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terça-feira, 16 de outubro de 2012

CONFLITOS DE PODER ENTRE PROFESSOR E ALUNOS

O artigo abaixo trata de um assunto que merece atenção. Pois o que está em jogo aqui é o perfil do profissional que deverá egressar da insituição. No caso, a qualidade de alunos agora, profissionais amanhã.
CONFLITOS DE PODER ENTRE PROFESSOR E ALUNOS



Um processo pode ser entendido como um conjunto de partes sequenciais e interdependentes, organizadas para produzir um determinado resultado. Depreende-se deste entendimento que a aprendizagem é, também, um processo no qual professor e aluno são partes vitais e o produto final é a formação da competência humana. Das relações, em sala de aula, entre aluno e professor podem advir várias dificuldades, entre as quais aquelas oriundas das relações de poder entre ambos. É neste contexto que sugerimos algumas estratégias para que estes conflitos de poder sejam minimizados.


Quando em sala de aula, o professor é dotado de liberdade tal que o tem levado, na maioria das vezes, a adotar uma postura ditatorial perante os alunos. Essa postura instrucionista tem encontrado amparo no fato de que o professor, na sala de aula, tem autonomia para determinar ações, selecionar o conteúdo e a metodologia de ensino, controlar o tempo, enfim, impor aos alunos aquilo que ele acha que é o correto e da maneira que ele quer.


Tal postura tem acarretado bastantes desvios no processo de aprendizagem, tirando dos alunos a motivação para participar das aulas, e, sobretudo, impossibilitando-lhes a formação da competência humana, traduzida no saber pensar, no aprender a aprender e na construção e reconstrução do conhecimento.


Considerando que o processo de aprendizagem deve ter como parceiros a incerteza e a dúvida, – logo, o professor não é o dono da verdade -, e que os alunos, ao lidarem com o conhecimento, devem assumir uma atitude inquieta, curiosa e questionadora, traçaremos algumas estratégias que minimizarão o conflito de poder entre o professor e o aluno, criando um ambiente propício à formação de cidadãos capazes de pensar, de aprender a aprender e de criar a própria história, individual e coletiva.


Para o sucesso das estratégias sugeridas, o professor precisa se despir de suas vestes ditatoriais e adotar um verdadeiro compromisso com a educação, enxergando o aluno como ponto de partida e de chegada, e o conhecimento como um instrumento de trabalho a ser manejado em conjunto com os alunos.


Neste cenário, o professor passará a ter funções de facilitador e de orientador no processo de construção e reconstrução do conhecimento. Superada esta fase, sugerimos três estratégias para a minimização dos conflitos de poder entre o professor e o aluno:

A primeira estratégia diz respeito à substituição da rigidez pela maleabilidade. A rigidez pode ser entendida como a adoção de práticas formais, a imposição de conteúdos cristalizados, o culto à “sabedoria” do professor e outras práticas inibidoras da criatividade e da inovação.


Já a maleabilidade possibilita uma maior interação com os alunos, faz-nos aceitar o erro como condição normal no processo de aprendizagem, permitindo-nos enxergar que não somos os donos da verdade. Dentro desta estratégia, devem ser propostos problemas como pontos de partida para as discussões. Tais problemas deverão propiciar o saber pensar, provocar a necessidade de busca da informação, com ênfase na manipulação (construção / reconstrução) do conhecimento.


Como segunda estratégia sugerimos a substituição do fechamento pela abertura. Um professor que, na sala de aula, considera-se um artista no palco,– só ele fala -, e que acha que seus alunos são meros ouvintes, torna-se tedioso e causa desmotivação. É como se vomitasse palavras que embrulham o estômago dos ouvintes.


O fechamento do professor em seu mundo causa uma barreira gigantesca entre ele e os seus alunos, impossibilitando-lhes a interação e a manipulação do conhecimento. Para a abertura, sugerimos a criação de condições que viabilizem posicionamentos críticos e possibilitem análises, questionamentos e a desconstrução da realidade (criatividade e inovação). Para que tal abertura seja implementada é imperioso que entendamos que o conhecimento é algo dinâmico, mutável, provisório e, portanto, passível de transformação em novos conhecimentos.


A terceira estratégia trata da substituição do olhar único pelo olhar plural. O olhar único do professor enxerga apenas a si mesmo, com seus conhecimentos cristalizados, suas mesmices e seu pretenso saber; é, portanto, um olhar míope. Já o olhar plural é bem mais abrangente.


Esse olhar faz com que o professor veja-se como alguém que tem uma maior experiência no trilhar os caminhos do saber, porém, tendo a função de orientar e facilitar o processo de aprendizagem; esse olhar faz o professor enxergar em seus alunos as características individuais, as múltiplas inteligências e a maneira como estas aflorarão à medida que forem desafiados a pensar, a problematizar e a buscar respostas próprias com argumentos fundamentados; esse olhar possibilita ao professor o estar atento às mudanças da sociedade, garantindo a substituição de velhos por novos paradigmas no processo de aprendizagem.


Para o alcance do olhar plural sugerimos o compartilhamento das nossas ações com os alunos, o trabalho em equipe, as interações tendo como alvo a cooperação, a firmeza e clareza na expressão de nossas ideologias e convicções, porém, conscientes de que será necessário mudá-las com o tempo.


Sendo, portanto, o objetivo do processo de aprendizagem a formação da competência humana, é de vital importância que os conflitos de poder entre professor e aluno sejam minimizados ao máximo. Do contrário, a competência humana, – a ser materializada na formação de cidadãos capazes de pensar, de aprender a aprender, de construir e reconstruir o conhecimento -, ficará comprometida.


Para que tal objetivo seja atingido, sugerimos como estratégias a substituição da rigidez pela maleabilidade; do fechamento, pela abertura; e do olhar único, pelo olhar plural. Da implementação das diversas ações propostas por tais estratégias obteremos o produto final do processo de aprendizagem:


A formação de cidadãos capazes de fazerem sua própria leitura da realidade, interpretando-a e modificando-a rumo ao bem-estar universal.


* Oséas Felício de Lima é Bacharel em Administração de Empresas, com Pós-Graduação em Gestão Empresarial (MBA) pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Instituição na qual também possui o Curso de Docência para o Exercício do Magistério Superior.


COMENTÁRIO:
Eu concordo com o autor em relação a existência desses conflitos, mas é importante, para o caso de uma IES que sejam considerados alguns pontos não tratados pelo mesmo sobre algumas dificuldades que, como professores, encontramos, e que, para isso, precisamos de uma consciência e muita colaboração dos alunos para que, juntos, possamos ultrapassar certas dificuldades e ainda assim obtermos êxito na colocação de, mais do que bons profissionais, pessoas melhores, que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida de todos.


A liberdade sobre o currículo que ele apregoa que não é tão livre assim, haja vista que as ementas, embora sejam uma orientação genérica, estabelecem um conteúdo mínimo que muitas vezes não cabe no tempo disponível e esse excesso de "conteudismo" é proveniente da cultura das etapas anteriores do ensino que acostumaram os alunos, desde o ensino fundamental e médio, a receber este conhecimento como um "prato feito", não os preparando para resolver problemas, mas memorizar quantidades enormes de informação sem que sejam estimulados a pensar e refletir sobre quaisquer questões, estimulando uma participação passiva do mesmo durante as aulas. Não fazem pesquisas próprias, não procuram verificar outras concepções além do que está sendo apresentado pelo professor.

As avaliações, ao invés de procurar avaliar a absorção e aplicação dos conceitos, através da reflexão e transferência dos mesmos a situações diferentes, construindo raciocínios e visões,  previlegia a memorização dos conteúdos, através de um sistema de perguntas e respostas gabaritado, seja em testes de múltipla escolha, ou mesmo de questões diretas e respostas que podem ser encontradas diretamente nos conteúdos visitados. Quando procuramos colocar problemas que dependem de internalização desses conceitos e aplicação em situações diferentes, ou que dependem de uma leitura de mundo, os alunos ficam inseguros e não conseguem compreender o que se pede, querem "mais estruturação". A vida não é estruturada!!

As dificuldades que os alunos universitários carregam vem desde o pré-escolar. A falta de ensino de artes (música, artes plásticas, poesia, literatura, teatro, dança e outras), tão fundamentais para a criação de visões e interpretação do mundo sob diferentes formas de comunicação, desenvolvendo a emotividade e ludicidade na visão da vida, e mesmo de habilidades como a de controle motor fino, como proporcionado pela cerâmica, música ou pintura, criam dificuldades que vão desde a caligrafia, onde se vê essa carência de controle motor, até a falta de hábito de seguir instruções básicas sobre procedimentos; ou a leitura de textos, onde não conseguem compreender o que lêem devido à total falta de conhecimento sobre a função e uso de pontuação, ou da prosodia, que é fundamental na poesia. A inibição diante dos colegas, nas apresentações, que poderia ter sido resolvida em aulas de teatro na escola, o mesmo para o trabalho em equipe proporcionado pelo canto coral, ou mesmo o teatro, e por aí vai.

Além disso a falta de contato com as artes, sejam eruditas/históricas ou populares diminui o repertório emocional e informacional dos alunos sobre o desenvolvimento humano criando uma visão materialista e pragmática do conhecimento. Culturalmente pobres, sem acesso a leituras e livros, desinformadas sobre o que acontece ao seu redor e no mundo, não conseguem ver as conexões entre o que acontece lá fora e sua vida particular.

Acho que devemos mudar muito em nossa prática de ensino, especialmente nas IES, mas precisamos também que os alunos se conscientizem dessas dificuldades que trazem do sistema de ensino e se proponham a ultrapassá-las. E não podemos também esquecer que os professores, muitos deles, também vieram deste mesmo sistema de ensino, com as mesmas dificuldades e estão repassando aquilo que viveram em seus tempos de estudo.
Desculpem ter me prolongado, mas o assunto é importante.

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