Líderes extravagantes tendem a ser mais lenientes com fraudes, mostra pesquisa
- Mercados
- 12/06/2012 06:12
Gustavo Kahil, de
São Paulo – O líder da empresa em que você investe costuma aparecer nas
páginas sociais dos jornais comandando festas glamorosas em iates ou
posando em fotos com os últimos modelos da Ferrari? Se a resposta for
sim, talvez isso seja um indicativo sobre o modo com que ele comanda os
projetos e os demais diretores da sua companhia, mostra um estudo
recente publicado por pesquisadores do Escritório Nacional de Pesquisas
Econômicas (NBER, na sigla em inglês).
O documento preparado por Robert Davidson (Universidade de Georgetown),
Aiyesha Dey (Universidade de Minnesota) e Abbie J. Smith (Chicago Booth
School of Business) descobriu que as empresas que possuem CEOs mais
gastadores em suas vidas pessoais são mais propensos a vivenciar fraudes
contábeis, republicações de relatórios financeiros e a entrar em
operações desastrosas.
“Nós examinamos como o comportamento dos executivos fora do ambiente de
trabalho, medida pela sua propriedade de bens de luxo (grau de
simplicidade baixo) e infrações à lei anteriores, está relacionada ao
risco de relatórios financeiros duvidosos”, dizem os pesquisadores em
“Executives ‘off-the-job’ behavior, corporate culture, and financial
reporting risk”.
Os problemas
O público acompanhado pelos pesquisadores foi formado por CEOs que
possuíssem um barco de aproximadamente 8 metros ou mais, um carro com
valor acima de 75 mil dólares ou um imóvel cujo preço fosse maior do que
duas vezes a média local. Esses executivos, rotulados de esbanjadores,
seriam mais dispostos a ter erros em relatórios ou outros problemas
financeiros em suas empresas.
Descobrimos que os CEOs esbanjadores têm uma supervisão mais frouxa
caracterizada por probabilidades relativamente altas de outros cometerem
fraudes e também erros não intencionais”, explicam. “As companhias
lideradas por CEOs esbanjadores estão significantemente mais propensas a
se engajar em grandes aquisições, investir menos no crescimento
orgânico de longo prazo, a operar ativos em lugares menos eficientes”,
ressaltam.
Não há evidências de que os executivos mais esbanjadores em suas vidas
pessoais tenham problemas legais em sua vida pessoal. Os problemas se
restringem às companhias lideradas por eles. Que digam os acionistas do
banco Cruzeiro do Sul,
que recentemente viram as suas ações derreterem após a descoberta de
uma fraude bilionária no balanço. Quando o banco completou 15 anos de
existência, em 2009, o banqueiro Luis Octavio da Costa contratou o cantor Elton John para um show exclusivo na Sala São Paulo.
Os acionistas da Berkshire Hathaway, por outro lado, conhecem bem o
resultado de um administrador cuja vida é levada de uma maneira mais
simples. Warren Buffett, o investidor bilionário e CEO da Berkshire, se
orgulha de ainda manter os laços com a cidade onde nasceu, a pequena
Omaha no estado americano de Nebraska. Ele ainda vive na casa que
comprou em 1958 no centro da cidade. Os pesquisadores tentam deixar
claro que os CEOs podem fazer o que quiserem com o próprio dinheiro, mas
que o estudo abre a porta para novas investigações acerca do tema.