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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Super-Homem: a evolução moral e estética de uma marca

Criado pela dupla Joe Shuster e Jerry Siegel - ambos já falecidos - o herói original tinha características morais bem distintas do personagem que conhecemos hoje nos filmes, desenhos e quadrinhos

Eber Freitas, Administradores.com, 5 de julho de 2013
Alexandre Jubran/Divulgação
Em junho de 1938, a primeira edição da revista Action Comics exibia em sua capa um herói sobre-humano com roupa azul e capa vermelha suspendendo um fusca verde. Esse foi o início de uma das marcas mais bem-sucedidas do capitalismo, que gerou diversas franquias durante os seus 75 anos de história: o Super-Homem.

Criado pela dupla Joe Shuster e Jerry Siegel - ambos já falecidos - o herói original tinha características morais bem distintas do personagem que conhecemos hoje nos filmes, desenhos e quadrinhos. Mas o simbolismo não foi uma jogada ao acaso. Desde o início os autores sabiam o que queriam construir: o formato norte-americano do arquétipo grego do Herói.

"O que ele representa desde a sua criação, é um tipo de figura que tem algo de superior, mas em quem você pode confiar", analisa Alexandre Jubran, ex-desenhista da Marvel e professor de design da Mackenzie. "É uma versão de Aquiles, por exemplo. Humano, porém com características divinas; tem superpoderes, é indestrutível, mas tem um ponto fraco fatal", diz.

Ele batia pra valer

Kal-El - nome de nascimento de Clark Kent - costumava ser um pouco mais agressivo ao utilizar seus superpoderes. "Não era uma violência explícita, era algo mais ou menos como nos desenhos animados dos anos 40. Tipo, uma bomba quando explodia na cabeça de um personagem', diz Jubran. "Mas com o tempo começaram a suavizar essa característica, até por conta da censura na época", afirma.

Ele era um pouco menos polido e não tinha um código moral muito ortodoxo. Só alguns anos mais tarde após sua criação, já na década de 40, o herói passou a ser guiado por um código de honra que o impedia de usar superpoderes de forma a causar danos em pessoas. "Assim como no arquétipo, ele não é uma pessoa que vai fazer algo por corrupção ou vício", explica Jubran.

Essa característica também foi estendida para outros heróis que hoje fazem parte do Universo DC, como o Batman - que contava com armas de fogo em seu arsenal, mas depois suspendeu o seu uso. Para o professor, "essas características mais agressivas foram se diluindo, por questões culturais mesmo. Mas não significa que, em sua concepção, o Superman fosse violento".

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Herói azul, vermelho e branco

O alter-ego de Kent desde o início foi pensado para se tornar um herói tipicamente americano, que representava os ideais de uma nação que crescia economicamente a passos largos após uma crise profunda, movida principalmente pelo consumo. O Macartismo e o temor de uma revolução comunista na América - que implicou, inclusive, na deportação do ator britânico Charles Chaplin - não estimularam os criadores do Superman a quebrar nenhum paradigma. Talvez por isso ele esteja completando seus 75 anos em 2013.

"Foram publicadas algumas histórias alternativas do Super-Homem, e uma delas mostra o que aconteceria se a sua nave tivesse caído na União Soviética", lembra Jubran. "Havia um receio generalizado em relação a todas as publicações em quadrinhos, de que os heróis transmitissem valores que 'corrompessem' os jovens da época. Isso também levou à criação de um 'código de honra', que na verdade era uma forma de censura", explica Jubran.

Visual

Embora tenha passado pelos traços de vários desenhistas e diretores de figurino, o visual do Super-Homem sempre manteve uma identidade única, com o escudo no peito, roupa azul, capa vermelha e a inconfundível cueca por cima. Essa identidade mudou recentemente, tanto nos quadrinhos quanto no último filme da franquia, com uma nova história e significado para o uniforme do homem de ferro.

Para quem não acompanha a saga de perto, foi uma boa mudança - uma cueca por cima do uniforme de cores berrantes não faz muito sentido. Mas para os fãs incondicionais, foi uma alteração inoportuna. "A antiga roupa tinha um significado, ela havia sido criada por sua mãe adotiva quando Clark iniciou sua luta contra o crime. A roupa atual se transformou numa espécie de armadura alienígena, o que não faz muito sentido, já que sua pele por si só é impenetrável", afirma o fã Daslei Bandeira.

"Se for analisar pela questão mercadológica, o que acontece com uma marca que está aí há setenta e cinco anos e resolve mudar sua identidade?", questiona Jubran. "A própria Coca-Cola passou por isso. Já tentaram inovar e refazer o Super-Homem, inclusive experimentando personalidades diferentes, e as pessoas rejeitaram, porque descaracterizou o personagem", diz. 

Ele explica que é necessário adaptar, mas mantendo a essência do uniforme original. "É como tirar as orelhas do uniforme do Batman porque atrapalham ou não têm utilidade. Acredito que os produtores vão chegar a uma solução intermediária". As cores berrantes do uniforme, por exemplo - outra característica da composição dos super-heróis nos anos 40 - tendem a se tornarem mais escuras e discretas. Mesmo esperando um resgate de algumas características do antigo Super-Homem, Jubran lembra que os super-heróis dos quadrinhos têm um ciclo de aproximadamente 10 anos: o tempo que uma marca nesse universo tem para se renovar e se recriar.

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