvimento sustentável do sistema ONU foram realizadas no Brasil, a Rio92
e a Rio+20, em uma demonstração do destaque que os temas têm no País.
No entanto,
as leis ambientais são tratadas como leis de segunda categoria quando o suposto
"interesse econômico" aflora. Não importa que normalmente leis
ambientais sejam defesas de interesses de longo prazo da sociedade e da própria
economia, e os "interesses econômicos" costumam ser de curtíssimo
prazo e normalmente de grupos e não da sociedade em geral. Os números
divulgados pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – mostram que o número de acidentes ambientais no Brasil
vem crescendo em progressão geométrica na última década, saindo de 116 em 2006
para 751 em 2010, um dado que certamente reforça a necessidade de cumprimento
da legislação ambiental em toda a sua amplitude no Brasil.
Nos últimos
anos o Brasil avançou promulgando diversas leis que terão um forte impacto na
estruturação da economia e dos direitos sociais nos próximos anos, como a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, que trata da gestão de lixo em todo o
País, o Plano Nacional de Saneamento Básico, com benefícios claros à saúde e ao
meio ambiente, e a inovadora Política Nacional de Mudanças Climáticas, que
serve como modelo não apenas para Estados e municípios, como está sendo
estudada por diversos países. É importante que essas legislações e outras não
citadas sejam estruturantes para as atividades econômicas e para a ação dos
poderes públicos, pois delas surgirá uma economia mais adequada aos desafios
oferecidos pelo futuro, onde cada vez mais pessoas dependerão dos recursos
naturais e de sua capacidade de prestar serviços ambientais ao Brasil e ao
planeta.
Há de se
lembrar também que, normalmente, os prejuízos de acidentes ambientais são
públicos, costumam impactar toda a sociedade, enquanto os lucros de atividades
que desrespeitam as leis ambientais são privados.
* Dal
Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas
redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil,
revistas IstoÉ e Exame. Desde 1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados
ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade
socioambiental empresarial.
(Agência
Envolverde)
GRI -
entrevista com Gláucia Terreo da GRI Brasil
"Vai chegar o momento que talvez eu pegue o ônibus ou o metrô e
tenha alguém lendo um relatório de sustentabilidade". Este é o sonho de
Glaucia Terreo, representante da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil.
A prática de
produzir relatórios de sustentabilidade vem ganhando espaço no Brasil e no
mundo, com um crescimento expressivo na última década, e as grandes corporações
estão entre as principais adeptas desta ferramenta de comunicação. Elas
utilizam os relatórios para informar seus clientes, investidores e demais stakeholders sobre
os desempenhos econômico, social e ambiental da empresa.
Para
garantir que as informações sejam seguras e que sigam determinados critérios,
foram criadas algumas metodologias. A principal delas foi desenvolvida pela
Global Reporting Initiative (GRI) e é composta de indicadores e diretrizes que
norteiam a elaboração do relatório e garantem transparência ao seu resultado
final.
Neste
entrevista concedida à repórter da Envolverde, Alice Marcondes, a representante
da GRI no Brasil, Gláucia Terreo, fala do panorama atual e da evolução da
prática de relatar.
Confira a
íntegra da conversa.
Como surgiu
dentro das empresas a prática de produzir relatórios de sustentabilidade? Eles
são uma evolução dos relatórios de responsabilidade social?
Eu não
costumo definir assim. O que aconteceu aqui no Brasil foi que, na Eco 92, foram
apontados alguns princípios, inclusive a criação de ferramentas para que as
empresas conseguissem incorporar a questão da sustentabilidade, ou pelo menos a
perspectiva ambiental, na gestão. Isso incentivou as pessoas a discutirem
maneiras de incluir a sustentabilidade nos negócios. Em 1997, Betinho criou a
metodologia do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas),
que era bastante simples, mas também interessante. Era um sistema que tinha
como base uma tabela, que abordava muitos pontos que hoje em dia são as bases
do que nós chamamos de sustentabilidade. Com isso, aqui no Brasil, algumas
empresas começaram a fazer relatórios a partir da metodologia do Ibase.
No contexto
internacional, a discussão começou em Boston, quando alguns ativistas
ambientais, que atuavam também na área de finanças, começaram a buscar caminhos
para incorporar a questão da sustentabilidade em seus investimentos. Eles
queriam conseguir analisar, além dos resultados econômicos, também as questões
ambientais e sociais. Esse conflito começou quando houve acidentes com empresas
petrolíferas. Eles não queriam compactuar com esses acidentes. As bases deles
eram os relatórios financeiros, mas eles queriam mais do que isso. Assim surgiu
a ideia de inserir as outras dimensões nesse relatório, para que a empresa
pudesse então incorporar na sua gestão as questões de sustentabilidade. Algumas
grandes corporações, principalmente as de maior impacto, começaram a
desenvolver metodologias próprias de relatórios. Em paralelo, vinha nascendo a
semente da GRI (Global Reporting Initiative), que surgiu em 1997 e em 2002 se
estabeleceu em Amsterdam com sede própria.
No Brasil, a
Natura foi a primeira a produzir relatório utilizando a metodologia GRI. Essa
ainda era a versão G1 da metodologia. Desde então, foram empreendidas
melhorias. Foi lançada a G2, e em 2006 surgiu a G3, que foi quando realmente
houve um crescimento expressivo na utilização da metodologia no Brasil.
Qual a
versão utilizada atualmente?
A gente está
ainda na versão G3. A G4 está sendo elaborada e deve ser lançada em breve.
O que mudou
na G3 para que houvesse esse crescimento?
A linguagem
é mais amigável do que nas versões anteriores. É mais enxuta, mas com uma
quantidade maior de explicações. Cada indicador vem com uma espécie de receita
para trabalhar. Além disso, ela foi traduzida para o português. As anteriores
foram lançadas somente em inglês.
Na sua
opinião, o GRI, além de ser uma metodologia para relatar, é também um
termômetro que mede onde a empresa está bem e em que setores precisa melhorar?
Eu acho que
realmente isso acontece. Uma empresa ter um relatório de sustentabilidade não
significa que ela é sustentável. Significa que ela está tentando fazer algo,
algumas em um nível mais avançado, outras não. Porém, quando uma empresa faz o
relatório, isso quer dizer, no mínimo, que existe um interesse da gestão em
incorporar a questão da sustentabilidade.
É possível
enxergar a evolução da empresa de um relatório para outro. Em alguns casos, o
primeiro relatório só citava coisas boas, relatava praticamente só os projetos
sociais. Os relatórios seguintes já começam a abordar temas relativos ao
negócio da empresa, mais inerentes à gestão. Por exemplo, uma empresa do ramo
da alimentação, que no primeiro relatório só contava sobre projetos sociais,
hoje fala de transgênicos, do uso do solo, da valorização da cadeia produtiva,
da cadeia de fornecedores. Isto demonstra uma evolução do conceito dentro da
empresa.
Costumo
dizer que o ótimo é inimigo do bom. Em minha opinião, o importante é começar,
dar o primeiro passo. A evolução vem naturalmente.
Quais são os
entraves existentes no Brasil para as empresas que querem produzir o relatório
de sustentabilidade?
O principal, eu acho que é o desconhecimento da função do relatório.
Muita gente, principalmente pessoas de decisão dentro das instituições,
confunde com propaganda. Esta visão está evoluindo, mas ainda precisa chegar lá
em cima, nas lideranças. Pensando nisso, a GRI certificou algumas organizações
no Brasil para ensinar sobre relatório.
Qual o
primeiro passo na construção de um relatório de sustentabilidade?
Existem
perguntas que são básicas para a produção do relatório de sustentabilidade.
Porém, são perguntas que nem sempre a empresa fica feliz em responder. A
primeira é qual é o negócio da empresa e quais são as estratégias para os
próximos anos. A segunda é quais são os impactos positivos que o negócio e as
estratégias estão gerando. Quando a empresa responde esta segunda pergunta, ela
já é obrigada a avaliar o modo como ela gerencia seus impactos negativos, como
é possível minimizá-los. Uma empresa que trabalha em prol do desenvolvimento
sustentável busca sempre crescer minimizando impactos negativos e potencializando
os positivos. Se a empresa ainda não fez o exercício de medir esses impactos, o
relatório vem para ajudar. A pessoa que fica responsável por fazer o relatório
mergulha em todos os cantos da empresa, ela passa a conhecer todos os setores
pelo menos um pouco.
Em sua
opinião, os principais gestores, como os presidentes das empresas, deveriam ter
uma participação mais ativa na construção dos relatórios de sustentabilidade?
O relatório tem muitas fases. O presidente precisa sempre estar
observando lá de cima. Frequentemente as empresas cometem um erro grave, que é
achar que o relatório é só de uma área, como sustentabilidade, ou recursos
humanos, quando, na verdade, ele é da empresa como um todo, por isto a gestão
tem que ser multidisciplinar. É preciso saber aonde a empresa quer chegar,
quais os objetivos que ela quer atingir com o relatório. Ela pode querer
prestar contas para clientes, atrair investidores, são muitos ideais possíveis.
Os
relatórios de sustentabilidade ainda estão muito restritos no sentido de que se
dirigem apenas aos stakeholders da empresa. Você acredita que
eles podem se tornar uma ferramenta de comunicação com o público em geral?
Acredito que
esse é um grande desafio aqui no Brasil. As pessoas não perguntam. Além disso,
o brasileiro não gosta muito de ler. Eu acho importante, mas antes é preciso
haver uma mudança cultural. Os relatórios precisam também ter uma linguagem
mais amigável. Muitos deles são chatos. Conseguir atingir esse grande público
seria um avanço enorme na discussão da sustentabilidade. Sou otimista, acredito
que ainda vai chegar o momento que talvez eu pegue o ônibus ou o metrô e tenha
alguém lendo um relatório de sustentabilidade.
(Agência Envolverde)
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