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domingo, 7 de abril de 2013

Estratégia: conceito sob ponto de vista de autores brasileiros

Em entrevistas concedidas por autores brasileiros proeminentes na área de estudos de estratégia, foram levantados dados a respeito do pensamento científico na área. O objetivo foi realizar um mapeamento do pensamento atual a respeito do conceito de estratégia junto a nomes de destaque na academia brasileira.


Cláudio Márcio, 26 de março de 2013

Eduardo Damião propõe um conceito abrangente de estratégia, composto por diversos elementos: objetos de longo prazo, propósitos,  metas, planos de ação e alocação de recursos. Sob seu ponto de vista, a articulação coerente e consistente entre estes elementos é imprescindível para a conquista de situação futura pretendida pela empresa. Neste sentido, a uma estratégia organizacional correspondem diversas ações estratégicas que contribuirão, de forma concorrente, para a concretização dos propósitos definidos previamente. Com relação à dicotomia determinismo versus indeterminismo ambiental,, Damião assume uma posição intermediária e critica a separação dos dois extremos. De acordo com ele, alguns fatores ambientais podem ser considerados como determinísticos, ou seja, afetam a organização "de fora para dentro". Entretanto, as escolhas estratégicas também dependem da interpretação interna que se faz do ambiente. Provavelmente, serão levadas em consideração as alternativas que foram vislumbradas pela organização, de acordo com sua capacidade de percepção, experiências anteriores e modelos mentais. Em resumo, o processo de decisão é a soma de componentes técnicos e políticos com a análise subjetiva e, ainda, com os estilos pessoais dos técnicos e políticos com a análise subjetiva e, ainda, com os estilos pessoais dos tomadores de decisão.

Questionado a respeito das tendências para o futuro do campo da estratégia, Damião cita a preocupação com medidas de desempenho das estratégias empresariais e a necessidade de novas pesquisas a respeito de: processo de implementação de estratégias; impacto de ferramentas de consultoria na estratégia organizacional; modelos mentais de estrategistas; racionalidade limitada e estratégia; aplicações de teoria institucional nos estudos de estratégia. Um estudo interessante recentemente na área de estratégia, de acordo com o pesquisador, foi uma dissertação de mestrado a respeito do processo decisório na CLAC Cooperativa Paranaense de Laticínios. Demonstrou-se, através da pesquisa, a importância da variável política no processo decisório, com pouca influência de importância da variável política no processo decisório, com pouca influência de fatores técnicos, sociais, entre outros. Damião citou também a relevância empírica dos estudos de Kaplan a respeito das barreiras ao processo de implantação estratégica, especialmente o impacto do Balance Scorecard (BSC). Percebeu-se, a partir da análise da evolução da obra de Kaplan, que o BSC exerce um impacto significativo na implementação de estratégias em empresas adotantes da ferramenta. Os principais grupos de pesquisa focados em ferramentas capazes de medir o desempenho organizacional estão localizados atualmente em Cambridge, Stanford e Harvard. Robert Simons, pesquisador desta última universidade, tem trabalhado em torno dos temas níveis de controle, processos de aprendizagem organizacional, modelos de análise não prescritivos e sistema de controle interativos.

Ainda com respeito às tendências para a área, o pesquisador alerta para a importância da aproximação entre fatores internos e externos – ambiente e organização – nos estudos de estratégia. Além disso, há uma tendência prática de descentralização das atividades anteriormente centralizadas em torno de equipes de planejamento estratégico em direção a todos os níveis de organização. Parece que esta é uma iniciativa emergente no sentido de desenvolver sistemas e estruturas organizacionais capazes de aproveitar a inteligência e o conhecimento coletivamente produzidos.

Outro pesquisador entrevistado, Bruno Fernandes, define estratégia como o "processo de análise, formulação e implantação de ações que direcionam a empresa a um futuro almejado". O processo pode ser deliberado ou semiconsciente, sem uma estratégia detalhada por trás, apenas uma visão abrangente. Da mesma forma; análise, formulação e implantação não são necessariamente sequenciais e desconexas. Ao contrário; são movimentos, de idas e vindas, que muitas vezes se sobrepõem". Com relação ao seu posicionamento em termos de abordagem de pesquisa, ele se desloca em um ponto entre dois extremos – determinismo e indeterminismo. Na sua opinião, não se pode argumentar em favor de um extremo e desprezar outro, pois são pontos de vista complementares. O autor acredita que o ambiente é determinante quando impõe algumas condições de funcionamento à organização, sendo que este fenômeno é mais facilmente observável em alguns setores do que em outros. O indeterminismo, ou voluntarismo, surge na medida em que algumas empresas reconfiguram suas próprias indústrias de tempos em tempos.

Para Sergio Bulgacov, "estratégias são decisões antecipadas que envolvem produtos, mercados e processos organizacionais, com a finalidade de obterem-se resultados socioeconômicos". Com relação à abordagem de investigação, o pesquisador se diz determinista ao mesmo tempo, considerando principalmente a tendência de absorção de ambas a concepções teóricas na pesquisa em geral. Entre suas preferências, encontra-se também o caráter multimétodo das investigações, em função da complexidade peculiar ao fenômeno estratégico.

Fernando Gimenez define estratégia como um "conjunto de decisões sobre atividades a serem desenvolvidas, incluindo a alocação de recursos e competências organizacionais no sentido de garantir a permanência da organização em um contexto mutável e a realização de sua missão". Seus estudos no campo da estratégia, em geral, focam a atenção no papel do estrategista e em suas possibilidades de ação face a um contexto ambiental dinâmico e mutável. Com relação às abordagens em estratégia, o autor prefere classificar-se como voluntarista, e aponta a evolução do campo em direção a um foco cada vez mais amplo dos conceitos relacionados à ideia de estratégia como uma elaboração cognitiva compartilhada entre os principais atores das organizações. A tendência de alinhamento entre o conceito de estratégia e a prática, na sua opinião, torna a apreensão do fenômeno extremeamente difícil sob o ponto de vista metodológico.

Outro pesquisador brasileiro na área de estratégia, Alexandre de Pádua Carrieri, afirma que a definição de estratégia ainda não está consolidada entre os investigadores da área. Em suas pesquisas, o autor se identifica predominantemente com as abordagens interpretativas, aquelas que buscam conferir significados em lugar de explicar causalmente os fenômenos organizacionais. Seu maior interesse está concentrado a abordagem sociológica, seja pela via interacionismo, seja fenometotologia, seja etnometodologia. Em sua opinião, é preciso superar a pressão pela busca de explicações causais e passar a um outro nível de compreensão e combinação das perspectivas de ambiente e estrutura. Da mesma forma, será possível conferir significado aos elementos constitutivos das investigações em estratégia.

Para Romeu Rossler Telma, por sua vez, estratégia é a "implementação de todo o contexto estabelecido da política empresarial – missão, visão, princípios – expressos por meio de objetivos. É a forma de implementação, o 'como' se implementam as coisas. Envolve alternativas estratégicas, que são avaliadas em um primeiro momento e depois são implementadas via processo estratégico". Em sua opinião, o ambiente é o responsável pela definição das estratégias empresariais, demonstrando uma tendência predominantemente determinista de abordagem. A exceção ocorre sob seu ponto de vista, no caso de organizações excepcionalmente influentes na sociedade, capazes de provocar mudanças estruturais mais amplas no ambiente externo e competitivo. Com relação às tendências para o futuro do campo da estratégia, o autor destaca as áreas de modelagem e simulação, visão sistêmica e tecnologia da informação. Conceitos desenvolvidos a partir dos anos 80 alcançaram suporte nas novas ferramentas computacionais, mais recentemente com os softwares PowerThink, Vensim, Stella, I.Think, sucessores do pioneiro Dínamo. Telma cita, ainda, a importância de autores como Peter Senge (organizações em aprendizagem) e John Sterman (simulação). O grande desafio dos modelos e simulações, diz o pesquisador, consiste na discussão em torno da possibilidade de "fechar" sistemas de modo a permitir que os cálculos sejam realizados.

Outras informações podem ser obtidas no livro "Administração estratégica- teoria e prática" de autoria de Sergio Bulgacov.

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