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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Era Caórdica (caos e ordem)

Por Antonio Sales Rios Neto http://antoniosales.blogspot.com/

Fundador da VISA Internacional Dee Hock acredita que estamos na Era Caórdica (caos e ordem)

"Estamos num ponto do tempo em que uma era de quatrocentos anos está morrendo e outra está lutando para nascer – uma mudança de cultura, ciência, sociedade e instituições muito maior do que qualquer outra que o mundo já tenha experimentado. Temos à frente a possibilidade de regeneração da individualidade, da liberdade, da comunidade e da ética como o mundo nunca conheceu, e de uma harmonia com a natureza, com os outros e com a inteligência divina como o mundo jamais sonhou." Dee Hock

A princípio, o enunciado acima que apresenta esta página sobre "Era Caórdica" pode manifestar um pensamento otimista em demasia, aparentando ao leitor uma visão futurista extremamente devaneadora. Uma premonição paradoxal face à incontestável falência institucional que tem marcado este fim de era industrial e que está nos empurrando para uma profunda crise socioambiental. Crise que atualmente assola a humanidade e que iniciou um processo de devastação ambiental em escala planetária. Estas são palavras de um dos mais originais pensadores da atualidade em matéria de administração, o fundador e CEO emérito da organização VISA, Dee Hock, cujas idéias desejaria disseminar entre aqueles que buscam alternativas para os atuais arranjos organizacionais, que procuram novos modelos de organização capazes de atender às necessidades que as sociedades contemporâneas exigem.

As instituições mecanicistas baseadas nas estruturas de comando e controle da era industrial dominaram durante quatro séculos o funcionamento das sociedades, determinando a vida econômica, social, cultural, política e demais áreas do conhecimento. Neste início de terceiro milênio, observamos um movimento crescente da diversidade e complexidade das sociedades em todo o mundo e parece estar brotando um consenso de que a atual estrutura hierarquizada de poder das organizações está bem próxima de atingir seu nível de saturação, onde não mais conseguirão cumprir seus objetivos e permanecerão crescendo, consumindo recursos, devastando o meio ambiente e limitando cada vez mais o ser humano. Segundo Dee Hock, as taxas de extermínio da vida na Terra adquiriram proporções calamitosas: a cada hora, 210 espécies desaparecem da face da Terra, 6.700 acres de florestas virgens são devastadas, três milhões de toneladas de solo arável são destruídos e, o maior agravante, 1.200 crianças morrem de fome. E estes são dados de 2001, quando ele fez esse alerta. Ou seja, mesmo com toda evolução científica e tecnológica, a racionalidade mecanicista da nossa sociedade está produzindo uma catástrofe coletiva sem precedentes.

Dee Hock, um visionário pragmático, defende com muita convicção que as organizações se baseiam em conceitos errôneos do século XVII, inadequados à solução dos problemas sistêmicos, sociais e ambientais, dos quais padecemos diariamente. Em suma, ele projeta um futuro para as organizações fundamentado em princípios caórdicos - organizações autogovernadas que combinariam de forma harmoniosa o caos e a ordem, a competição e a cooperação. Princípios lapidados ao longo de sua vida e postos em prática quando ele fundou a VISA Internacional, um dos maiores empreendimentos do setor de cartões de crédito do mundo, cuja estrutura transcende fronteiras, culturas e diferentes sistemas monetários. Uma corporação com poder descentralizado entre vinte e dois mil bancos-membros que conseguem ao mesmo tempo cooperar e competir entre si, atendendo cerca de setecentos milhões de clientes espelhados pelas mais diversas nações do planeta e cumprindo transações de mais de um trilhão de dólares anuais.

Por volta de 1960, Dee Hock iniciou uma surpreendente caminhada trabalhando na rede bancária americana em busca da descobertas de novos conceitos de organização e conseguiu por em prática, ao construir a rede VISA, as mudanças de paradigma que atualmente estão sendo ratificadas pela comunidade científica por meio das Teorias da Complexidade ou Nova Ciência. Assim, Dee Hock transcendeu a visão newtoniana e cartesiana que determinou o funcionamento da sociedade e suas organizações durante a era industrial. Caord, foi esta a palavra que Dee Hock criou para identificar o caráter complexo, adaptável e holístico do que seria o próximo período da humanidade. A origem deste vocábulo, a junção de ca de caos e ord de ordem, surgiu da necessidade de combinar em uma única palavra a essência da evolução e da natureza e que deve ser a essência das organizações.

Dee Hock, um homem de origem humilde, teve uma trajetória de vida marcada pelo desafio à natureza da administração e das organizações tradicionais, uma história de busca constante por uma nova ideologia de gestão. Procurou formular novos conceitos que desafiassem as crenças vigentes sobre comunidade, organizações, relacionamentos, liderança, informação, administração, comportamentos – uma busca por uma nova organização da sociedade em harmonia com o espírito humano e com a natureza.

Essencialmente, três intrigantes perguntas nortearam essa sua busca:

“Por que as instituições, em toda parte, sejam elas políticas, comerciais ou sociais, são cada vez mais incapazes de administrar as próprias questões?

Por que as pessoas, em toda parte, estão cada vez mais em conflito com as instituições de que fazem parte e alienadas delas?

Por que aumenta cada vez mais o desequilíbrio na sociedade e na biosfera?”

Foi com estas conflitantes questões que dominaram sua vida e com sua experiência de fundação da VISA Internacional que ele passou a vislumbrar o surgimento de uma nova era denominada Caórdica, onde as organizações do futuro seriam formadas em novas bases conceituais. Em síntese, estas novas organizações seriam criadas ou redesenhadas a partir da definição dos verdadeiros propósitos que justificam sua existência, determinados com a mais absoluta transparência e convicção. E a partir dos propósitos, as organizações passariam então a buscar os princípios, as pessoas e os conceitos necessários para desencadear um processo espontâneo capaz de liberar o espírito humano, o comprometimento e a engenhosidade das pessoas em sua plenitude.

"O desenvolvimento industrial global lançou as sementes do próprio fim ao gerar níveis de complexidade e índices de mudança que ultrapassam a inteligência das instituições da Era Industrial, que são suas herdeiras. Em todas as frentes, consequentemente, enfrentamos problemas para os quais as organizações dominantes, hierárquicas e autoritárias, são inadequadas. Como diz Dee Hock,
'Vivemos numa era de maciça falência institucional'."
Peter Senge

Veja mais: http://eracaordica.blogspot.com/

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