Posted on 19/06/2012
Costumamos dizer que o Brasil é um país empreendedor e os números indicam que isso seja mesmo verdade. Mas o Brasil também tem uma das maiores mortalidades de empresas do mundo. Apenas 50% das empresas abertas chegam ao 8 ano de vida e menos de 3% fazem aniversário de 30 anos. Isso significa que 9 em cada 10 empresas com as quais você se relaciona hoje provavelmente não existirão mais em 3 décadas. É chocante pensar nisso.
Não adianta muito ter o maior número de abertura de empresas e também ser campeão em fechamento delas, não é? É como ser a pessoa que mais vezes acertou 4 números em jogos da Mega-Sena na história. Não leva a nada. Mas porque isso acontece? Não são apenas os impostos, falta de infra-estrutura ou falta de incentivo adequado. Na verdade os outros países do BRIC, China, Índia e Rússia devem compartilhar muitos dos nossos problemas com uma taxa de mortalidade de empresas menor.
Síndrome de Vira-Lata
Existe um fator cultural forte como componente de nosso insucesso em empreender. O brasileiro não é formado, criado e educado para ser empreendedor. Em outros tempos eu já chamei isso de Síndrome de Vira-Lata. Essa nossa vocação natural para sermos guapecas, inferiores aos outros povos e menos evoluídos em nossas aptidões humanas e sociais. A Síndrome de Vira-Lata é o que nos faz dizer que no Brasil é assim mesmo quando vemos mais um escândalo de corrupção na tela da TV. É o que nos faz achar normal que uma Copa do Mundo e uma Olimpíada deixem obras e legado em todos os países menos aqui. É o que nos faz pensar que é "brasileirismo" termos o Carnaval de batuques e mulheres nuas como nosso principal evento cultural. É o que vai colocar Michel Teló e Ivete Sangalo na cerimônia de abertura e fechamento da Copa, provavelmente. Todos acham isso tão "brasileiro" quando na verdade a gente poderia ser mais do que isso se não se achasse um povo tão Vira-Lata.
E essa síndrome também tem laços profissionais. Ela está incutida na formação dos nossos jovens e, em muitos casos, aparece desde cedo, na forma como criamos nossas crianças. Ela vem evoluindo e se espalhando e é responsável, em parte, pela mortalidade das nossas empresas. O ápice da manifestação da Síndrome de Vira-Lata Profissional ocorre na faculdade.
Formado para ser empregado
O jovem brasileiro é educado para ser funcionário. Em vez do estímulo ao conhecimento, à experimentação o jovem é cobrado por arrumar um emprego e "se sustentar". Isto é tido como um processo de formação de caráter. Ok. Mas não seria também formação de caráter ver o jovem empreendendo, tentando abrir um negócio próprio? Lembre-se dos filmes de Hollywood, as crianças nos EUA são incentivadas a ganhar seu próprio dinheiro iniciando uma atividade auto-administrada. Os jovens dos EUA buscam montar barracas de limonada, cortar grama e mais recentemente a tentar montar negócios de comércio eletrônico pela internet. Enquanto isso o jovem brasileiro está sendo ensinado a buscar um emprego como empacotador de mercado, office-boy em escritórios, etc. Nada contra isso, são atividades dignas que formam caráter, mas não é difícil perceber quem estará mais propenso a ser empreendedor daqui alguns anos.
Ao amadurecer o jovem brasileiro vai para a faculdade, quando consegue. E no curso superior encontra um ambiente que, com raras exceções, teme o empreendedorismo. Talvez porque os professores sejam dedicados à teoria e o empreendedorismo seja empírico por natureza. Na faculdade, assim como na escola, valem notas e presença física. Dois conceitos importantes para empregados mas inexistentes para empreendedores. Na sala de aula o aluno participa quando lhe é requisitado e na maior parte do tempo é ente passivo, enquanto que uma das grandes marcas do empreendedorismo é a iniciativa. As tarefas, trabalhos, lições são normalmente definidas pelos professores e apenas cumpridas pelos alunos.
E assim, depois de 3 a 5 anos de treinamento em comportamentos completamente anti-empreendedores os jovens vão para a formatura. E qual é o mais alto grau de sucesso de um aluno nota A? Sair da faculdade empregado.
Sair da faculdade empreendedor
Claro que um aluno que se forme já com uma empresa aberta em seu nome, pronta para trabalhar para ele deve, provavelmente, vir de família abastada. Como ele vai "se sustentar" até a empresa dar dinheiro? É a pergunta da Síndrome de Vira-Lata batendo novamente na cabeça de todos.
O processo de formar empreendedores deveria consistir em, desde a tenra idade, estimular o cidadão a buscar sua independência financeira não tendo um emprego, mas tendo um negócio. Negócios dão certo e errado e assim como alguém pode ser mandado embora de um emprego, alguém em um negócio falido pode procurar outro e começar de novo.
Isso não vale para todo mundo, certas pessoas estarão mais felizes como empregados do que como patrões. Não há nada de ruim em ter um emprego e gostar dele. O erro do nosso sistema cultural-educacional é partir da premissa oposta: a de que todo mundo deve ser empregado.
As faculdades deveriam estimular o empreendedorismo, deixando notas de lado e premiando comportamentos clássicos do empreendedor como a liderança, iniciativa e o compartilhamento de conhecimento. As encubadoras de projetos deveriam fomentar os estudantes e suas idéias e não empresas privadas, isto até acontece, mas é muito pouco. As empresas deveriam ser cobradas pelas instituições de ensino a oferecem programas de inovação em lugar de estágios tapa-buraco onde não se aprende nada e servem apenas para conseguir mão de obra barata. Tome como exemplo o Google Summer of Code onde jovens fazem estágios de verão de curta duração em projetos de tecnologia e realmente aprendem algo novo.
Depois de receber tanto treinamento para ser empregado, para obedecer ordens, não é de admirar que um recém-graduado brasileiro tenha dificuldades de empreender. Não é difícil de entender também o potencial de pessoas jovens que vêem o empreendedorismo como algo natural. Nas melhores faculdades dos EUA os jovens são estimulados a inovar e a tentar fazer dessas inovações novos produtos ainda na faculdade. Para que saiam de lá com uma empresa já faturando. Algumas vezes a idéia é tão boa que eles largam a faculdade e nem chegam a se formar, esse foi o caso de Steve Jobs e Mark Zuckerberg.
Formado para fazer negócios
Ter sucesso ou tropeçar é consequência. Poucos empresários deram certo e ficaram ricos em sua primeira empreitada. Para saber levantar é necessário primeiro ter caído. Por causa disso seria muito melhor se, desde o começo, as crianças fossem provocadas para tentar colocar suas idéias em prática. Pense em algo novo, agora tente fazer. Este deveria ser o seu estímulo para seus filhos. Durante a juventude, em vez de lhes cobrar um emprego bobo que mal vai pagar as despesas deles, estimule-os a abrir uma empresa, a vender algo, a comercializar coisas. Eles aprenderão a mexer com dinheiro, a fazer negócios e quando forem para a faculdade ficarão decepcionados.
Canalize essa decepção para comandar uma postura inovadora. Os oriente a usar o que estão aprendendo para pensar em novas formas de ganhar dinheiro. Esqueça as notas, elas virão sozinhas com o prazer por empreender. Inicie um negócio com eles (seus filhos) e deixe que eles errem para aprender a acertar. Eles não sairão da faculdade com empregos, mas podem vir a gerar muitos deles durante a vida profissional.
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