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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PIB NÃO É MEDIDA DE PROGRESSO E PROSPERIDADE

PIB NÃO É MEDIDA DE PROGRESSO E PROSPERIDADE

É necessário trocar a concepção de riqueza baseada na produção de mercadorias e no capital físico por uma compatível com o século XXI
Com um PIB que está devagar, quase parando, os deslocamentos urbanos na metrópole paulistana já são tão torturantes que desencadearam os protestos de junho que em seguida catalisaram muitos outros motivos de revolta, mas quase todos também diretamente relacionados a serviços públicos que tornam péssima a qualidade de vida da população.

Imagine, então, o que pode acontecer se o PIB voltar a deslanchar sem que, ao mesmo tempo, sejam encontradas soluções para o problema da mobilidade urbana e tantos outros que estão muito longe do tal "padrão Fifa".

Não é preciso dizer mais nada para que se constate algo muito simples, mas quase sempre ignorado ou esquecido pelos governantes, deputados e senadores: o PIB é uma adição dos valores acrescentados por bens e serviços vendidos e comprados, sem qualquer distinção entre os que são ou não benéficos para a sociedade. Despesas com a morosidade dos deslocamentos urbanos, acidentes, Poluição, contaminações tóxicas, criminalidade, etc., são consideradas tão relevantes quanto investimentos em habitação, educação, saúde ou transporte público. Nem sequer é computado trabalho doméstico que não seja feito por criadagem remunerada, por não envolver transações monetárias. Muito menos inclui depreciações de recursos naturais degradados por extração ou Poluição.

Enfim, como não faz distinções entre o que é produtivo ou destrutivo, ou entre despesas que elevem ou rebaixem a condição humana, o PIB só pode passar por medida de progresso e/ou prosperidade para quem nunca visitou sua cozinha. Claro, em sua defesa sempre poderá ser dito que não foi inventado para medir bem-estar ou qualidade de vida, mas tão somente para medir o crescimento do sistema econômico, meio sem o qual não se atinge tais fins.

Mas a armadilha não é desfeita, pois a ideia de riqueza que deu origem ao PIB foi excessivamente influenciada pela atmosfera da Segunda Guerra Mundial. Concepção que se tornou anacrônica, pois dá importância exclusiva à produção de mercadorias e ao capital físico. Por isso, o PIB per capita não é mais que uma aproximação extremamente precária da produtividade social. Só continua a reinar devido à fortíssima inércia institucional.

Tanta obsolescência não deixou de fazer emergir propostas inovadoras, que buscam impedir que a riqueza continue a ser medida por reles somatória de produtos mercantis. Todavia, por mais que tenham contornado dificuldades técnicas inerentes às rupturas conceituais assumidas, nenhuma dessas alternativas se mostrou suficientemente convincente ou persuasiva. Tanto é que o único outro indicador que conseguiu se legitimar, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), usa o PIB per capita para medir o nível de vida.

Ao mesmo tempo, foram ganhando alguma visibilidade índices divulgados por grandes organizações internacionais, dos quais o mais conhecido é com certeza a Pegada Ecológica, do WWF (World Wide Fund for Nature). E propostas desse tipo, que estão sendo chamadas de "indicadores socioambientais" poderão ter muito peso no debate já em curso na ONU sobre a Agenda Pós-2015, que deverá encontrar Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituam os atuais ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio).

Como o desfecho desse debate poderá ter imenso alcance histórico, é fundamental que o Brasil se prepare para ser protagonista. Por isso está em marcha o projeto "Caminhos para o Futuro que Queremos", fruto de uma parceria entre o CEBRI e a KAS (Centro Brasileiro de Relações Internacionais e Fundação Konrad Adenauer), que lançam um estudo sobre o tema na tarde desta quinta-feira, 22, no auditório do IREL (UnB), em Brasília.

O evento, que é aberto ao público, debaterá a necessidade de superar a concepção de riqueza baseada na produção de mercadorias e no capital físico e de criar uma narrativa de progresso mais compatível com o século XXI, centrada na qualidade de vida das pessoas e na sustentabilidade do Meio Ambiente.

JOSÉ ELI DA VEIGA/COLUNISTA CONVIDADO - Professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)

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